PASSAGEIRO DO FUTURO (1992) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
O cinema de ficção dos anos 90 focou bastante no mundo virtual, principalmente como alerta de um perigo eminente. Além do próprio Passageiro do Futuro (1992), temos... Assassino Virtual (1995), Johnny Mnemonic (1995), 13º Andar (1999), Matrix (1999).
O texito de hoje é sobre o menos inspirado de todos: Passageiro do Futuro. Na história, o cientista Dr. Lawrence utiliza experiências com tecnologia para estudos governamentais e desenvolveu um sistema de "realidade virtual" e injeção de drogas, o qual realmente coloca o usuário no universo da informática.
Jobe, que é um jardineiro com deficiência mental, é usado como cobaia, ligando o seu cérebro a um computador e sendo colocado no sistema virtual. Ele passa por um intenso programa de aprendizado e rapidamente desenvolve uma inteligência brilhante com poderes telepáticos e telecinéticos.
Mas, nesse ponto, o jardineiro ganhou algumas ideias próprias sobre como a pesquisa deve continuar, e o Dr. Lawrence começa a perder o controle sobre a experiência e perigosos efeitos colaterais começam a aparecer no jardineiro.
A saga do que não era
A New Line Cinema obteve os direitos do conto de Stephen King "Tm", e os produtores também tinham um roteiro não relacionado chamado "Cyber God". Por razões econômicas, eles simplesmente colocaram o título de King na produção de "Cyber God", e o material promocional inicial com essa reivindicação veio a público.
King ficou furioso com o abuso de seu nome e processou o estúdio para que seu nome e título fossem removidos do filme e da promoção. O estúdio recusou, mas acabou sendo condenado a pagar dez mil dólares e lucros totais a King. Ele de fato escreveu um conto chamado no Brasil de "O Homem do Cortador de Gramas" (The Lawnmower Man) no livro Sombras da Noite (Night Shift) de 1978, mas ele é completamente diferente do filme.
Então, em outras palavras, quando vi Passageiro do futuro em VHS, era uma adaptação de um conto do Stephen King. Porem, hoje não é mais.
Embora o filme tenha pouquíssimas semelhanças com o conto, o grupo clandestino chamado The Shop é uma referência à organização de mesmo nome apresentada em várias outras obras de King. Também conhecidos como Departamento de Inteligência Científica, eles têm sido os principais antagonistas por trás dos acontecimentos de seu romance Firestarter (adaptado para os filmes Chamas da Vingança), a minissérie Jovem Outra Vez (1991), e é um elemento do conto no qual The Tommyknockers (1993) se baseia.
Eles são citados também em Fenda no Tempo (1995), baseado em outro conto de King. Por fim, em The Stand, adaptado nas minisséries A Dança da Morte (1994) e The Stand (2020).
Um cortador de grama com controle remoto foi construído especificamente para o filme. Em outro filme adaptado de uma história de Stephen King, Comboio do Terror (1986), um cortador de grama controlado remotamente persegue um adolescente.
A cena em que o policial (Troy Evans) diz que a peça que faltava no morto está no banho dos pássaros, foi tirada do conto de Stephen King. Harold Parkette (Ray Lykins) é o único personagem do filme que estava no conto de "origem".
Afinal, o que torna Passageiro do futuro o caso diferente?
Dado que muitos contos de Stephen King foram levados para as telonas, é comum ver seu material sendo ampliado para se ajustar a um roteiro de longa-metragem. Basta mencionar filmes como "O Iluminado", dirigido por Stanley Kubrick, que King odeia aponto de se prontificar a fazer um remake, que foi lançado em 1997. Ele mesmo argumenta que filmes e livros são formas de mídia distintas, e que sua versão original da história permanece disponível para leitura.
Ou seja, qual é o verdadeiro problema em adaptar apenas elementos da obra de King se ele mesmo classifica como "mídias distintas"? A história de 10 páginas de Stephen King, "The Lawnmower Man", não era substancial o suficiente por si só para uma adaptação de longa-metragem, e liberdades criativas iriam tomar conta do roteiro, certamente.
Analisando todo processo, o ano em que foi filmado, as adaptações de King pós-Iluminado, cheguei a conclusão que King problematizou o filme por que ele podia e naquela época, seu pensamento de uma obra com seu nome, deveria ter uma qualidade maior.
As críticas ao filme foram amplamente negativas, adicionando combustível às alegações de King de que sua associação com o filme prejudicaria sua reputação artística (algo que nunca ocorreu). Na época, o renomado Washington Post publicou: "Tão vagamente baseado em um conto de Stephen King a ponto de constituir fraude, 'Passageiro do futuro' vai direto para o fundo de uma lista crescente de adaptações fracassadas de King." A atriz Jenny Wright me disse numa entrevista que foi o único filme que ela se arrependeu de trabalhar.
Na época, King ainda se importava com opiniões assim. Ainda bem que ele evoluiu.