O APRENDIZ (1998) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
O filme "O aprendiz" é sobre dualidade. O filme nos mostra que somos confrontados com dois caminhos na vida. Como na filosofia chinesa, onde yin e yang são duas energias opostas. Yin significa escuridão sendo representado pelo lado pintado de preto, e yang é a claridade. Todos nós tempos dois lados, e seguir um deles como prioridade depende de muitos fatores. Internos e externos.
Para um aplicado estudante de dezesseis anos, reconhecer um nazista em um idoso que mora na sua cidade é seguir o Yin. O garoto o obriga a revelar segredos do passado sobre o campo de concentração e ganhar o silêncio do rapaz. Um jogo psicológico começa a partir do momento em que os lados negros de cada um, despertam.
A jornada do personagem de Renfro é de autoconhecimento. Talvez por ser um adolescente problemático (pleonasmo?), esta jornada ganha contornos extremos, pois a autodescoberta o leva a confrontar com o passado esquecido do Nazista, ao mesmo tempo, em que o personagem de Ian expõe seu monstro interior que havia sido guardado numa caixinha e jogado num sótão.
Tome cuidado garoto, você está brincando com fogo.
Kurt Dussander
A cena em que ele coloca o uniforme nazista serve de gatilho para ambos. Kurt (Ian McKellen) tenta, sem sucesso, colocar um gato no forno. Já Todd Bowden (Brad Renfro) vê uma pomba ferida e a esmaga com uma bola de basquete. São momentos com muitas representações. Todd continua jogar basquete, mesmo com o sangue da pomba na bola, sem o menor remorso. Na cena, ele se sente com o poder da vida, quase com uma superioridade divina, capaz de dar a vida ou tirar, mesmo diante de um ser frágil. E esta sequência é o espelho do passado nazista de Kurt.
Assim como, o fato de ambos tentarem contra a vida de um ser, e só um conseguir resultado, mostra como os dois personagens estão em momentos diferentes: um viveu o auge, enquanto o outro entrará nele. Mas se a maldade é latente em ambos, há uma diferença capital entre eles: um tenta, sem sucesso, ser manipulador, mas como é jovem e inexperiente, suas tentativas são mais frutos da arrogância adolescente que sabedoria. Enquanto o nazista, um manipulador nato, entra no jogo do garoto e mostra quem dá as cartas.
O filme é baseado em uma coleção de 4 contos do mestre Stephen King chamado "Quatro Estações", que também inclui "The Breathing Method", que não foi adaptado ainda, "The Body", que se tornou Conta Comigo (1986), e "Rita Hayworth e Shawshank Redemption", que se tornou Um Sonho de Liberdade (1994).
Brad Renfro tinha apenas quatorze anos na época das filmagens. Houve conversas sobre uma versão para o cinema em 1984 (ano da história). James Mason concordou em interpretar Kurt, mas morreu de um ataque cardíaco antes que as filmagens pudessem começar. Richard Burton foi considerado seu substituto, mas morreu de hemorragia cerebral antes de pegar o papel.
A primeira tentativa real de filmar esta história em 1987 ultrapassou o orçamento e foi interrompida após seis semanas de filmagem, enquanto restavam apenas dez dias de filmagem. De acordo com Stephen King, que viu um corte bruto de três quartos do filme, "foi muito bom". Na versão tinha Ricky Schroder como Todd Bowden e Nicol Williamson como Kurt Dussander, e foi dirigido por Alan Bridges.
Ian McKellen admitiu que ficou surpreso ao ser convidado para interpretar Kurt Dussander, de 75 anos, já que ele tinha apenas 57 na época das filmagens. Em uma entrevista na época em que este filme foi lançado, ele disse "Eu não gostei do meu personagem. Ele não parecia muito profundo.
Ele apenas parecia ser um representante do mal." Na realidade, talvez seja o único problema do filme: não ser longo. Não estraga em nada a diversão e a sensação que assistiu um ótimo entretenimento. Porém, como acontece na obra-prima "Os intocáveis" de Brian de Palma, nós saímos da sessão com aquele gostinho.
Nem tudo são flores...
Um extra de 14 anos entrou com um processo alegando que ele foi obrigado a se despir para a cena do chuveiro (embora ele se recusasse a fazê-lo). Dois outros meninos, um de 17 e um de 16, fizeram afirmações semelhantes; um dos meninos afirmou ter cumprido a orientação de se despir, mas não se sentiu à vontade para fazê-lo.
Alegando terem ficado traumatizados com a experiência, os meninos pleitearam indenização dos cineastas com base em alegações de imposição de sofrimento emocional, negligência e invasão de privacidade. Uma força-tarefa de crimes sexuais que incluía funcionários locais, estaduais e federais investigou o incidente. Enquanto algumas fontes afirmam que o processo civil foi arquivado devido a evidências insuficientes, outras indicam que foi resolvido fora do tribunal.
Para quem não sabe, o diretor é Bryan Singer. Em 2003, Singer foi acusado de estupro por um adolescente chamado Cesar Sanches Guzma durante uma festa, Singer nega que isso tenha ocorrido, o inquérito foi encerrado em 2019 por meio de uma negociação feita pelos advogados das partes. Em abril de 2014, Singer foi acusado em um processo civil por agressão sexual menor de idade.
Segundo a ação movida pelo advogado Jeff Herman, Singer teria drogado e estuprado o ator e modelo Michael Egan no Havaí após conhecê-lo em festas organizadas pelo criminoso sexual condenado Marc Collins-Rector no final dos anos 1990.
A verdade é que as festas sexuais com menores de idade patrocinadas por Singer eram famosas, mas numa época, midiaticamente impotente. Hoje uma denúncia implica num alcance gigantesco. Tanto que nesta turbulenta fase para os abusadores, culminado com inúmeras denúncias, o diretor foi afastado do filme Bohemian Rhapsody já em fase de conclusão.
O diretor Bryan Singer e os membros do elenco Ian McKellen e Bruce Davison trabalharam juntos posteriormente em X-Men: O Filme (2000). Curiosamente, o autor Stephen King contribuiu para uma série dos X-Men chamada "Heroes for Hope" em 1985. Ironicamente, Ian interpretaria um personagem judeu que foi perseguido durante o Holocausto no filme.
Universo compartilhado e as diferenças mais capitais entre o filme e a obra
Quando Dussander é preso no hospital, o filme exibe um artigo de jornal que revela que Dussander era rico de forma independente e vivia de uma "pequena fortuna pessoal", aparentemente para explicar como Dussander era capaz de viver sozinho sem nenhuma fonte externa de renda.
Na história original de Stephen King, a riqueza de Dussander é explicada de outra forma: na década de 1950, ele havia subornado um banqueiro no Maine para comprar ações e títulos sob um nome falso. Dussander mais tarde diria a Tod Bowden que o nome do banqueiro era Andy, e que ele foi enviado para a prisão por matar sua esposa. O banqueiro era, na verdade Andy Dufresne, o personagem principal de "Um sonho de liberdade", também de Stephen King.
O final do filme e o final do livro são drasticamente diferentes. No final do livro, após a morte de Dussander, Todd mata o Sr. French depois que ele o confronta, sobe em um viaduto e começa a atirar em pessoas nos carros que passam, até que a Polícia o mata.
No filme, ele basicamente sai impune de tudo, sem ter que matar o Sr. French. Bryan Singer optou por usar esse final e, mais tarde, recorreu a Stephen King, citando que ele não achava que poderia fazer justiça ao final do livro. Na minha visão, o diretor nada mais fez que uma projeção da sua arrogância em não ser pego como predador sexual. Mas estou aqui para avaliar o filme e não a vida de Singer. Esta parte, a justiça pode (ou não) fazer.