CAMPO DO MEDO (2019) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
O Review de hoje se faz necessário uma conduta diferente. Ao invés de falar do filme como um todo, expondo por menores de produção, elenco, e mesmo crítica, vou explicar o significado dos principais elementos da produção. O filme em questão é Campo do Medo, confusa produção de Vincenzo Natali, que dirigiu obras singulares como Cubo (1997) e Splice (2010). Considerando que ele roteirizou ambos citados, era natural que buscasse um filme complexo.
E ela veio por meio de Campo do Medo, adaptação cinematográfica do romance homônimo escrito por Stephen King e seu filho Joe Hill publicada pela revista Esquire em 2012. Na história, uma mulher grávida e seu irmão entram em um matagal para ajudar uma criança perdida, mas acabam ficando presos na mata fechada também. Eles descobrem que há um poder sombrio habitando a região e precisam encontrar uma forma de escapar...
Para entendermos melhor o filme, precisamos decifrar um quebra-cabeça, que começa pela...
🔶Rocha.
Perambulando pelo matagal, os personagens se deparam com uma rocha gigantesca, com hieróglifos em sua estrutura, e a medida que os eventos se desenrolam e Becky entra em trabalho de parto, a rocha expõe raízes e corpos contorcidos. Ross Humboldt explica que a rocha é anterior ao homem e existe desde o início da própria Terra. Ross acredita que a rocha fica no centro da Terra e oferece redenção. Na realidade, a rocha possui poderes sobrenaturais que amplificam os traços mais fortes de quem a toca.
Ross não é um bom ser humano. Ele é egoísta, ressentido e se irrita facilmente. Desesperado por uma vida “melhor” a pedra faz com que ele se sinta poderoso. Como resultado, ele não quer nada mais do que alimentar a rocha com o sangue de qualquer indivíduo que se perca naquele matagal.
E se você toca na Rocha, fica confinado eternamente no matagal.
A grama e a rocha estão conectadas em um sistema de raízes emaranhadas de lama, material vegetal e biológico, sangue e tripas de humanos inocentes. A rocha alimenta o campo e o campo alimenta a rocha com vida. Parte dessa vida é humana e parte é vegetal ou animal.
🔶O tempo.
O tempo se move como a grama. O tempo é como um circuito fechado que envolve a si dando poder a pessoa sobre seu próprio destino, permitindo a criação de realidades alternativas, o que permite a fuga. Todas as mortes causadas por Ross (Patrick Wilson) aconteceram antes e acontecerão novamente, a menos que escapem do loop.
Como o local permite manipular a realidade, também é possível que Travis (Harrison Gilbertson) tenha criado uma realidade mais feliz para Becky, Cal e Tobin viverem. Nessa realidade, todos eles escaparam de volta ao mundo real. Mesmo que eles nunca saiam do local, para eles, não é menos real, já que não percebem a diferença.
🔶Mortos imóveis
Tobin explica que enterra animais mortos no campo como forma de criar pontos de referência. A grama está mudando constantemente. Travis tenta amarrar nós na grama para se orientar, mas a grama se desata sozinha.
Tudo, exceto coisas mortas, se move. Isso nunca é explicado, mas está implícito que, uma vez que algo está morto, ele é sugado para o loop temporal para ser gerado novamente enquanto já está morto. Os seres vivos não se duplicam, ao contrário, eles aparecem no local e hora exatos de sua entrada inicial no campo.
Com essa teoria em mente, Cal, Becky, Tobin e Travis ainda existiriam vivos no mundo real, embora também estivessem mortos no campo. Em essência, eles se tornam vivos e mortos até que outra perspectiva confirme uma ou outra realidade.
🔶Igreja e os carros abandonados.
Além da igreja com todos os carros abandonados (incluindo Christine, o Carro Assassino), há também uma decadente pista de boliche e um posto de gasolina. Ambos estão vazios e foram deixados em decomposição porque as pessoas que antes trabalhavam lá passaram a fazer parte do campo. Eles não desapareceram todos de uma vez, mas com o tempo. A atração daquelas vozes pedindo ajuda de quem estava dentro do campo era muito grande e um a um os habitantes da cidade entraram no campo até que toda a cidade estivesse vazia.
A igreja atua como um portal entre o reino do campo e o mundo real. É assim que Travis é capaz de salvar Tobin, supondo que você acredite que isso aconteceu. A igreja da qual Tobin sai no final tem janelas intactas, mas aquela vista por todas as partes antes de entrar no campo no início tem janelas quebradas, mostrando que a igreja existe exatamente como as pessoas dentro e fora, em momentos diferentes. A igreja mais bem cuidada dá crédito ao fato de que esta é apenas outra realidade e não é o mundo real.
🔶Escolhas.
Ross aponta que a vida é feita de infinitas escolhas bifurcadas, cada uma com consequências. Não é preciso muito para uma pessoa, mesmo uma boa pessoa, ser corrompida por uma série de más escolhas. Isso é visto de forma mais óbvia em Ross, pervertido pelo poder da rocha e pela possibilidade de abandonar sua vida estruturada. Sua queda é imediata e abertamente maligna. Já a queda de Cal é mais sutil.
Agora é só voltar o filme, rever para entender melhor o que aconteceu ou continuar na sua realidade, significando o mesmo que dizer preferir esquecer o que viu e o pouco que entendeu.