CARRIE, A ESTRANHA (2002) - FILM REVIEW
Carrie
Revendo Carrie, a versão de Bryan Fuller, me deparei com um pensamento totalmente errôneo: de que o filme envelheceu mal. Este pensamento é um exemplo de Etarismo (preconceito, discriminação e os estereótipos em relação à idade). Com virtudes e defeitos, cada filme é uma obra de seu tempo, sem qualquer obrigação de evoluir com os anos. E esperar isto de uma obra pronta, é estúpido.
Exigir que um filme "envelheça" é sugerir que ele tenha vida própria e um ciclo de vida, como nós. Isto jamais deveria ser uma opção. Carrie, A Estranha é um retrato dos filmes feitos para TV da época.
Baseado em um dos maiores sucessos do mestre do horror Stephen King, “Carrie, A Estranha” conta a história da jovem Carietta ‘Carrie’ White (Angela Bettis): uma adolescente solitária e dolorosamente tímida, lentamente levada à beira da insanidade pelo bullying frequente de seus colegas de classe e de sua mãe dominadora e religiosa (Margaret White). Afetada pelos constantes maus-tratos, Carrie descobre que tem poderes telecinéticos, e ela começa a reagir, instintivamente, aos maus tratos.
King e o fanatismo religioso
O fanatismo religioso é um tipo de extremismo marcado por uma devoção incondicional e fervorosa a uma ideologia ou crença religiosa específica. Geralmente, os fanáticos religiosos também são intolerantes em relação a outras crenças religiosas.
O autor disse que "religião é uma ferramenta perigosa" e que tinha dúvidas sobre a religião organizada desde a infância. King afirmou que "a beleza do fanatismo religioso é que ele tem o poder de explicar tudo". Uma ironia que pode ser conferida em Carrie, numa cena específica. A mãe de Carrie, que é fanática, cita Ezequiel 13: "Ai da mulher que faz roupas com propósito lascivo, pois ela é arrogante, amaldiçoa e rejeita o Senhor."
Carrie retruca: "Às vezes eu acho que você inventa estas coisas".
De fato, ela inventou. Ezequiel 13 na realidade é: "Portanto assim diz o Senhor DEUS: Fendê-la-ei no meu furor com vento tempestuoso, e chuva de inundar haverá na minha ira, e grandes pedras de saraiva na minha indignação, para a consumir."
Carrie reflete a dura realidade de indivíduos que enfrentam a opressão de uma família fanática que utiliza a religião como instrumento para controlar, punir e restringir a liberdade pessoal.
Essas vítimas também se veem desamparadas diante das constantes torturas infligidas por colegas na escola, que se sentem superiores e descarregam suas frustrações naqueles que não conseguem se defender. Os momentos mais angustiantes do filme são aqueles em que a protagonista é alvo desses ataques cruéis, tanto por parte de suas colegas quanto de sua própria mãe.
É sufocante testemunhar a ausência de paz de Carrie, tanto na escola quanto em casa, levando uma existência repleta de dor, temor e desesperança. Parece que só a morte é a solução para ela.
Kingverso da loucura
Não são referências, mas há vários atores de outras adaptações de Stephen King: David Keith (Detetive John Mulchaey) foi Andy McGee em Chamas da Vingança (1984); Patricia Clarkson (Margaret White) retratou Melinda Moores em À Espera de um Milagre (1999); Kandyse McClure (Sue Snell) interpretou Vicki em A Colheita Maldita (2009); e Chelan Simmons apareceu como Laurie Anne em It - Uma Obra Prima do Medo (1990).
Além disto, o diretor de fotografia Victor Goss começou sua carreira usando uma câmera de 16 mm que ele comprou de Mario Tosi, o diretor de fotografia de Carrie, a Estranha (1976).
Adendos
Bryan Fuller adicionou mais alguns diálogos positivos sobre religião depois que David Keith pediu para fazê-lo, para que o filme não parecesse abertamente anti-religião. Um exemplo é quando Carrie faz declarações sobre sua própria fé em oposição às visões de sua mãe.
Fuller editou certas cenas para parecer que Carrie não piscava enquanto usava seus poderes telecinéticos. Uma dessas cenas que cortou o piscar de olhos de Angela Bettis foi o massacre do baile.
O filme apresenta a personagem Norma Watson do jeito que ela foi escrita no romance. Na adaptação de Brian De Palma, "Carrie" (1976), ele escolheu uma personagem aleatória para PJ Soles interpretar, porque ele gostou da audição dela. Ela originalmente interpretaria uma personagem sem importância, mas ela improvisou o momento em que ela bate em Carrie com seu boné de beisebol na cena de abertura, o que De Palma gostou tanto que expandiu seu papel no filme.
Ele a chamou de Norma Watson, que era a oradora da turma inteligente no romance, quando ela era mais parecida com a outra personagem, Tina Blake, que é a melhor amiga de Chris Hargensen.
Esta é a única versão de "Carrie" em que a mãe de Carrie, Margaret, morre da mesma forma que morreu no romance: de um ataque cardíaco causado por Carrie em pânico. É também a única em que a personagem título realmente sobrevive ao incidente do baile e é levada para a Flórida por Sue Snell após fingir sua morte para que ela possa começar uma nova vida.
Na cena do baile, Carrie olha para cima e vê o balde sendo virado após notar gotas de sangue pingando nela. É o único filme que isto acontece, já que nas demais versões, ela não nota.
Devido à diferença nos valores sociais e uma mudança de leis nas décadas seguintes, fumar não poderia mais ser retratado no terreno da escola neste filme; além disso, a Sra. Desjardin não teria sido capaz de dar um tapa em Chris Hargensen e ainda manter seu emprego. Os cineastas compensaram isso fazendo com que ela simplesmente jogasse Chris contra um armário.
Mesmo com os intervalos comerciais contabilizados, o filme foi inicialmente considerado muito curto para ser exibido na televisão (afinal, foi pensado como piloto de uma série) e se encaixar no cronograma de tempo estipulado, então os cineastas foram forçados a filmar cenas extras para aumentar o tempo de execução, arrastando a duração do filme para 132 minutos.
Essas cenas incluem a cena da pista de boliche com Sue, Tommy, Chris e Billy; a cena da sala de aula onde Carrie telecineticamente quebra sua mesa e entorta sua régua; a cena da farmácia com Carrie e Sue; e a cena da aula de educação física onde Chris confronta Carrie e tenta fazer gaslighting com ela e colocá-la contra Sue.
Ao contrário das versões de 1976 e 2013, esta mostra que Carrie não tem controle sobre suas ações telecinéticas e que elas são ativadas por seu subconsciente que assume o controle quando ela se encontra em uma situação particularmente estressante. Nas outras versões, Carrie está ciente do que está fazendo com seus poderes; no entanto, esta versão mostra que ela está em transe quando eles se manifestam.
Perto do final do filme, ela sai do transe sem nenhuma lembrança do que aconteceu no baile. Isso foi provavelmente feito para torná-la mais simpática e menos responsável pelo assassinato em massa que ela havia cometido.
Sobre isso, Fuller disse: "Carrie não é uma assassina e, especialmente a maneira como Angela a retrata, ela é uma alma simpática e doce. Sissy Spacek a retratou apenas como uma vítima. Angela dá à personagem um núcleo tão forte, e sentimos que não poderíamos transformar essa personagem que era tão doce em uma assassina e então matá-la. Queríamos dar a ela outra chance. Queríamos vê-la florescer e triunfar sobre isso em vez de perder novamente".
De fato, Carrie viveu. Mas a tentativa de dar vida a algo maior morreu na praia...