VOO NOTURNO (1997) - FILM REVIEW

Piloto noturno

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo

Voo noturno é uma tradução literal do mito do vampiro para um novo contexto. Dirigido pelo nada famoso Mark Pavia, que fez somente dois filmes (este e Colisão Mortal em 2016) até o momento, o filme conta a história de Richard Dees (Miguel Ferrer), um jornalista de um tabloide sensacionalista que sai em busca de um aviador misterioso, um vampiro que pilota à noite e vai fazendo vítimas pelos aeroportos onde passa. Dees decide refazer o caminho macabro percorrido pelo piloto e acaba se envolvendo demais, colocando sua vida em risco.

O diretor Mark Pavia filmou em 29 dias. O Saudoso Miguel Ferrer, que partiu em 2017 devido a um câncer na garganta, trabalhou em outras duas produções anteriores baseadas em livros do King: A Dança da Morte e O Iluminado, ambas no formato de minisséries. 

Com uma voz inconfundível, Ferrer era filho dos famosos José Ferrer e Rosemary Clooney, além de ser primo de George Clooney. Casado duas vezes, uma delas com Leilani Sarelle, atriz que marcou o cinema como namorada de Catherine Tramell em Instinto Selvagem, de Paul Verhoeven. Detalhe: ele se casou com ela em 1991, ano que foi feito o filme. Como Verhoeven havia dirigido Ferrer em Robocop, de 1987, dá para imaginar como ela entrou para o elenco não? 

Kingverso da loucura

Richard Dees também foi o repórter que tentou obter uma entrevista com John Smith no romance de Stephen King "A hora da zona morta".

Outro exemplo, enquanto conversava no bar, Richard conta uma história a Catherine, mencionando uma professora de escola que mata crianças de cinco anos porque acha que estão planejando matá-la. Este é o enredo de um conto em "Pesadelos e Paisagens Noturnas", a qual outra história também foi adaptada para um filme, chamado "Sede de vingança" (Dolan's Cadillac no original).

Na cena em que Katherine está olhando para todos os créditos de Richard, as cópias emolduradas de "Inside View" contêm muitas referências a outras histórias de Stephen King: "Springhill Jack ataca novamente!" (Strawberry Spring), "Lamaze sem cabeça leva a um parto bem-sucedido!" (The Breathing Method), "Cultistas infantis no Kansas adoram o assustador deus vodu!" (Children of the Corn), "Lojista satânico vende guloseimas sangrentas!" (Needful Things), "Demônios nus nivelaram meu gramado!" (The Lawnmower Man) e "A dieta assassina definitiva! Maldição cigana esfola a carne de um advogado gordo" (Thinner).

Muitas das fotos de assassinatos na assessoria de imprensa são reais, incluindo a da prostituta horrivelmente mutilada. Elas foram tirados do álbum de um detetive de homicídios que trabalhou em Los Angeles entre os anos 1930 e 1950, e que mais tarde seria publicado sob o título "Cenas da Morte".

Nunca acredite no que publica.

E nunca publique o que acredita.

Voo noturno traz um interessante paralelo entre o jornalista e o vampiro, já que o profissional nada mais é que um sanguessuga, pronto para tirar fotos de corpos em acidentes para tirar uns trocados. O Vampiro busca sangue para sobrevivência. O Jornalista, ainda que busque profissionalmente (e sendo assim, sobrevivência), ele faz de forma vil. Ambos buscam sangue inocente, porém de formas diferentes.

O personagem lembra muito um dos melhores filmes que já assisti, O Abutre de Dan Gilroy com Jake Gyllenhaal, Rene Russo. No filme, o jovem Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) decide entrar no agitado submundo do jornalismo criminal independente de Los Angeles. A fórmula é correr atrás de crimes e acidentes chocantes, registrar tudo e vender a história para veículos interessados. Curiosamente, Dan Gilroy é irmão de Tony Gilroy, que roteirizou Eclipse Total, outra adaptação de uma obra de King. 

Um roteiro para uma sequência direta foi escrito e se chamaria "Medo de Voar", que seguiria a investigação mais aprofundada de Katherine sobre o Voador Noturno e as origens de Dwight Renfield, mas não pôde ser produzido, pois ninguém queria investir numa continuação de um filme com fraco desempenho financeiro, então os planos para o filme foram abandonados.

Um pecado, pois é um filme acima da média.

Mas o fato é que avaliar "Voo noturno" como agradavelmente nostálgico ou dolorosamente datado vai depender da sua idade (ou ponto de vista levando em conta o tempo que é fã de filmes do gênero, se preferir).