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OLHOS DE GATO (1985) - FILM REVIEW


Olhos de gato.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Universo compartilhado

Muitos falaram da série Castle Rock, que faz um crossover com vários personagens do universo escrito por Stephen King ao longo da carreira. Certamente, ele não planejou tal coisa, mas foi algo que aconteceu conforme o sucesso de cada obra. Mas se prestarem atenção, estes crossovers existem desde sempre. No filme "Olhos de gato", na primeira cena aparece o cachorro Cujo, inclusive no estado sarnento dele. 


Quatorze minutos depois, o personagem de James Woods assiste "Na Hora da Zona Morta" na TV e pergunta: "Quem escreve essa porcaria?" Em outro momento, o gato é quase atropelado por um Plymouth Fury vermelho com um adesivo dizendo: "Cuidado comigo. Eu sou o mal puro. Eu sou Christine". 

Estes elementos sempre valem o ingresso de qualquer filme baseado num livro, conto ou algo que Stephen King escreveu. A mãe de Amanda lê o livro "Cemitério maldito" na cama... Aos 27 minutos, há uma cena na ponte levadiça Isabel Holmes localizada em Wilmington, Carolina do Norte, ao lado da Highway 421 North, mesmo local da cena inicial de Comboio do Terror. Ele inclusive fica parado na ponte, sugerindo que algo pode ocorrer ali.


A produção conta três histórias do mestre do terror, interligadas por um misterioso gato.  Um homem descobre que parar de fumar vai ser um pesadelo maior do que temia. Um jogador de tênis é forçado a participar de um jogo mortal, porque tinha um caso com a mulher de um terrível mafioso. 

Uma menina é aterrorizada por um pequeno monstro - isto tudo ligado pelos olhos do gato, que contra a vontade do diretor, o estúdio cortou o prólogo que explicava as motivações do bichano. Com isto, muitos espectadores ficaram confusos com a conexão entre as três histórias.


As duas primeiras histórias saíram da coleção Night Shift. Eles queriam colocar a história "Às vezes eles voltam", mas Dino de Laurentis achou (acertadamente) que ela daria um bom longa. Dito e feito. Tom McLoughlin (que eu entrevistei - leia aqui) fez um ótimo filme para a TV, que ainda rendeu continuações.

O diretor nova-iorquino Lewis Teague produziu um dos mais importantes documentários da história, Woodstock - 3 Dias de Paz, Amor e Música, em 1970. Mas na direção, seus quatro principais trabalhos foram feitos em sequência, na década de 80: Alligator, Cujo, Olhos de gato e A joia do Nilo. A fotografia ficou a cargo do famoso Jack Cardiff, que além de atuar na área, dirigiu, atuou, roteirizou e fez efeitos em muitos filmes.


Drew

Stephen King escreveu este roteiro com Drew Barrymore em mente porque o produtor Dino De Laurentiis ficou impressionado com sua atuação no filme "Chamas da Vingança", feito no ano anterior.

Drew Barrymore foi a estrela provável mais improvável que o cinema já concebeu. Aos 11 meses (!!!), ela fez um teste para um comercial com cachorro. Deu errado, o cão mordeu ela. O que ela fez? Chorou, certo? Nada. Riu, até demais. Ganhou o papel no riso. Conheceu o estrelato cedo demais. Com 5 anos já fazia papéis importantes. 

Com sua estrutura familiar conturbada, seguiu uma escala perigosa, que já ceifou vidas e consequentemente, carreiras: aos 9 anos fumava cigarros, bebia aos 11, era maconheira aos 12, e cheirava coca aos 13, segundo sua autobiografia  "Little Girl Lost" de 1990 (ela tinha 15 anos !!!). Aos 13, já estava na reabilitação. Chegou a frequentar o Studio 54, uma boate famosa da época. Saiu da rehab, tentou se matar e voltou. 


Este período só foi superado após ir morar sozinha. Mas aí Drew entrou numa outra fase. Aos 17 posou nua.  Três anos depois, novamente, agora para a Playboy. No cinema, buscou papéis sensuais, que nada combinavam com seu rosto angelical. Ela apareceu nua ou seminua em vários dos filmes da época.

Noivados e relacionamentos conturbados também marcaram a época. Até 2007, quase todos os seus romances foram com músicos. No final dos anos 90, ela engatou vários papéis em comédias românticas, que tinham tudo a ver com ela. E como seu rosto angelical prevaleceu e os papéis caíram na graça do público, ela virou queridinha, título que mantém até hoje. 

Ou seja, ela foi do céu ao inferno, depois fez escolhas questionáveis e acertou voltando para o céu. Filmes como Chamas da vingança, Olhos de gato e Pânico, de Wes Craven, mostram como tivemos sorte por ela vencer seus demônios interiores.


Mas voltando...

Antologias costumam ter variações entre episódios. Sempre gostamos mais de uns que os outros. Este fato está geralmente associado à percepção pessoal (nem sempre com a qualidade de cada capítulo). Não é diferente com "Olhos de gato". As histórias parecem saídas de um episódio da clássica série "Além da imaginação" (aliás quase todas as histórias do King não é?). 

Mas como as histórias são breves, com duração em média de 20 a 30 minutos, não há fadiga do telespectador quando o episódio não agrada. Olhos de gato é assim. Mais um capítulo da história de Stephen King no cinema, o autor com mais obras diferentes adaptadas em todo mundo.

Há um detalhe curiosíssimo: aos 35 minutos, toca (quase) o tema do filme "De volta para o futuro", feito por Alan Silvestri pouco após trabalhar em Olhos de gato. No multiverso da loucura de Stephen King, tudo é possível.


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