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ECLIPSE TOTAL (1995) - FILM REVIEW


Dolores Claiborne.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Um dos temas mais recorrentes na obra de Stephen King é o abuso. E violência doméstica é um padrão de comportamento que envolve violência ou algum outro tipo de abuso por parte de uma pessoa contra outra num contexto doméstico, como um casamento (tratado no livro e no filme). 

Dolores Claiborne é um livro de suspense psicológico, escrito de forma direta, sem divisão em capítulos, portanto, em que a personagem título presta o seu depoimento sobre a morte da sua patroa Vera Donovan; bem diferente do tratamento dado pelo roteirista do filme, até para dar uma dinâmica maior à história.

O livro é contado em primeira pessoa e mostra um perfil bem interessante de uma senhora de classe média baixa vivendo os problemas familiares bem comuns em cidades pequenas, no caso: a cidade de Little Tall. Ao prestar o seu depoimento sobre a morte de Vera, Dolores acaba por contar sobre outro fato de sua vida, cuja veracidade já era colocada sob suspeita pelos demais cidadãos do local. 


O seu depoimento também faz um painel da mentalidade e cultura das pessoas da pequena cidade, bem como revela o que acontecia entre Dolores e seu marido, em relação a situações de machismo e abuso, além de outras ocorrências envolvendo os seus filhos, o que muitas vezes é mascarado pela sociedade.

Na história do filme, Dolores é acusada do assassinato de sua patroa. O filme vai lentamente, mostrando seu passado, quando sofria abusos do marido (David Strathairn), que morre num dado momento, sendo ela responsabilizada socialmente (e inocentada criminalmente, já que a morte do marido foi considerada acidente). Aos poucos, o passado vai se aproximando do presente, mostrando para o telespectador características de cada personagem de forma que entenda suas atitudes, depois de um pré-julgamento feito por todos, inclusive por nós, telespectadores. 

eclipse-total-1995-film-review
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A produção é riquíssima, trabalhando diversas linhas narrativas. Dolores ( Kathy Bates ) sofre com violência doméstica e ainda suspeita que a filha sofra abusos do pai; A morte do marido provoca um julgamento social, sofrido principalmente pela filha (Ellen Muth), que não sabe lidar com o bullying dos amigos e atenta contra sua própria vida; Dolores também sofre com uma relação abusiva com a patroa, que a humilha em diversos momentos, tratando-a como escrava; O policial (Plummer) persegue Dolores, fazendo uma espécie de "vingador masculino", personagem machista que não demonstra qualquer sensibilidade aos dramas na vida dela; Jennifer Jason Leigh (a filha, já adulta) tem problemas emocionais graves e se viciou como forma de escape da realidade. Enfim, um filme denso, daqueles que grandes interpretações fazem você grudar na cadeira.

Às vezes, Dolores ... às vezes, você tem que ser uma vaca para sobreviver. Às vezes, ser uma vaca é tudo que uma mulher tem para se agarrar.

Há uma brilhante cena (veja nos frames capturados) em que Dolores quebra um vidro. Seu reflexo é visto de forma nítida, mostrando a desconstrução do personagem. 

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Incrível como um filme como Eclipse Total, feito há 24 anos, é tão atual e necessário. Não à toa, é o papel favorito de Kathy Bates no cinema. O autor Stephen King escreveu o personagem de Dolores já com Kathy Bates em mente. Ela impressionou o autor após sua assombrosa interpretação em Louca Obsessão (1990). A atriz é tão boa, que consegue até mesmo nos manipular, dando entender em alguns momentos que estamos diante de uma nova Annie Wilkes (personagem de Bates em Louca Obsessão).

Curioso é que se você assistir todos os filmes baseados em suas obras em sequência, vai descobrir easter eggs de que quase toda produção é situada num mesmo universo. Como durante a cena de luta entre Joe e Dolores, ela o ameaça dizendo que ele precisa ir para a prisão de Shawshank (de Um sonho de Liberdade e a série Castle Rock). O próprio ator que faz o diretor do presídio está no filme. A placa do carro de Jennifer Jason Leigh assim como a correspondência que ela pega na porta, são do Maine, cidade comum nas obras de King. 

Há um notável uso de cores no filme. O diretor de fotografia (Gabriel Beristain, que recentemente trabalhou em vários filmes da Marvel) faz uso de cores frias para enfatizar a relação da mãe com a filha. Em contraste, o dia do Eclipse Total parece, na verdade, um banho de sangue nos céus.

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O roteiro é de Tony Gilroy, que mais tarde dirigiu filmes como "Conduta de Risco ", "Duplicidade" e "Legado Bourne" . Ele foi roteirista de sucessos como a trilogia Bourne, Advogado do Diabo e Rogue One: Uma História Star Wars.  Claro que há diferenças do livro para o filme, mas elas acrescentam à trama, como a versão adulta de Selena, que é apenas referida no romance. Sabemos que ela existe e sabemos que ela está distante de Dolores, mas ela não entra na narrativa. Outro exemplo é o personagem do detetive, que não existe no romance. Há um médico legista que duvida da história de Dolores e a questiona intensamente, mas ele não entra de forma alguma na investigação da morte de Vera Donovan.

Pelo que Dolores passou, não seria nada de mais se ela enfrentasse tudo isto e fosse viver numa cabana isolada e não fazer mais nada a não ser fã de um tal Paul Sheldon...



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