google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

O ILUMINADO (1980) - FILM REVIEW


Brilhante.


Texto: M.V.Pacheco e Thais A.F. Melo

Revisão: Thais A.F. Melo


Muito já foi dito sobre O iluminado, clássico regido por Stanley Kubrick, um dos maiores diretores da história do cinema. Inclusive que Stephen King não gosta do filme, preferindo a versão de 1997, o que é muito curioso, já que sua preferência, nas palavras do próprio rei, esta associada à adaptação em si, mais condizente com a obra original. 

Algo que até poderia ser verdade, se não tivessem ocorrido diversas vezes, mudanças capitais na transposição de alguma de suas obras para o cinema, inclusive com o reconhecimento do próprio, que o final adaptado ficou melhor. 

O objetivo do post de hoje é analisar o filme sob outros aspectos pouco comuns, mas não menos interessantes. Na trama de "O iluminado" acompanhamos Jack Torrance, um escritor e um alcoólatra em recuperação, que aceita um emprego como zelador fora de época de um hotel isolado chamado Hotel Overlook. 

Seu filho possui habilidades psíquicas e é capaz de ver elementos do passado e do futuro, como os fantasmas que habitam o hotel. Logo após se instalarem, a família fica presa no hotel por uma tempestade de neve e Jack torna-se gradualmente influenciado por uma presença sobrenatural que faz com que perca a sanidade.

O iluminado (filme) é genial em muitos aspectos, mas hoje quero falar um pouco da perspectiva e da simetria no filme e na obra de Kubrick.

De maneira geral, quando algo pode ser dividido em partes exatamente iguais, afirmamos que há simetria. Se traçarmos uma linha reta dividindo ao meio uma figura e as duas partes, quando colocadas, uma sobre a outra, forem iguais, podemos dizer que a figura é simétrica.

A simetria pode ser reflexiva, rotacional, radial e bilateral, mas comumente utilizada nos filmes de Kubrick.  E logo na primeira cena de O Iluminado, podemos perceber elementos dessa simetria, começando por uma pequena ilha que divide o cenário ao meio, e duas montanhas com seus respectivos reflexos simétricos. 

Kubrick buscava em seus enquadramentos fazer pontos de perspectiva, técnica comum do  renascimento. A arquitetura renascentista se materializou durante o período do renascimento, entre os séculos XIV e XVI, e tinha como princípios a proporção, a regularidade e a simetria.

Renascimento foi movimento de ordem artística, cultural e científica que ocorreu na passagem da Idade Média para a Moderna. E quando olhamos as principais características do Renascimento, identificamos como eles influenciaram a carreira e até mesmo, como Kubrick se portava atrás das câmeras. O vídeo mostra uma prática comum do diretor, centralizando o ponto de fuga da cena como em uma pintura renascentista. 

Ele encarava seus filmes como pura arte. Basta olharmos Barry Lyndon, onde muitas tomadas foram compostas e filmadas para evocar certas pinturas do século XVIII, especialmente as de Thomas Gainsborough. Para obter tal efeito, ele encomendou três lentes especiais Zeiss 50mm f/0.7.  Foram fabricadas apenas 10.

A centralização do ponto de fuga é a melhor forma de jogar o telespectador para dentro de sua obra.  A pintura renascentista e a fotografia (bem como a cinematografia) têm o mesmo objetivo: alcançar a tridimensionalidade a partir de imagens bidimensionais. E a extensão da realidade é conseguida através dos enquadramentos e a profundidade de campo que ele utiliza. 

Kubrick tinha um olho excepcional para fotografia. A carreira profissional do diretor iniciou na fotografia e foi quando vendeu para a revista Look a foto de um homem em uma banca de jornais, cercado por notícias da morte do presidente Roosevelt, ainda em 1945, que seu talento ganhou atenção. 

E uma curiosidade aleatória uniu a genialidade Kubrick com o mestre do horror Stephen King: quando ainda estava em busca de um novo projeto para o cinema, Kubrick pesquisou vários livros com a finalidade de achar um que o interessasse. Mas quando, já cansado, deu uma olhada nos livros que estavam em seu próprio escritório, ele encontrou "O iluminado". E foi aí que resolveu lê-lo e, posteriormente, transformá-lo em uma obra-prima do horror. 

O verde e o vermelho: a paleta de cores iluminada

Com a fotografia, os cineastas podem manipular as emoções através das cores e as cores influenciam na maneira como iremos sentir cada uma das emoções transmitidas na tela. A paleta de cores é uma combinação intencional de cores para se atingir um resultado específico. Paletas podem ser monocromáticas, análogas, complementares ou customizadas e são elas que dão vida a um layout. 

Elas podem ser definidas como são conjuntos de tons pré-selecionados que podem ser utilizados em harmonia para convergir uma ideia específica, determinados sentimentos ou remeter a uma identidade visual.  Uma paleta de cores decide o clima que você quer que uma identidade visual, embalagem, cartaz, site ou filme transmita e deve ser obedecida ao longo de um projeto, para manutenção de sua identidade. 


E a identidade de Iluminado é vermelha e verde. O vermelho ligado a atmosfera sangrenta que permeia o Hotel. E ele vai gradativamente tomando conta dos ambientes e roupas dos personagens. A sequência mais significativa nesse sentido é a do banheiro, em que Jack conversa com um fantasma que assassinou a família. As cores vivas representam o crime em si. Já o verde é o ponto de partida. Com um tom monótono e suave, ele denota a atmosfera do Hotel antes da chegada de Danny, que é o catalisador dos acontecimentos. 

É curiosa a cena em Jack adentra um recinto atrás de Danny, com o machado. Jack veste um casaco vermelho e quase todo o resto é verde, como se o menino fosse intocável à influência do meio.

Embora a cor vermelha seja a cor mais proeminente, a cor verde é usada de maneira significativa. Geralmente associado a uma sensação estranha e sobrenatural, além de representar também decadência, doença e morte (no sentido de putrefação do corpo). Ela também é um reflexo da deterioração do estado mental dos personagens. 


Considerações finais:

O labirinto do lado de fora do Overlook Hotel é um símbolo do labirinto psicológico que Jack Torrance e sua família devem navegar. Representa a natureza complexa e confusa do hotel e as próprias lutas internas dos personagens.

As gêmeas Grady são um símbolo do passado violento e trágico do hotel. Eles também representam a dualidade do bem e do mal, inocência e corrupção, e a ideia de duplicação que permeia todo o filme.

A máquina de escrever é um símbolo de suas lutas criativas e de sua queda na loucura. É também uma metáfora para o poder da linguagem e da palavra escrita para moldar a realidade.


A fantasia de urso que aparece na infame "cena da festa" é um símbolo da depravação do hotel e da sexualidade distorcida que se esconde sob sua superfície.

O elevador que se enche de sangue é um símbolo do passado violento do hotel e do trauma cerceado que assombra seus corredores. Também representa a liberação de emoções reprimidas e o desencadeamento da mente inconsciente.

E agora, que leu todo post, e provavelmente assistiu ao filme, qual a sua opinião ao saber que até uma simples escolha de cores pode manipular você? 


Tecnologia do Blogger.