O NEVOEIRO (2007) - FILM REVIEW
Nevoeiro.
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
É impossível assistir O Nevoeiro sem pensar logo em "A Bruma Assassina", clássico de John Carpenter, no qual mostra uma comunidade pesqueira coberta por uma estranha névoa revelando perigos impensáveis. Na realidade, muitos pensam em se tratar de uma adaptação de algum conto de Stephen King.
E logo no começo do filme, dirigido por Frank Darabont (das épicas adaptações de obras do mestre: A Espera de um Milagre e Um Sonho de Liberdade), podemos ver um cartaz de Enigma de Outro Mundo, clássico de... John Carpenter. E Carpenter dirigiu Christine, o Carro Assassino (1983), uma adaptação de um romance de Stephen King. Ou seja, nem mesmo a produção disfarça a influência.
Na trama, depois que uma tempestade causa danos em sua casa no Maine, David Drayton e seu jovem filho vão à cidade conseguir alimentos e suprimentos. Logo após, uma espessa neblina atinge a cidade, deixando várias pessoas presas na mercearia, já que criaturas mortais se revelam, aterrorizando a cidade.
Stephen King diz que ficou genuinamente assustado com essa adaptação de seu romance. Frank Darabont descreveu o filme como o seu melhor momento na direção. King teve a ideia do romance original quando estava em um mercado do Maine. Ele havia notado que a janela da frente era feita de vidro plano e se perguntou o que aconteceria se insetos gigantes voassem para ela. Ele acabou criando uma verdadeira obra-prima do medo.
Aliás, voltando à cena inicial, David está pintando em seu quarto. A imagem que ele está trabalhando é um desenho da saga Torre Negra de Stephen King, com a imagem do pistoleiro Roland - um personagem parecido com Clint Eastwood vivendo em um mundo similar a Terra-Média.
O pôster que está sendo trabalhado por David foi, na verdade, pintado por Drew Struzan , artista famoso por seus pôsteres dos filmes Star Wars, Indiana Jones, Harry Potter, O Enigma de Outro Mundo (1982), Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), etc. Todos os pôsteres no estúdio no início do filme foram pintados por Struzan, assim como o pôster do próprio O Nevoeiro.
Humanidade disfuncional.
Não há como negar a natureza maléfica do homem, e em O Nevoeiro, vemos uma verdadeira apresentação de uma humanidade que não deu certo, que não sabe conviver, ser liderada ou até mesmo, não colocar religião em todo assunto (e agora, política). Parece uma tarefa simples: juntar esforços e o melhor de cada um, para impedir que os monstros entrem. Acredito que seria uma tarefa fácil, já que o foco é sobreviver.
Mas como o filme nos mostra, as pessoas têm prioridades e a mais importante delas é conquistar seguidores para não irem para o fundo do poço sozinhas. Não é viver, conviver ou sobreviver, mas ser seguida, independente do caminho estando certo ou não. E curioso como essa ideia é precursora dos influenciadores digitais, que proliferam irrestritamente num mar de lama chamada internet.
A facilidade que os personagens assumem narrativas extremas é tão absurda e, ao mesmo tempo, tão atuais, que as discussões mostram que nada nunca mudará enquanto o ser humano existir. A sequência do sacrifício de um militar representa, em sua totalidade, a ausência de limites dos dias atuais.
Amanda Dunfrey: Você não tem muita fé na humanidade, tem?
Dan Miller: Nenhuma, de jeito nenhum.
Amanda Dunfrey: Não posso aceitar isso. As pessoas são basicamente boas; decentes. Meu Deus, David, somos uma sociedade civilizada.
David Drayton: Claro, desde que as máquinas estejam funcionando e você possa discar 911. Mas você tira essas coisas, joga as pessoas no escuro, as assusta e pronto - adeus as regras.
Darabont e o zumbis caminhantes
Frank Darabont queria que Thomas Jane interpretasse Rick Grimes em The Walking Dead (2010) depois que eles trabalharam juntos neste filme. E no filme podemos ver diversos personagens centrais da série: Laurie Holden (Andrea), Jeffrey DeMunn (Dale), Melissa McBride (Carol); além de secundários: Juan Gabriel Pareja, Cheri Dvorak, Sam Witwer, Brandon O'Dell, Julio Cesar Cedillo e Tiffany Morgan
O Mercedes de Brent Norton esmagado por uma árvore era um carro alugado que sofreu um acidente, mas seria consertado. A produção pagou para usá-lo com o entendimento de que não iria danificá-lo ainda mais, mas a falta de comunicação fez com que esse entendimento fosse ignorado. Eles rasgaram o estofamento, amassando a carroceria, arranhando a pintura, elevando o custo consideravelmente do planejado.
Multiverso da loucura Kinginiano
A farmácia ao lado da loja Food House é chamada de "King's Pharmacy", uma referência ao autor. O próprio Stephen King já fez uma participação especial como farmacêutico na adaptação cinematográfica de seu romance A Maldição (1996).
O pai de Toby Jones, Freddie Jones, atuou em Chamas da Vingança (1984), também baseado em um romance de Stephen King.
O romance original de Stephen King também foi a inspiração para o videogame Half-Life (1998), onde cientistas de uma base militar ultrassecreta realizam experimentos com portais interdimensionais e abrem as comportas para seus habitantes hostis.
The end
E sobre o final controverso, em que eles dirigem, avistam o Behemoth e continuam dirigindo até ficarem sem gasolina. O personagem David usa a arma que ganhou de Ollie para matar seu filho, Amanda, Irene e Dan. Envolto de uma total falta de esperança, tomado pelo desespero, ele sai do carro e aguarda seu destino. Algo emerge da névoa, mas não é um monstro... é um tanque militar. A névoa começa a se dissipar e David percebe que se tivesse esperado mais cinco minutos, ele, seu filho e seus amigos teriam sido salvos.
A ironia final, após a saída do carro, foi para ele (e para nós), ver a personagem de Melissa McBride, que sai do mercado logo no início, como uma das sobreviventes, em um caminhão de resgate. A cena mostra que o medo é, em muitos aspectos, uma ilusão. Com apenas a melhor das intenções, David tenta ao longo da história proteger seu filho do mal, mas ao finalmente ceder ao medo, ele destruiu sua vida.