1922 (2017) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Stephen fez sua primeira venda profissional de contos ("The Glass Floor") para Startling Mystery Stories em 1967. Na primavera de 1973, a Doubleday & Co. aceitou o romance Carrie para publicação, que ocorreu um ano depois. E foi somente em 1976 que veio, pelas mãos de Brian de Palma, a primeira adaptação para o cinema de uma obra do mestre, e justamente, Carrie.
Passados 50 anos, podemos afirmar que Stephen King foi perspicaz, percebendo que sua obra poderia ser explorada, como parte de um todo, quando adicionados elementos aqui e ali. E é incrível como isso torna o contexto mais interessante. Os filmes ou séries mais recentes ganham corpo com histórias prévias, conexões até mesmo gratuitas, mas que para os fãs, parecem ovos de ouro, colocados aqui e ali.
Eu acredito que existe outro homem, dentro de cada homem. Um desconhecido. Um homem calculista.
Baseado no romance de Stephen King "1922", originalmente publicado em sua coleção de 2010 "Escuridão Total Sem Estrelas", o filme mostra Wilfred James (Thomas Jane), até então um pacato fazendeiro, que bola um plano macabro para solucionar o seu problema financeiro. Ele decide assassinar Arlette (Molly Parker), sua mulher. Mas, para conseguir fazer tudo direito, Wilfred precisa convencer Henry (Dylan Schmid), seu filho, a ajudá-lo.
A história como prenuncia o título, se passa em 1922. E eram tempos difíceis (que ficariam ainda piores 7 anos depois, com a Crise de 29). O pós-guerra era um período de recuperação. A guerra provocou a morte de quase 13 milhões e deixou vinte milhões de feridos e mutilados. Começou um período de declínio da Europa, com os problemas sociais de desemprego, fome e miséria. A instabilidade política e social favoreceu o surgimento de regimes totalitários.
E como sabemos, qualquer movimento dos países pró ou contrários à guerra, refletem nos preços, negociações e consequentemente, tornam as vidas dos mais pobres, piores ainda. Este contexto, levou pessoas ao desespero. E pessoas desesperadas não tem muitas escolhas e costumam tomar as piores decisões. E aqui entra o personagem Wilfred James.
Sempre que eu tentava me ocupar com o trabalho para afastar os pensamentos... eles me encontravam.
O interessante de 1922 é que a narrativa não depende de uma ameaça externa à liberdade de Wilfred (há pouco ou nenhum envolvimento da polícia), mas sim de uma ameaça interna à sua sanidade: a culpa. E ela se manifesta na forma de um bando de ratos sedentos de sangue, criando uma atmosfera úmida e desconfortável à medida que a compreensão de Wilfred sobre a realidade gradualmente se desvanece.
E com 1922, King fez um paralelo com outras obras que utilizam os mesmos elementos. Os ratos estão conectadas a outro conto chamado The Graveyard Shift, que se tornou o filme A Criatura do Cemitério (1990). E os ratos em ambos os filmes traduzem os mesmos sentimentos.
O poço vem direto de Dolores Claiborne, que se tornou o magistral Eclipse Total (1995), com o poço simbolizando a consciência dos personagens, que escondem seus segredos mais obscuros e tentam tapá-los de toda forma, a fim de jamais acessá-los.
O milharal está associado ao Colheita Maldita (1984), que era um local que camuflava as ações perversas dos moradores. E podemos dizer que a história do homem sendo amaldiçoado por suas ações imorais é semelhante à Maldição (1996).
Por fim e não menos importante, Hemingford é a residência da Mãe Abagail Freemantle na minissérie Dança da Morte (1994), que mostra cidadãos sendo escolhidos, separados, e cada um, direcionados para um dos grupos restantes da humanidade: o do bem e o do mal.
Ela me contou segredos que só uma mulher morta saberia...
1922 é uma trama interessante, que foca mais na perda da sanidade do personagem que o crime cometido, já que a culpa o corrói por dentro como os ratos, que devoram tudo, incluindo seu dinheiro e até mesmo, o que restou da alma.
E no final, todo somos pegos!