COLHEITA MALDITA (1984) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Acredito que Colheita Maldita seja o filme com maiores continuações de todas as adaptações de um conto ou romance de Stephen King. E não significa que isso seja positivo. O filme foi popular na TV, pois passava sempre no SBT, nos tempos que a programação televisiva (gratuita) era de fato incrível.
Baseado no conto “As Crianças do Milharal” da coletânea “Sombras da Noite” (Night Shift no original), primeira coletânea de contos lançada por Stephen King. Foi publicado pela primeira vez na edição de março de 1977 da Penthouse, e mais tarde na coleção de 1978. A história foi adaptada pela primeira vez em um curta-metragem de 1983, "Discípulos do Corvo".
Curiosamente, chegou aos cinemas no ano seguinte por um diretor diferente. Inclusive, numa das cenas do primeiro filme, em cima do carro de Burt e Vicky, podemos ver uma cópia do livro “Sombras da Noite". Na história original, os nomes de Isaac e Malachai eram William Renfrew e Craig Boardman, respectivamente…
O orçamento do primeiro filme foi de 800 mil dólares e nas bilheterias arrecadou cerca de 14 milhões. Seu sucesso tornou a obra cult, originando diversas continuações e um remake para TV.
Na trama do filme, a viagem de um médico com sua mulher é interrompida quando o casal encontra o corpo de um garoto na estrada. Eles tentam chamar a polícia e acabam em um vilarejo onde jovens adoradores de um culto macabro realizam sacrifícios humanos.
King habitualmente explora em suas obras, o bullying, fanatismo religioso e amizade entre um grupo de amigos. E "brinca" com esses temas em histórias, geralmente de horror. Colheita Maldita não foge a esta regra.
Roteiro de Stephen King, só que não.
Conforme o roteirista George Goldsmith, os executivos do estúdio o contrataram para escrever o filme após decidirem que o roteiro original de Stephen King era inutilizável, já que todo o primeiro ato não passava de Burt e Vicky discutindo no carro.
O rascunho de King continha mais histórias do personagem Isaac e sobre o culto, além de manter o terrível final original da história, onde Vicky é morta pelas crianças e Burt é morto por "Aquele que anda atrás das fileiras", que pune ainda as crianças por não matarem ele, diminuindo a idade de sacrifício de 19 para 18 anos. Goldsmith sentiu que King ainda não entendia a diferença entre escrever um romance e escrever um filme.
O orçamento do filme era originalmente de 1,3 milhão de dólares, segundo o diretor Fritz Kiersch, mas pouco antes do início das filmagens, Stephen King exigiu dinheiro adiantado, ameaçando não permitir o estúdio usar seu nome no marketing. Então foram obrigados a dar a King 500.000 dólares, reduzindo assim o orçamento para apenas 800.000 dólares.
Isso acabou levando a várias cenas sendo alteradas ou descartadas, já que a equipe não tinha mais dinheiro para pagar por elas. Kiersch acreditava que esta era a maneira de King se vingar de seu roteiro ter sido rejeitado. O curioso é que o filme se tornou um dos mais lucrativos baseados em seu trabalho.
John Franklin afirmou em uma entrevista que anos após o lançamento do filme ele estava com alguns amigos em um restaurante e uma mulher sentada na mesa ao lado o reconheceu como Isaac, o pregador infantil demoníaco. Ela literalmente gritou e saiu correndo do prédio antes de voltar e exigir que seu grupo fosse transferido para outra mesa.
E para finalizar, aquela piadinha "piscou perdeu": Quando a personagem de Linda Hamilton (Vicky) conhece a garotinha, ela pergunta o nome dela e a garota diz que se chama Sarah. O personagem de Hamilton diz: "esse é um nome lindo! " Esse era o nome do personagem de Hamilton na saga "O Exterminador do Futuro", Sarah Connor.
Interessante notar que este é a primeira adaptação de uma obra do mestre Stephen King estrelada por atores do filme O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991): Colheita Maldita, com a já citada Linda Hamilton, O Cemitério Maldito II (1992) com Edward Furlong, que foi John Connor em T2. Arnold Schwarzenegger estrelou O Sobrevivente (1987) e finalmente Joe Morton atuou em O Aprendiz (1998).
Parece que, finalmente, o multiverso kinginiano se expandiu.