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CONTA COMIGO (1986) - FILM REVIEW


Conte comigo.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


É difícil explicar o poder de um filme. Quantificar a força de uma obra ao assisti-la aleatoriamente e seu efeito através do tempo parece impossível. É simplesmente uma história que precisa ser vivida e um dia, ao olharmos para trás, identificar o que se perdeu pelo caminho e o que permaneceu. 

Eu vivi numa época em que Sessão da tarde não era sinônima de clássico. Stephen King estava ainda no caminho inicial de ser o rei das adaptações para o cinema ou televisão. Mas hoje, Conta comigo, baseado no conto de King, é um clássico da Sessão da tarde, considerado um dos filmes mais adorados de todos os tempos. E ele é incrivelmente simples.

Na trama, Gordie Lachance (Richard Dreyfuss) recorda quando tinha entre doze e treze anos no verão de 1959 e vivia em Castle Rock, Oregon, uma localidade com 1281 habitantes. Gordie tinha três amigos inseparáveis: Chris Chambers (River Phoenix), Teddy Duchamp (Corey Feldman) e Vern Tessio (Jerry O'Connell). 

Chris era o líder natural, Teddy era emocionalmente perturbado e, se Gordie era o intelectual do grupo, Vern era o mais infantil. Um dia, Vern ouviu por acaso, Billy Tessio (Casey Siemaszko) e Charlie Hogan (Gary Riley) comentando sobre o corpo de Ray Brower - garoto da idade deles que havia desaparecido. Cada um deu uma desculpa em casa e partiram para tentar encontrar o corpo. Nenhum deles imaginava que esta viagem se transformaria em uma jornada de autodescoberta que os marcaria para sempre.

When the night has come

And the land is dark

And the moon

Is the only light we'll see...

Talvez, um dos grandes pontos a favor do filme é fácil identificação. Não que seja comum vômito coletivo ou sanguessugas pelo corpo, mas o sentimento que permeia o filme é tão genuíno que você sente que viveu situações assim. Eu, particularmente tenho uma história com o filme que foi definitiva na minha vida. No ano em que prestei o vestibular, havia a prova de redação, que era o pesadelo de muitos. Durante o pré-vestibular, nós praticávamos em simulados, que era totalmente voltado para a dissertação. Eu, para variar, era do contra e fiz narração, ao qual consistia em criar uma história: com princípio, meio e fim, nos moldes que o vestibular pedia. 

Acontece que o tema da narração do vestibular era sobre uma história que teria acontecido na infância envolvendo amigos e alguma aventura envolvida. Não pensei duas vezes: incorporei toda a trama de Conta comigo e tirei nota máxima. Fora isto, já passei por situações que guardam semelhanças com o filme como bullying, amizade real entre amigos, também vi um corpo, passei debaixo de um trem em movimento (no filme a dinâmica com o trem era diferente), corri de um cachorro que parecia feroz, (e era maior que o "Bocarra" do filme) além de ter feito quase uma viagem andando pelos trilhos do trem.

...No, I won't be afraid

Oh, I won't be afraid

Just as long as you stand

Stand by me.

Como dito, o filme é baseado no conto de Stephen King chamado "O outono da inocência - O Corpo" (The Body). River Phoenix fez teste para Gordie Lachance, mas o diretor Rob Reiner achou que ele renderia mais como Chris Chambers. Curiosamente, o ator, como no filme, faleceu precocemente, ainda que em circunstâncias sem a menor relação (esfaqueado quando separava uma briga no filme enquanto na realidade, ele faleceu de overdose).

Depois que o diretor Rob Reiner exibiu o filme para Stephen King, ele notou que King estava visivelmente tremendo e não estava falando muito. Ele saiu da sala e, ao retornar, disse a Reiner que o filme era a melhor adaptação de seu trabalho que ele já havia visto. 

Na cena da fogueira em que Chris desmaia, Rob Reiner tinha certeza de que River Phoenix poderia fazer melhor. Ele pediu que ele pensasse em um momento em sua própria vida em que um adulto o decepcionou e o usou na cena, o que Phoenix fez. Chateado e chorando, ele teve que ser consolado pelo diretor depois. O resultado do exercício de Phoenix é a cena que acabou no corte final.

A lagoa em que os meninos caem era uma piscina artificial pois a equipe queria que eles estivessem "seguros e protegidos" e não queria colocá-los em uma lagoa real, dado que não sabiam o que haveria nela. No entanto, Corey Feldman afirmou em uma entrevista que a piada da coisa toda era que a piscina foi construída, enterrada e cheia de água no início de junho e quando chegaram a filmar a cena, era no final de agosto. Então, ele estava na floresta há três meses e eles não sabiam o que havia nela.

Por insistência do diretor Rob Reiner (um ávido não fumante que fez campanha por leis antifumo na Califórnia), os cigarros fumados pelos meninos eram feitos de folhas de alface. A Coca-Cola comprou a Embassy Pictures, a produtora original do filme, e anunciou que não financiaria o filme apenas dois dias antes do início da produção. Norman Lear, que trabalhou durante anos com Rob Reiner em Tudo em família (1971), foi um dos três proprietários da Embassy antes de sua venda. Ele acreditava no projeto o suficiente para concordar em arcar pessoalmente com o orçamento de US$ 8 milhões do filme.

Enquanto filmava a cena em que Ace Merrill e Eyeball Chambers pegam o boné dos Yankees do irmão de Gordie, o primeiro instinto de Kiefer Sutherland foi colocá-lo. em vez de entregá-lo a Eyeball Chambers. Rob Reiner disse a Sutherland para não colocar o boné como uma forma de mostrar que Ace o estava roubando apenas para ser cruel com Gordie e não porque o chapéu em si era importante para Ace. Sutherland e Wil Wheaton confirmam no documentário dos bastidores do DVD, que a razão pela qual Gordie nunca recupera o chapéu de Ace é que Ace o jogou fora imediatamente após roubá-lo de Gordie.

O personagem Ray Brower (o cadáver) aparece vivo e bem durante a cena do concurso de comer torta "Lardass". Ele pode ser visto de pé atrás dos gêmeos, em torno de 46 min. Um fato bem curioso, que dá veracidade à fantástica história. Já a atriz retratada na capa de uma revista de filmes vintage é Elizabeth McGovern, que na época estava noiva de Rob Reiner .

Rob Reiner desenvolveu uma boa relação de trabalho com Stephen King depois deste filme, tanto que King só concordou em vender os direitos de Louca Obsessão (1990) se Reiner dirigisse o filme. A produtora de Reiner, Castle Rock Entertainment, também passou a produzir várias outras adaptações das histórias de King. Além disso, John Cusack apareceu no filme 1408 (2007), e o pai de Kiefer Sutherland , Donald Sutherland, apareceu em A Mansão Marsten (2004).

O filme foi lançado nos cinemas em 22 de agosto de 1986, um dia antes do aniversário de 16 anos de River Phoenix  e uma semana depois da estreia de A Mosca (1986) e o ultrapassou do primeiro lugar nas bilheterias. O filme anterior de David Cronenberg, Na Hora da Zona Morta (1983), também foi ambientado em Castle Rock e é uma adaptação de Stephen King.

Conta comigo é sobre amadurecimento e amizade. Mas além destes temas relevantes, a trama mostra a obsessão de Gordie vinda da relação entre a morte do irmão e corpo que eles pretendem encontrar. Como resultado, ele encontraria paz após velar o corpo do irmão (algo que ele faz literalmente ao encontrar o corpo do garoto). Tanto que o fim da jornada, ou seja, encontro do corpo e ganho de algum dinheiro dando à polícia a localização do corpo, se perde completamente ao encontrá-lo, porque a motivação de Gordie era vencer o luto.

E para completar esta jornada, ele precisava de amigos para contar.

Mas afinal, quem não precisa? 


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