CUJO (1983) - FILM REVIEW
Cujo.
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
É inegável que certas obras escritas por Stephen King tem o único propósito de criar um breve momento de tensão, não havendo grandes subtextos. Cujo inclusive foi escrito no auge do abuso de drogas e álcool do autor. Ou seja, até sua clareza foi eventualmente afetada.
Mas quem escreve sobre filmes, costuma fazer análises tão pertinentes que até o próprio autor reconhece como sendo verossímil, ainda que no momento da escrita, ele não traçou tal profundidade.
Por isso, é justo dizer que Cujo espreme o tema até o bagaço para entregar agonia e tensão, e consegue, com louvor, ser um filme de "monstro" memorável dos anos 80 e um dos melhores ligados ao mestre King.
Monstro do ponto de vista da mãe e da criança, mas o fato é que o cão foi apenas mordido por um morcego (vampiro?), pegou raiva e atacou quem estava perto. Aliás, na trama do filme, enquanto Donna, vivida por Dee Wallace, de Grito de Horror (1981) e E.T.: O Extraterrestre (1982) e Vic Trenton, interpretado pelo ator Danoel Hugh-Kelly, de Perigo na Noite (1987) e Jornada nas Estrelas: Insurreição (1998) vivem momentos tensos em um casamento já falido devido ao caso extra-conjugal dela, seu filho, Tad (Danny Pintauro, de Manipuladores do Tempo) se diverte com o adorável são-bernardo, que pertence a um mecânico.
Mas eles não imaginam que uma mordida de morcego transformou Cujo em um cruel assassino. Com Vic viajando a trabalho, um problema com o carro leva Donna e Tad a viverem um pesadelo - emboscados pelo demoníaco e implacável cachorro.
Stephen King cria personagens complexos, com dramas familiares e internos. As ameaças externas entram por essas rachaduras no próprio caráter. Ele sempre valoriza a emoção humana, deixando o elemento de terror atuar como uma ferramenta que levará seus personagens ao extremo de suas forças e sentimentos.
Food of the Gods
Homem vs Natureza é um tema de bastante interesse geral. Ainda mais hoje, que a irresponsabilidade do ser humano está levando a condições climáticas catastróficas. Aos poucos, percebemos com algumas obras de ficção, como as de H.G. Wells, deixaram de ser ficção, já que estamos lentamente caminhando para os piores momentos dos seus livros.
E pensar em Cujo como uma ponta do iceberg, soa estranho, mas é mais representativo do que uma primeira avaliação. Cujo não só representa a natureza na totalidade, mas mostra que ela é implacável, não fazendo acepção de pessoas.
Produção:
O filme foi dirigido por Lewis Teague de Olhos de Gato (1985) e A Jóia do Nilo (1985), que conseguiu, apesar do baixo orçamento, fazer um filme realista por essência, extraindo o máximo de atuação de Dee Wallace e de Danny Pintauro.
O diretor original contratado foi Peter Medak (de A Experiência 2 - A Mutação), que deixou o projeto dois dias após o início das filmagens, com Anthony B. Richmond (diretor de fotografia). Eles foram substituídos por Lewis Teague e Jan de Bont (que anos depois dirigiria os sucessos Velocidade Máxima e Twister), respectivamente.
Cujo foi interpretado por quatro são-bernardos, vários cães mecânicos e uma mistura de Labrador-Dogue Alemão preto em uma fantasia de São Bernardo. Os cães apresentados no filme costumavam ter o rabo amarrado às pernas porque se divertiam tanto que abanavam o rabo durante as filmagens. Essa tática usada não funcionou 100%, já que em uma cena em que Cujo está pronto para atacar o mecânico, seu rabo abana freneticamente.
Para fazer os são-bernardos atacarem o carro, os treinadores de animais colocaram os brinquedos preferidos de cada cachorro dentro do carro para que eles tentassem pegá-los. A espuma ao redor da boca de Cujo era feita de uma mistura de clara de ovo e açúcar. Os cachorros causaram problemas no set por lamberem constantemente a saborosa mistura.
Danny Pintauro realmente mordeu os dedos de Dee Wallace durante suas cenas de convulsão. As reações de Dee na cena foram bem reais. Ele tinha apenas seis anos na época do filme e ainda não havia aprendido a ler. Muitas vezes ele tinha que memorizar suas falas do roteiro com a ajuda de sua mãe, que estava sempre por perto no local.
Zona morta e o multiverso de Stephen King.
O romance original foi uma espécie de sequência de A Hora da Zona Morta. Desde que Frank Dodd morreu (o assassino que se mata na banheira), ele se tornou uma espécie de bicho-papão em Castle Rock e assombrava o garoto Tad. Dodd foi o dono de Cujo.
O xerife George Bannerman, interpretado por Sandy Ward aqui, faz referências específicas a Johnny Smith (o vidente) no livro. Em Na Hora da Zona Morta (1983), ele foi interpretado por Tom Skerritt. Tanto este filme quanto Na Hora da Zona Morta (1983), foram desenvolvidos na mesma época, sendo que este foi lançado dois meses antes - por estúdios diferentes - então as referências foram retiradas do filme.
A morte do xerife Bannerman é a razão pela qual Castle Rock tem um novo xerife em filmes e programas subsequentes. O novo xerife, Alan Pangborn, aparece em A Metade Negra (1993) (interpretado por Michael Rooker), Trocas Macabras (1993) (interpretado por Ed Harris) e na série de televisão por streaming Castle Rock (interpretada por Scott Glenn).
No romance original de Stephen King, Tad Trenton morre de desidratação enquanto Donna contrai raiva em sua luta com Cujo. King inclusive, se arrependeu da decisão de matar o garoto.
Para finalizar, uma pergunta que todo mundo se faz: de onde vem o nome Cujo? Stephen King nomeou o cachorro com o codinome de William Lawton Wolf, um dos fundadores do Exército Simbionês de Libertação. O codinome de Wolf era, na verdade, escrito "Kahjoh", que foi divulgado erroneamente pela mídia como "Cujo".