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METADE NEGRA (1993) - FILM REVIEW


Metade negra.

Introdução: Thais A.F. Melo

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo

Introdução

Conhecido como Dupla personalidade, o TDI (transtorno dissociativo de personalidade) foi muitas vezes retratado em livros e no próprio cinema. Temos, por exemplo, o filme Fragmentado de M. Night Shyamalan; Psicose de  Alfred Hitchcock, e até mesmo o livro O Médico e o Monstro de  Robert Louis Stevenson, este último muitas vezes adaptado para o cinema. O que todos estas obras têm em comum? Nelas todas, os personagens principais apresentam as características e sintomas pertinentes ao TDI.

Os filmes frequentemente não são muito eficazes em retratar o sofrimento ou/e até mesmo as causas aos quais as pessoas passaram e que geralmente resultam no transtorno. Por que geralmente? A grande maioria dos indivíduos com TDI passou por algum trauma, estresse, abuso, tragédia, entre outros na infância. 

O transtorno se caracteriza com o indivíduo apresentando duas ou mais personalidades que se alternam no controle. Muitos são os sintomas, como falhas de memória de eventos cotidianos e/ou traumáticos e até mesmo, ouvir vozes. As personalidades podem ser de ambos os sexos e de qualquer idade; sendo um mecanismo de defesa a fim de lidar, fugir ou suportar algum acontecimento, ou situação traumatizante. 

A personalidade do indivíduo se fragmenta, ocorrendo a dissociação e gerando um novo alter - este alter, é formado com as características necessárias diante da situação ao qual a personalidade original não consegue lidar. As outras personalidades têm sentimentos, comportamentos, pensamentos e ações diferentes umas das outras. O que pode se observar nos indivíduos com tal transtorno é que, as identidades geralmente possuem características que a personalidade original não possui -, e que necessitaria para conseguir encarar sentimentos e situações.

A face oculta

O filme conta a história do escritor Thad Beaumont (Timothy Hutton). Apesar de ter seu livro elogiado pela crítica, Beaumont não é um sucesso em vendas. Entretanto, os livros em que escreve com o pseudônimo de George Stark são sucesso de vendas. Após ser chantageado por um estudante de direito que ameaça revelar esse fato, Beaumont resolve comunicar oficialmente a imprensa de que ele escrevia com o pseudônimo e "matar" George Stark, encerrando sua carreira. O problema é que George Stark (Timothy Hutton) se torna uma pessoa de verdade e começa a perseguir Beaumont.

Stephen King é um escritor que gosta de trabalhar em suas histórias as nuances da escrita. Como Louca Obsessão, em que a discordância do final de uma obra, faz uma fã tornar a vida do autor um inferno. Em Metade Negra, ele trabalha em cima do pseudônimo, uma identidade "paralela" à real que dá força ao escritor para se libertar de mundos e formas que ele mesmo criou. 

Extrapolando o filme (e o próprio King), o pseudônimo mais conhecido na indústria cinematográfica é Alan Smithee, usado por realizadores que pretendiam renegar um determinado filme como obra sua. Alan Smithee é um anagrama de “The Alias Men” (em português, “Homem Apelido”). Ele foi  oficialmente criado em 1968. Ou seja, Alan Smithee tem até filmografia e com muitos filmes conhecidos.

O que nos leva a Metade Negra, de George Romero, o pai dos zumbis no cinema, diretor de Noite dos Mortos Vivos. E não me parece coincidência que o diretor tenha sido escolhido, pois o momento em que o "pseudônimo" ganha vida sucede à cena do "enterro" do mesmo, ou seja, Romero foi escolhido para trazer a metade negra do autor a vida. 

"Metade Negra" foi o último romance que Stephen King escreveu antes de ficar completamente sóbrio. Seu vício e seu desejo de ficar lúcido se refletem no tema do livro, que é dupla personalidade.

O fim de uma era, e o quase fim do filme.

A pior situação para um filme é o estúdio que produz ter problemas financeiros. E no ano que Metade Negra ficou pronto, 1991, o CEO da Orion Pictures tentou vender a empresa para evitar a falência, porém sem sucesso. Ele então tomou medidas drásticas. Primeiro, a Orion encerrou a produção. Em seguida, ordenou a venda de vários projetos.

A falência da Orion também atrasou o lançamento de muitos filmes que o estúdio havia produzido ou adquirido, entre eles RoboCop 3, Chamando Carro 54, Clifford, Um Favor Indecente, Os Últimos Dias do Paraíso e claro, Metade Negra. Somente em 1993 e 1994 que os filmes foram finalmente lançados.

Multiverso kinginiano

Os personagens do xerife Alan Pangborn e do deputado Norris Ridgewick apareceram no final do mesmo ano em Trocas Macabras (1993), interpretados por Ed Harris e Ray McKinnon, respectivamente. Harris é o marido de Amy Madigan na vida real. O xerife Alan Pangborn foi interpretado por Michael Rooker.

E no final, quando Thad bate em George com uma máquina de escrever, é uma referência a Louca Obsessão (1990), em que o personagem do escritor faz o mesmo com a fã psicopata.

Mas voltando ao filme e aos pardais.

Por que George Stark não vê os pardais?

Por ser um ser fictício criado por Thad Beaumont, George Stark não tem a capacidade de perceber ou ver nada no mundo físico. Os pardais são usados ​​como um símbolo do mal que George Stark representa, e a luta de Thad para se separar desse mal. Os Pardais são arautos da morte, um canal para as almas que partem. E o primeiro momento em que aparecem é justamente quando os médicos identificam o gêmeo. 

Ele é um parasita sobrenatural que se alimenta da vida de seu gêmeo. Ele nunca deveria ter existido. Mas a vontade de Thad era forte o suficiente para trazê-lo à existência. Então, ele não segue as mesmas regras do resto da realidade. Ele é um teratoma que começou a crescer no cérebro de Beaumont quando ele o absorveu no útero, o que significa que eles são tecnicamente irmãos gêmeos. 

E por que ele apodrece?

Ele é um ser sobrenatural com uma vontade forte o suficiente para se forçar a se tornar real. Mas, ao fazer isso, ele se tornou um ser de carne e osso. E se tornando mortal, ele não tinha uma vida natural própria e conforme o tempo passa, ele começa a se deteriorar.

Metade Negra é no final das contas, uma ficção que se baseia no fato de que todos nós temos uma metade boa e outra ruim. E a metade que vai perecer será a que não alimentarmos.  

 

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