A MANSÃO MARSTEN (2004) - SÉRIE REVIEW
Salem's Lot
A Mansão Marsten é uma nítida evolução narrativa em relação à produção de 1979. Do elenco à narração inicial, característica das adaptações de uma obra de King, geralmente feita por um escritor.
Na história, quando tinha só 9 anos Ben Mears (Rob Lowe) concordou em passar a noite na macabra mansão Marsten. Para o seu infortúnio, Ben viu os corpos que foram resultado de um escandaloso pacto de assassinato e suicídio. Décadas depois, ele se tornou um escritor, que volta para Jerusalem's Lot, sua terra natal, mas ainda carrega as traumáticas memórias da sua infância.
Ben descobre que Richard Straker (Donald Sutherland), o misterioso dono de um antiquário, e Kurt Barlow (Rutger Hauer), o desconhecido sócio de Straker, pois nunca é visto, vivem agora na mansão Marsten. Logo, moradores começam a desaparecer e morrer, voltando voando até as janelas dos familiares e pedindo para serem convidados a entrar. Ben e alguns outros suspeitam da terrível verdade que atingiu a cidade, algo bem profano que tem ligações com a mansão sinistra.
Benjamin Button
A história começa com uma reflexão que me lembrou "O Curioso Caso de Benjamin Button", sobre voltar para casa anos depois e perceber como tudo muda, mesmo parecendo que está tudo igual. A mudança no caso, é interna. A percepção do ambiente muda e começamos a vê-lo de maneira diferente.
Há diferenças significativas entre a versão de 1979 e esta de 2004. A atmosfera do primeiro é melhor, bem como o visual do vampiro Kurt Barlow, ainda que ele apareça pouco mais de um minuto. Isto talvez seja tão marcante que cause certo desconforto não os ver na nova versão.
O Richard Straker de James Mason foi melhor que Donald Sutherland por que, Donald sempre foi muito canastrão em papéis vilanescos. Aliás, quanto aos atores, há uma curiosidade: Sutherland morreu exatamente 20 anos depois da estreia desta minissérie (20 de junho de 2024). Ele tinha 88 anos. Sua morte ocorreu apenas algumas semanas antes do 40º aniversário da morte de James Mason, que morreu em julho de 1984. Mason também interpretou o personagem Richard Straker na adaptação original para o cinema de Os Vampiros de Salem (1979), 25 anos antes desta.
Mas continuando...
Ainda que, elementos marcantes da adaptação de 79 não estejam presentes, esta versão de 2004 é, na verdade, muito melhor. Rutger Hauer foi um dos grandes atores do cinema e dar a ele o papel de Kurt Barlow foi a cereja do bolo de uma carreira inesquecível. Todo elenco de coadjuvantes se destaca mais além do ator principal, Rob Lowe ser infinitamente mais carismático que David Soul.
A direção e o roteiro são melhores, os personagens mais complexos e as subtramas são melhor desenvolvidas. Na primeira versão, a cidade parece menor, e por tanto, mais ameaçadora. Nesta de 2004, Jerusalem's Lot parece uma cidade de médio porte, distanciando um pouco daquela sensação que temos em adaptações de King, de que todos se conhecem, como uma cidade do interior.
O próprio prólogo, que no de 79 é em uma igreja, aqui é em um hospital, aparentemente numa metrópole. A versão de Salomon retrata Ben como um homem tão devastado pelo trauma que não consegue escapar de suas memórias, levando-o a voltar para Jerusalem's Lot, Maine. Em contraste, Ben Mears de Tobe Hooper é mais contido em estabelecer sua ligação com a cidade e a Mansão Marsten.
O personagem de Lowe é assombrado repetidamente ao longo da minissérie, e com isso se torna empático, porém profundamente falho devido à sua natureza um pouco arrogante. Essa característica o torna mais crível e relacionável do que o personagem de Soul.
Basicamente, é como se o diretor tivesse incorporado à trama, o vampiro Jerry Dandridge de "A Hora do Espanto", o que é bem curioso porque a primeira versão de Vampiros de Salem influenciou bastante Tom Holland na concepção do seu filme, principalmente a cena em que Billy Cole (Jonathan Stark) morre na escada, que é praticamente idêntica à morte do personagem de Mason na minissérie de 1979.
Rob Lowe compartilhou uma experiência desafiadora ao trabalhar com Rutger Hauer. Lowe descreveu um incidente durante a gravação, onde o clímax envolvia o vilão fazendo um monólogo de duas páginas para provocar sua própria morte. Hauer improvisou um discurso diferente do roteiro, transformando um vampiro em um cowboy no solilóquio. Apesar da tentativa, o diretor não ficou satisfeito.
Após uma negociação tensa, o ator foi obrigado a descartar sua versão e seguir o roteiro original, mas havia um problema: ele não havia memorizado as falas. Devido à falta de tempo para que Hauer aprendesse o texto, o monólogo teve que ser escrito em cartões e colocados ao lado da cabeça de Lowe durante a cena, para que o ator pudesse se orientar.
São momentos como estes que fazem a história de um ator. Mas sorte que Hauer não precisava dele para ser "inesquecível", afinal, ele nos deu o monólogo de Blade Runner. E estranhamente, faz muito sentido em Mansão Marsten: "Todos esses momentos ficarão perdidos no tempo, como lágrimas na chuva".
"Hora de morrer..."
O Kingverso da loucura na Mansão Marsten é tímido, mas está lá. Há um personagem cantando a música tradicional de Conta Comigo (1986) em um karaokê; há um corvo parado em uma posição similar à que vemos em Dança da Morte (1994); na época da produção, James Cromwell (Callahan) era casado com Julie Cobb, que interpretou Bonnie Sawyer na adaptação anterior Os Vampiros de Salem (1979).
E ao contrário de sua contraparte na minissérie, o padre Donald Callahan (James Cromwell) sobrevive no livro e apareceu na série épica de Stephen King , "A Torre Negra".
Finalizando...
Sempre haverá o público que gostará mais de uma versão que da outra por motivos pessoais. Porém, meu conselho continua o mesmo: aproveite da melhor forma o melhor dos dois mundos. Um remake é apenas outro filme e seu resultado pode merecer ou não, ser apreciado. Mas jamais, comparado.