12 COISAS QUE NÃO FAZEM SENTIDO EM SETE HOMENS E UM DESTINO (2016)
Muitos homens, vários destinos...
Sete Homens e um Destino era um filme cercado de altas expectativas, principalmente por ser um western nos cinemas. Nem lembrava mais qual foi o último que assisti... acho que Bravura Indômita em 2010...
Primeiro ponto: Não sou contra remakes. Até porque Sete Homens e um Destino (1960) é um remake de Sete Samurais (1954), e ambos figuram nas listas dos melhores do cinema. E mesmo um remake fraco tem sua utilidade, que é a de enaltecer o clássico e provocar revisões.
Pessoalmente, eu não levava fé nenhuma na produção por conta de um único motivo: Antoine Fuqua. Seu currículo de Assassinos Substitutos, Lágrimas do Sol, Invasão a Casa Branca, O Protetor entre outros é muito voltado para ação sem profundidade. Não era uma boa escolha para um western. Fuqua é o cara ideal para um filme como Missão Impossível, por exemplo.
Mas vai que ele acerta não é? Afinal, quem poderia supor que o diretor de Se Beber, Não Case!, Todd Phillips, faria a obra-prima Coringa em 2019? Fuqua merecia o benefício da dúvida. Pois bem, infelizmente errou. E bastante. Começando pela omissão da música tema. Elmer Bernstein fez trabalhos esplendorosos, mas Sete Homens virou referência cultural e aqui no Brazil se tornou tema da propaganda de cigarros Marlboro com o cowboy.
5 homens com destino
Aqui um adendo:
Cinco homens que apareceram em anúncios morreram de doenças pulmonares:
David Millar, Jr: O Marlboro man original, morreu de enfisema pulmonar em 1987.
David McLean: Outro Marlboro man, morreu de câncer de pulmão aos 51 anos.
Dick Hammer: O único não-cowboy na vida real, morreu de câncer de pulmão, apesar de não ser fumante.
Wayne McLaren: O primeiro a interpretar o Marlboro man, morreu de câncer de pulmão em 1992, aos 52 anos. Testemunhou a favor da legislação anti-tabagismo aos 51 anos. Durante seu ativismo, McLaren confrontou a negação da Philip Morris sobre sua participação nos anúncios Marlboro, apresentando evidências.
Eric Lawson: Fumante desde os 14 anos, foi contratado para os anúncios da Marlboro entre 1978 e 1981. Morreu de câncer de pulmão aos 72 anos em 10 de janeiro de 2014.
Voltando...
Fuqua não tinha que utilizar a música, obviamente, mas ela ajudaria a aumentar a identificação com a produção. Ao invés disto, usou uma infeliz trilha deixada por James Horner antes de sua morte acidental em 2015. Foi seu último trabalho e um dos piores de sua carreira. Não conseguiu criar um tema novo, passeando por acordes que não se relacionavam com as cenas vistas.
E quando sobem os créditos, e a música clássica finalmente toca, ela acentua a ruindade do que se ouviu em 2 horas e 13 min de projeção.
Personagens secundários sem destino
Impressionante como os personagens têm importância no filme de 1960. Até o dono da carroça, que levava o enterro no início, é marcante. Vários deles tem visibilidade na tela: os três rapazes da vila, o sábio que aconselha Vin e Chris, as crianças, aquele que se revolta com as possíveis perdas na vila. E o conjunto de tudo isto confere densidade à trama. O filme se torna uma história de camadas. Você acredita que são pessoas ali, com questionamentos, anseios, atos de heroísmo, medos...
Esta parte é muito mal desenvolvida na versão nova. Os rostos, vem e vão. A única que tem relevância é a mulher, que em certo ponto assume um lugar nos sete homens (o que é um reflexo da cultura atual).
Seis homens sem destino
Chris Pratt foi um achado em "Guardiões da Galáxia". Seu tipo casou perfeitamente com o esperado para o filme. Porém, em Jurassic World, seu personagem "Owen" parece uma variação do Peter Quill de Guardiões. Então, não há surpresa alguma no fato de que ele se repete novamente, fazendo o gostosão do grupo, regado a piadinhas e carões. Steve Mcqueen se revirou no túmulo...
Ethan Hawke faz o personagem covarde do grupo. Meio o que o Brad Dexter fez no primeiro Sete Homens com muito mais propriedade. Ele é meio confuso, é bom atirador, está com síndrome do pânico, mas você não se importa com isto. Na verdade, passamos boa parte do filme achando que ele é um charlatão, o que diminui a empatia com seu problema.
Byung-hun Lee repete o personagem de James Coburn. Até aí tudo bem, mas o problema é que ele repete (até em detalhes) o seu filme famoso "Os Invencíveis de 2008".
Vincent D'Onofrio faz um personagem sem o menor sentido. Não se sabe se ele aceita ou não a oferta de trabalho, mas de repente aparece ajudando o grupo. Tem uma voz incrivelmente chata e fala da Bíblia o tempo todo. É o ponto fraco de um ótimo ator, que recentemente arrebentou em "Demolidor".
Martin Sensmeier. Este merece uma página de discussões. O Red Harvest é um índio que "tromba" com o grupo. Mas como o personagem do Denzel fala a língua dele, fica tudo certo e ele parte com o grupo. Este personagem acaba sensibilizando uma das piores comparações que pode ser feita com o original.
No primeiro, os 4 homens são escolhidos, um se oferece por estar sendo perseguido (Lee, personagem de Robert Vaughn) e o outro quer ser um grande pistoleiro (Chico), e busca reconhecimento, principalmente de Chris (Yul Brynner).
Já neste filme, parece um grupo que está indo jogar bola e encontra aleatoriamente um ou outro. O próprio Byung-hun Lee é assim, pois eles estão atrás do personagem de Ethan Hawke e o levam de lambuja sem a menor justificativa. Não há a mitológica "procura pelos 7".
E para completar o infortúnio do personagem, há um índio vilão no grupo dos bandidos e eles se enfrentarão, naquele momento clichê. Pior que o "Índio mal" morre mais fácil que eu morreria no lugar dele.
O Sexto e menos marcante do grupo é Manuel Garcia-Rulfo, que faz Vasquez, um personagem legal, que não compromete nada o resultado, mas tão pouco é marcante.
1 homem com destino
Agora imagina só. O único personagem que presta dignidade ao longa é Denzel. Ele é contratado para matar o cara que ele quer vingar da morte de sua família. Sorte não? Conveniente não? Pior... no leito de morte do vilão, ele o "lembra das maldades feitas com sua família" numa referência explicita ao "Era uma Vez no Oeste", dando sentido totalmente diferente ao filme.
O que era para ser 7 homens defendendo um vilarejo com poucos recursos, virou uma vingança pessoal orquestrada pelo personagem principal, fazendo um "doa a quem doer", já que parecia impossível a vitória.
No filme de 1960, cada personagem é importante, tem história e algo a contar. Bernardo O'Reilly, por exemplo, vivido por Charles Bronson, era um caro caçador de recompensas, que vivia um período de "vacas magras", tendo que cortar lenha para sobreviver. Personagem adorado pelas crianças do vilarejo, até na morte tinha uma lição para deixar.
Neste filme de 2016, pouco importa quem vai morrer. Talvez, o personagem de Vincent D'Onofrio tenha uma empatia maior neste sentido, por conta de sua voz ridícula que citei acima, que transmite certa sensibilidade.
Haley Bennett, a mocinha toma conta do filme como a mulher forte (respingando o momento cultural como dito acima). E o diretor de uma enorme moral para ela na cena final, diluindo a força do grupo.
E por fim... o bandido...
Que saudades do Calvera... Peter Sarsgaard nunca seria Eli Wallach (não é meu objetivo comparar) mas precisava ser um vilão tão ruim? Ele é mau apenas por matar duas pessoas a sangue-frio. É temido apenas porque tem uma metralhadora (que nem é ele que empunha).
O vilão não tem vida própria, é caricato e se vê indefeso com a morte do seu bando. E ainda destrói a cidade que deseja, mata quase todo mundo, perdendo boa parte do objetivo dele.
Uma pena. Um diretor mais adequado, uma história melhor desenvolvida, atores certos e a trilha clássica utilizada em todo momento fariam deste "Sete Homens", um filme melhor...
So far so good
Para finalizar, alguém pode notar que Faraday (Pratt) fala insistentemente a frase "So far so good" - que quer dizer, "até aqui tudo bem. Nada mais é que uma referência ao diálogo que Vin (Mcqueen) tem no primeiro filme, e que lá era uma "moral de história".
Aqui, foi reduzido a uma chatinha citação sem propósito e que não faz qualquer sentido. Nada mais natural que colocada desta forma em um filme sem destino.
E sem homens, claro.
Recapitulando: Ausência da música, ausência de personagens secundários, seis homens sem destino, o índio vilão ruim, a vingança por trás de tudo, o vilão principal péssimo e So far so good.
12 coisas que não fazem sentido em Sete Homens e um Destino.