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LOVE: A HISTÓRIA DE LISEY (2021) - SÉRIE REVIEW

 


LOVE: A História de Lisey

Lisey é mais uma história pessoal para Stephen King, daquelas que ele afirma ser seu melhor livro (falou de vários outros trabalhos da mesma forma). Há muitos elementos de sua vida na trama, além de muitas alternativas visuais comuns em sua literatura, como corvos, energia vital sendo passada pela boca para outra pessoa, escritor, alcoolismo, enfim, King.

Em LOVE, dois anos depois da morte de seu marido, Lisey Landon decide que está a hora de ir até seu escritório e começar a limpar toda a papelada. Scott Landon era um romancista de best-sellers e Lisey passa a ser assediada por pessoas que desejam comprar seus trabalhos não publicados, mas ela está determinada a não deixar isso acontecer. Quando começa o processo de limpeza, um estranho homem entra em contato com ela e diz que, caso não entregue os papéis, Lisey sofrerá as consequências.


Os episódios são dirigidos por Pablo Larraín, que também assina o roteiro ao lado de King. J.J. Abrams assume o papel de produtor e o elenco inclui Clive Owen, Dane Dehaan, Joan Allen, Jennifer Jason Leigh e claro, Julianne Moore.

Dando vida à morte

"Lisey's Story" é um romance de terror psicológico escrito por Stephen King e publicado em 24 de outubro de 2006. A obra recebeu o Prêmio Bram Stoker de Melhor Romance em 2006, além de ter sido indicado ao Prêmio World Fantasy em 2007. Porém, parte inicial do romance, intitulada "Lisey and the Madman", foi publicada em McSweeney's Enchanted Chamber of Astonishing Stories (2004) e recebeu uma indicação ao Prêmio Bram Stoker de Melhor Ficção Longa em 2004.


A inspiração para a história de Lisey teve origem em um incidente em 2003, quando Stephen King contraiu pneumonia dupla. Enquanto estava no hospital, sua esposa, Tabitha, optou por redesenhar seu estúdio. Ao retornar do hospital e deparar-se com seus livros e pertences encaixotados, King teve uma visão de como seu estúdio ficaria após sua morte.

Em agosto de 2017, Stephen King manifestou interesse em ver sua obra adaptada para a televisão: "A história de Lisey é meu livro favorito e adoraria vê-lo ganhar vida, especialmente agora com a crescente abertura nos serviços de streaming e as redes de TV a cabo. 


Há mais liberdade criativa atualmente, e ao adaptar um livro para filme, muitas vezes nos deparamos com a 'síndrome de tentar enfiar tudo em uma mala'. É como tentar colocar todas as roupas de uma vez e a mala simplesmente não fecha. É desafiador condensar um livro rico em detalhes em apenas duas horas e dez minutos. Mas com uma série de TV, temos 10 horas para explorar."

Em abril de 2019, foi divulgado que a Apple Inc. adquiriu os direitos do romance e encomendou oito episódios diretamente para a série, a ser transmitida na Apple TV+, com todos os episódios escritos por King. Em agosto de 2019, o diretor foi contratado.


Entre piscinas, corvos e um monstro

Os personagens vagam entre um realismo onírico e um surrealismo visceral. Se não viu sentido na frase, é porque ainda não compreendeu que é uma história de fantasia, onde elementos reais, na maioria das vezes, ganham tons fantásticos em prol de um fim: a mensagem.

Há elementos visuais marcantes, que norteiam a história para o telespectador compreender melhor o que esta acontecendo, como o corvo, muito utilizado por King em suas histórias. Imortalizado por Edgar Allan Poe (que simbolizavam a solidão e a morte), os corvos do Stephen King são, em parte, a conexão entre o mundo dos vivos e o mundo espiritual.


Outro ponto marcante na história é a piscina, que vemos diversas vezes a personagem, vivida por Moore, mergulhada, principalmente com metade do rosto para fora. Ainda que as piscinas simbolizem renovação, purificação (limpeza física e espiritual) e a necessidade de reflexão e contemplação, King faz uso destas representações para colocá-las como características intrínsecas do seu significado principal: ser um portal para outras dimensões. A piscina faz uma conexão com o inconsciente, representando o elo com aspectos mais profundos da psique e a exploração do subconsciente.

Por fim, outro elemento mostrado em momentos pontuais da série é o monstro, o qual é a manifestação do "mal-interior" dos personagens, especialmente do personagem principal, Lisey. Ele simboliza o trauma e a dor reprimida que assombram Lisey e os outros personagens. É uma representação visual das feridas emocionais e psicológicas profundas que precisam ser confrontadas e curadas.


E sua função é ser um catalisador para que os personagens confrontem seu passado e lidem com os demônios internos que tentaram reprimir. Ele força Lisey a enfrentar memórias dolorosas e a reconstruir sua relação com seu falecido marido, Scott.

O monstro, reforça a dualidade da natureza humana, mostrando como as pessoas podem ser tanto vítimas quanto perpetradores de sofrimento. Ele destaca os conflitos internos e a complexidade das emoções humanas.


Entre a procrastinação e a memória reprimida

A série explora temas de memória e trauma, e esses elementos são simbolizados de várias maneiras ao longo da narrativa. Os flashbacks e as recordações de Lisey revelam camadas profundas de emoção e significado, destacando a importância do passado na construção do presente.

Por exemplo, quando lamenta sua perda, Lisey se lembra das muitas vulnerabilidades de Scott. Ela recorda da época em que Scott se abriu sobre a excentricidade que permeia sua família. Memórias como essa atingem Lisey como o fluxo e refluxo da maré.


Através do sofrimento de Lisey, Stephen King ilustra a monotonia de enfrentar cada dia após a perda de um familiar. Lisey se esforça ao máximo para continuar sua jornada agarrando-se às lembranças. É somente por meio dessas que ela percebe que Scott a conduz em direção a Boo'ya Moon, um mundo que evoluiu da fantasia infantil para a imaginação adulta. 

Lá, ela sente a possibilidade de reencontrá-lo, e talvez uma maneira de superar seu luto.

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