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O TELEFONE DO SR. HARRIGAN (2022) - FILM REVIEW


O Telefone do Sr. Harrigan.

Texto: M.V.Pacheco

Revisão: Thais A.F. Melo


Falar de filmes ou séries que adaptam o universo de Stephen King virou para mim uma obrigação. E mesmo quando tenho dúvidas, basta eu escutar o nome Maine no início, que um multiverso se abre na minha mente. E um que faz muito mais sentido que o da Marvel ou DC.  

As tramas costumam envolver vampiros, ataques de monstros ou pessoas aparentemente normais, como em Eclipse total, O aprendiz ou Lembranças de um verão. E "O telefone do Sr. Harrigan" dialoga muito bem com estes três últimos. 

Na história, o adolescente Craig (Jaeden Martell) sofre bullying e não tem uma vida fácil no colégio. Ele se torna amigo do solitário idoso Sr. Harrigan (Donald Sutherland) e passa a visitá-lo com frequência. Certo dia, Craig decide comprar um smartphone de última geração para presentear o amigo. Porém, dias depois uma fatalidade acontece e Harrigan morre repentinamente. 

De forma simbólica, ele é enterrado com o celular no bolso. Na mesma semana, Craig busca conforto deixando mensagens na caixa postal do falecido amigo, que passa a responder do outro lado, deixando um rastro de morte e vingança pela cidade.

O bullying

Os personagens de King, de maneira bem marcante, sofrem bullying constantemente, E o autor faz de personagens específicos (ou habilidade), seus anjos vingadores, que limam o mal que o próprio autor sofria em sua vida desde a infância. Aqui, o Sr. Harrigan desempenha este papel. 

O universo fantástico de King entra em cena com a morte do personagem que se torna uma espécie de Ben Kenobi do garoto, já que ele passa a ter uma participação mais definitiva na vida dele após sua morte, que nos parece proposital. Quem se lembra do confronto com Vader em Guerra nas estrelas (1977), quando Ben permite que Vader o transpasse com o sabre de luz, para que ele retorne mais forte, em espírito?

King nunca falava muito sobre seus anos de ensino médio, dizendo que odiava aquele período. E ele ainda dizia que se você gostava de ser adolescente, é porque havia algo errado com você. O personagem do garoto só queria ser ouvido e como ele mesmo pontua, trocaria a herança recebida após a morte do amigo pelos momentos que passavam juntos. 

O autor, de certa forma, conseguiu que as pessoas o escutassem e ainda ficou rico com isso. O melhor dos dois mundos. Interessante como a trama traça um paralelo com o poder do autor, que pode ou não eliminar abruptamente personagens que não gosta, se arrepender e não ser punido por isto.

O filme tem dois nomes bem interessantes na produção: Jason Blum e Ryan Murphy. O primeiro é o fundador da Blum House. uma produtora, com sede em Los Angeles, que se tornou sinônimo de filmes excelentes, com orçamentos baixíssimos e com ótimos retornos financeiros. Basta citar obras como Atividade Paranormal, Corra, Entidade, Uma noite de crime e  Sobrenatural. Inclusive vários viraram franquias. Até nomes como M. Night Shyamalan encontraram refúgio na Blumhouse para se restabelecerem.

O modelo da empresa segue a  produção de filmes com um orçamento pequeno, dar liberdade criativa a seus diretores e lançá-los amplamente no sistema de estúdio. 

Ryan Murphy é um nome ligado a produções fortes e de sucesso como Feud, American Horror Stories, Dahmer, 9-1-1, American Crime Story, Ratched, entre muitas outras. Com este pedigree, era de se esperar que o filme fosse no mínimo interessante.

O contraponto talvez fique por conta da direção, o irregular John Lee Hancock, que faz bons filmes, com potencial de serem memoráveis,  não alçarem voos maiores, como O Álamo, Fome de poder, Estrada sem lei, Os pequenos vestígios e Walt nos Bastidores de Mary Poppins. Ele não sabota, muito menos compromete o resultado, mas o torna apenas a adaptação que muitos esquecerão que foi lançada. 

O longa é uma produção original da Netflix baseada na coletânea "Com Sangue". Jaeden Martell já estrelou outra adaptação de um livro de King, It: A Coisa (2017). Curioso notar que o ator Kiefer Sutherland faz o praticante de bullying e valentão de plantão em Conta comigo, obra-prima de 1985, uma das melhores adaptações de uma obra do Rei. Já aqui, o vingador é vivido pelo pai de Kiefer, Donald Sutherland (hoje com 87 anos). 

O multiverso de Stephen King é tão rico, que faz a gente inventar narrativas e ainda dar algum sentido a elas. Mas afinal, não é exatamente isto que o escritor faz?

 

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