A HORA DO VAMPIRO (2024) - FILM REVIEW
Salem's Lot
“Às vezes, a morte é melhor.” A frase dita por Jud Grandall (Fred Gwynne) em Cemitério Maldito (1989), outra adaptação de Stephen King, sintetiza este novo retorno a Jerusalem's Lot nas telas. A Hora do Vampiro segue o escritor de sucesso Benjamin "Ben" Mears (Lewis Pullman) que retorna à sua cidade natal, Jerusalem's Lot, Maine, esperando escrever um novo romance sobre a Casa Marsten.
Ben acredita que a casa atrai espíritos maus e homens peculiares, já que ela tem muitas histórias macabras e acredita que há alguma criatura morando ali - que ele viu quando tinha apenas dez anos de idade. Mas a casa foi comprada por Richard K. Straker (Pilou Asbæk) e seu parceiro, e assim, estranhos acontecimentos atingem a cidade, como pessoas aparecendo mortas de anemia.
O problema
Os Vampiros de Salem é uma minissérie de 1979, escrita por Paul Monash e dirigida por Tobe Hooper, com duração de pouco mais de 3 horas.
A Mansão Marsten é uma minissérie de 2004, escrita por Peter Filardi e dirigida por Mikael Salomon, com duração de pouco mais de 3 horas.
O Mistério de Chapelwaite é uma série de 2021, que conta como Jerusalem's Lot se tornou referência para as criaturas da noite, por volta de 1850. Criada por Jason Filardi e Peter Filardi, com 10 episódios de aproximadamente 1 hora cada episódio
A Hora do Vampiro é um filme de 2024, dirigido por Gary Dauberman e com aproximadamente 1 hora e 40 minutos de duração.
O Fato
Stephen King criou um universo muito rico com Salem's Lot, um dos primeiros livros que ele publicou na década de 1970, e que o ajudou a consolidar sua reputação como autor de terror na comunidade editorial. O livro tem quase 700 páginas.
É nítido que, com toda sua boa intenção, há um problema grave em A Hora do Vampiro: sua curta duração. E para quem é familiarizado com o universo do livro ou mesmo as produções para TV, ao assistir ao filme, sente que faltou algo, que é o tempo de desenvolver os personagens. E sem ele, todo filme é sabotado. E mesmo sendo um bom filme, os reviews são costumeiramente ruins.
Não vi sentido em falar sobre um filme como este sem antes entender realmente o que aconteceu.
Depoimento
O roteirista e diretor Gary Dauberman revelou o tempo de execução original: cerca de... três horas. Acredite, todas as peças estavam no lugar, mas o diretor teve que cortar metade do filme por conta do medo de dispersão do público. Em suas palavras: "Há tantas coisas ótimas. É como, o que você tem que eliminar? A capacidade de atenção de um público só dura até certo ponto. Há muitas histórias secundárias e histórias B excelentes neste livro que eu amo, e foi difícil deixá-las de lado para dar mais espaço ao nosso grupo principal.
Esse foi provavelmente o maior desafio, editar a história e, em seguida, descobrir essas repercussões e esses efeitos cascata no enredo principal. Meu primeiro corte foi de cerca de três horas."
Ou seja, cortar metade do filme foi uma escolha criativa baseada em uma opinião do próprio diretor. A Hora do vampiro permanece fiel ao romance de Stephen King, especialmente em seu design de vampiro. Ele fez um bom trabalho, mas cortar os elementos que engrandecem a história em prol de agilidade narrativa foi um erro. Parece pouco, mas sabotou todo o processo.
Para efeito comparativo, imagine se Peter Jackson tivesse ignorado toda história passada na Terra Média, toda dinâmica do Condado, envolvendo Frodo, Sam, Bilbo, o Um anel, para simplesmente, mostrar um encontro aleatório da Sociedade do Anel e uma decisão repentina de unir forças para destruir o anel. Como seria? Como seria nosso envolvimento com os personagens? Como iríamos entender o quanto eles sacrificaram para a cruzada que demandará a vida de alguns deles?
O Resultado
Com ritmo acelerado, as mortes dos personagens centrais e secundários se acumulam, sem tempo para termos a menor empatia por eles. E se não nos importamos com suas mortes, por que valorizaríamos a vitória de quem consegue sobreviver ao vampiro principal?
Contexto problemático
O filme foi anunciado em 2019 e filmado em 2021, com filmagens adicionais em 2022. O lançamento do filme foi adiado várias vezes. Para quem não lembra, em março de 2020 foi decretada a Pandemia de COVID 19 e com isto, vários filmes tiveram de ser adiados, e "A Hora do Vampiro" foi um deles.
Após a Warner Bros. adiar novamente o filme em setembro de 2022, até Stephen King expressou seu descontentamento, dizendo que assistiu à produção e adorou. Ele disse não entender por qual motivo a Warner segurou tanto o filme.
E meio a isso, a Pandemia levou o caos aos estúdios e uma mudança de mentalidade, com lançamentos de ponta caindo direto no streaming. "A Hora do Vampiro" ficou preso no meio da reestruturação da Warner Bros. Discovery, onde alguns projetos quase finalizados, como Batgirl e a comédia Coyote vs. Acme dos Looney Tunes, foram cancelados devido a questões fiscais.
Os fãs temiam que a adaptação de King enfrentasse o mesmo destino, mas rumores surgiram indicando que o filme estava pronto para estrear no Max. O diretor Gary Dauberman compartilhou sua perspectiva exclusiva sobre o filme com a Vanity Fair, dizendo: "Eu tinha as mesmas perguntas que todos tinham. Este filme foi feito durante a transição para a nova propriedade, o que foi desafiador.
Em certo ponto, estava além do nosso controle. As pessoas me perguntavam: 'Onde está o filme? Onde está o filme?' Eu queria uma resposta concreta para elas, em vez de apenas dar de ombros e dizer 'Não sei'."
Para complicar ainda mais, em 2023 ainda teve a greve da SAG-AFTRA impactando muitas coisas, inclusive, a divulgação dos filmes prontos para serem lançados. Em fevereiro de 2024, King questionou mais uma vez por que ainda não havia planos de lançamento. Finalmente, em 3 de outubro de 2024, o filme foi lançado no Max.
O filme
Gary Dauberman disse que seu objetivo com a nova versão de Salem's Lot é tornar os vampiros assustadores novamente. Ele queria se afastar dos mortos-vivos mais sensuais e romantizados que infestaram a cultura pop.
Dauberman tinha recém-saído de sua estreia na direção com Annabelle 3: De Volta Para Casa de 2019, e começou a pressionar a New Line Cinema para lhe dar uma chance em Salem's Lot. A proposta de Dauberman era mantê-lo retrô, quando King o imaginou pela primeira vez.
Considerando a imersão nostálgica das eras presentes em "It" e "Annabelle", a abordagem pareceu natural. "A maioria dos seus trabalhos se passa nos anos 70. Ele roteirizou os filmes citados. Mas ao invés de buscar um resultado como na Freira 1 e 2, ele levou o filme para um thriller grindhouse, causando uma estranheza desnecessária.
"Espero que pareça uma viagem completa no final”, disse o diretor. Bom, o filme é exatamente o oposto disto. "A Hora do Vampiro" não é ágil, é apressado. Possue algumas sequências memoráveis, como a do drive-in, mas ficamos com a sensação de que foi uma aventura bela, porém vazia.
Pelo cenário caótico que o filme enfrentou, seria compreensível. Mas reduzir o filme pela metade foi decisão criativa do realizador e isso foi um erro imperdoável, principalmente por ele ter envolvimento com It, que foi um grande sucesso do cinema (o primeiro tem 2h 15m e o segundo, 2h 49m).
Poderiam, pelo menos, alterar o nome do filme para "A Meia hora do vampiro". A propaganda seria menos enganosa...
O filme sobreviveu a tantas intempéries... que merecia um filme mais completo. Como eu citei no início do texto: “Às vezes, a morte é melhor.”