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CONEXÃO MORTAL (2016) - FILM REVIEW


Celular.


Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Celular é um ótimo filme de ação com Kim Basinger e Chris Evans lançado em 2004, e ele não tem absolutamente nada a ver com o filme em questão, chamado Celular. O celular em si é um objeto indispensável na vida de muitas pessoas (não na minha, claro) e é ele que dá início a uma matança nos Estados Unidos no filme de 2016. Pelo aparelho, a população é infectada por um vírus, que as transformam em assassinas. Todos tentam escapar da morte, entre eles um artista que parte numa busca desesperada pelo filho.

O filme é baseado no livro Celular (2006), de Stephen King, que inclusive é responsável pela adaptação do roteiro. Mas você pode se perguntar por qual motivo citei o filme de 2004, homônimo ao de King. Bom, porque o fato mais marcante nesta adaptação de King é a falta de identidade, desde o seu lançamento. 

Você encontrará o filme como Celular ou Conexão Mortal. E vai encontrar diversas datas de produção e lançamento. Ele foi anunciado em 2006 pela Dimension Films com Eli Roth (de O Albergue) dirigindo após finalizar O Albergue: parte II. Roth saiu do projeto em 2009 por diferenças criativas.

Ataque do celular maldito

Stephen King anunciou em 2009 que havia escrito um roteiro para o filme e criado um novo final, com base nas reclamações dos leitores sobre o final do livro. Entre muitas diferenças em relação ao material de origem, no livro os infectados semelhantes a zumbis continuam a ter seus cérebros sofrendo upgrades todas as noites e desenvolvendo outras habilidades psíquicas, incluindo a telecinese, que lhes permitem voar. 

Isso é explicado porque a infecção desbloqueou o potencial sobrenatural latente do cérebro humano. Essa ideia é apenas vagamente mencionada no filme, quando os sobreviventes da escola dos meninos explicam que o cérebro humano é como um computador e que esse pode ser o próximo estágio da evolução humana.

Interfone do diabo

Em outubro de 2012, John Cusack foi anunciado como o primeiro ator a se juntar ao filme, seguido pela seleção de Tod Williams como diretor no início de 2013. Em novembro de 2013, (UM ANO DEPOIS) Samuel L. Jackson foi escalado como Tom McCourt. 

Isabelle Fuhrman (A Orfã) foi anunciada como Alice no início de 2014 (QUASE DOIS ANOS DEPOIS). O filme foi rodado durante 25 dias. 

A distribuição do filme estava condenada desde o início. Em 2013, a Benaroya Pictures e a Miscellaneous Entertainment formou uma empresa internacional de vendas, a International Film Trust, e levou o ainda não filmado Celular (2016) a Cannes para vender os direitos de distribuição. 

Nenhum distribuidor dos EUA assinou contrato com o projeto. Em fevereiro de 2015, uma nova distribuidora iniciante, a Clarius Entertainment, adquiriu os direitos de distribuição nos Estados Unidos e planejou um lançamento amplo no final de 2015. A extensão de seus esforços de marketing foi o upload de uma imagem estática com o comunicado à imprensa de aquisição; nenhum trailer foi cortado. 

A Clarius lançou seus três primeiros filmes em 2014 e todos foram um fracasso de bilheteria: A Lenda de Oz (2013), Um Amor de Vizinha (2014) e Antes de Dormir (2014). Seus outros filmes não foram melhores. Se algum dos estúdios que licitaram o filme tivesse ganhado os direitos, ele teria uma estreia nos cinemas, mas depois que Clarius deixou o filme no limbo após o encerramento de suas atividades em 2015, a situação ficou mais complicada ainda.

Pouco depois, o fundador da Clarius, William Sadleir, criou a Aviron Pictures e resgatou o filme para ser lançado nos cinemas. Não deu certo pelo motivo que verá a seguir. E entrou no páreo a Saban Films, a mesma empresa que mergulhou para salvar 31 (2016) de Rob Zombie, adquiriu direitos de distribuição de Celular.

O filme foi lançado somente em 10 de junho de 2016, e direto para vídeo on demand, popularizado pouco tempo depois streaming.

E quanto a Sadleir. O seu nome estava envolvido com fraudes e várias acusações. Entre um processo e outro, em 19 de janeiro de 2022, Sadlier se declarou culpado e foi condenado em 9 de setembro de 2022 a 72 meses de prisão.

Mas voltando...

Quando foi escalado para interpretar Tom McCourt, Samuel L. Jackson não sabia que seu personagem era gay. Durante uma entrevista para a Playboy anos antes, Jackson disse à revista que nunca beijaria outro cara ou se travestir para qualquer papel, não importa quão grande fosse o salário, e ele manteve sua palavra recusando-se a ficar com outro homem neste filme. O seu personagem apenas pronuncia uma frase, dizendo que o companheiro terminou com ele (e posteriormente, diz algo similar).

Este é o segundo filme de Stephen King com a dupla de John Cusack e Samuel L. Jackson. O primeiro sendo 1408 (2007). E é o terceiro filme de King com Cusack, sendo o primeiro Conta Comigo (1986). Foi a sétima vez que John Cusack interpreta um autor. As outras foram Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal (1997), Ensinando a Viver (2007), 1408 (2007), 2012 (2009), O Corvo (2012), e Vida de Adulto (2013).

Multiverso Kinginiano

Na cena de abertura no aeroporto, você pode ouvir: "Voo 1408 para Los Angeles". Esta é uma referência ao conto e filme de Stephen King 1408 (2007).

Há uma referência a Kashwak estar na área não incorporada chamada "TR-90". Esta é uma referência ao romance "Saco de ossos" de Stephen King, que se tornou minissérie em 2011 pelas mãos de Mick Garris (quem mais?).

Em torno de 14 minutos de filme, um personagem é morto em um túnel do metrô por um maníaco que o ataca com um machado por trás de um pilar. Este é uma referência a Jack Torrence na adaptação de Stephen King O Iluminado (1980).

Na cena inicial do aeroporto, o voo para Manchester, New Hampshire é alterado para o portão A6, que é o nome da cepa de vírus letal do romance de Stephen King, Dança da morte, que se tornou a minissérie de 1994 e 2020.

Na cena em que Clay Riddell (John Cusack) se senta na cama de seu filho, ele se depara com uma pintura de um navio em águas tempestuosas pendurada na parede. É a mesma pintura que estava pendurada na parede do quarto de hotel de Cusack em 1408 (2007), de Stephen King.

No filme vemos um caminhão de sorvetes similar ao visto na série Mr. Mercedes de 2017, do próprio King (o primeiro volume do livro saiu em 2014).

E em Celular, todos sonham com a mesma figura, remetendo a Randall Flagg, de Dança da morte.

Multiverso NÃO Kinginiano

Na cena do aeroporto, um empresário menciona que seu "limpador de piscina estragou". Esta é uma referência sobre um dos eventos sobrenaturais de Atividade Paranormal 2 (2010), também dirigido por Tod Williams.

Lloyd Kaufman, o co-fundador da Troma Entertainment e diretor de filmes como O Vingador Tóxico (1984) e Tromeo & Juliet (1996), aparece na cena de abertura do aeroporto como o espectador em uma camisa havaiana azul.

Portanto, recapitulando:

Caso queira ver o filme, procure por Celular ou Conexão mortal. A data pode variar entre 2014, 2015 e 2016, porque é comum os sites colocarem ano de produção ao invés de ano de lançamento. 

A produção foi anunciada em 2006, com diretor ficando contratado por 3 anos. 

Foi escrita em 2009. Ficou no limbo até 2012 com a contratação do diretor e ator. 

E a cada ano, contratava alguém do elenco, até finalmente começar a ser filmado em 2014. 

Depois de tanta dificuldade, o filme foi feito em menos de um mês. E mesmo assim, foi passando de mão em mão, até ser lançado 10 anos depois do anúncio.

E mesmo depois de tanto problema… e de ser uma adaptação de Stephen King, tem pessoas que ainda procuram o filme e acabam confundindo ele com o outro Celular, lançado em 2004, pouco antes do anúncio deste em questão. 

Celular é de fato, um filme com forte crise de identidade.


 

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