STARMAN - O HOMEM DAS ESTRELAS (1984) - FILM REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
O ótimo Starman parece um filme oportunista, feito por conta de alguma obrigação com o estúdio, com um diretor completamente desconectado da trama. E ainda escalaram a atriz de Os Caçadores da Arca Perdida, dirigido por Spielberg, que também fez E.T, cujo Starman parece querer copiar.
Mas a história por trás não descredencia Starman como uma das melhores obras de John Carpenter. Na trama, tendo colidido na Terra após sua nave espacial ser atingida por caças americanos, um viajante extraterrestre tem que assumir uma identidade humana para não ser preso pelas autoridades. O alienígena escolhe ter a aparência de Scott (Jeff Bridges), o marido de Jenny Hayden (Karen Allen), que faleceu recentemente.
Após o choque inicial, Jenny se amedronta diante de seu "convidado", mas gradualmente ele ganha sua confiança ao aprender algumas frases básicas em inglês que podem explicar sua presença. O "homem das estrelas" veio para a Terra com uma mensagem de paz em resposta à mensagem mandada pela sonda espacial Voyager One, em 1977.
Ele pede que Jenny o ajude, levando-o até o deserto de Nevada, onde encontrará seus amigos que o levarão de volta ao seu planeta. Eles se unem contra o Conselho de Segurança Nacional, comandado por George Fox (Richard Jaeckel), que pretende deter e, se possível, exterminar "Scott". Paralelamente, ele aprende a ser mais humano e assume cada vez mais as qualidades do marido de Jenny, enquanto ela se apaixona pelo alienígena, pois vê nele Scott.
Bastidores
Starman passou cinco anos em desenvolvimento na Columbia. O roteiro original de Bruce A. Evans e Raynold Gideon foi comprado pelo estúdio a pedido do produtor executivo Michael Douglas, pouco antes de adquirir Night Skies, de Steven Spielberg. O roteirista Dean Riesner entrou na produção no final de 1981, depois que o diretor Mark Rydell deixou o projeto devido a diferenças artísticas com Douglas.
Riesner trabalhou em sete reescritas de Starman com seis diretores diferentes, mas não recebeu crédito na tela porque, segundo ele, "o Writers Guild, em sua infinita sabedoria, decidiu que eu não contribuí com 50% do roteiro". Outros escritores não creditados que trabalharam no roteiro foram Edward Zwick e Diane Thomas .
A Columbia abandonou Night Skies, com enredo semelhante a Starman, alegando que é uma história mais parecida com a Disney voltada para crianças, enquanto Starman era para um público mais maduro. Night Skies acabou sendo renomeado como ET: O Extraterrestre que se tornou o filme de maior bilheteria de seu tempo. Depois, Riesner comentou: "Isso mostra o quão errado você pode estar neste negócio."
De acordo com Riesner, o estúdio não queria fazer os dois, então o chefe do estúdio teve que escolher qual filme fazer; ele decidiu fazer este e deixar o outro roteiro ir para um estúdio rival. ‘Starman’ ficou engavetado por quase três anos antes que o estúdio Columbia Pictures concordasse em lançá-lo.
Os seis diretores do filme, desde o desenvolvimento até a produção, foram, em ordem de inclusão: Mark Rydell, Adrian Lyne, John Badham, Tony Scott, Peter Hyams e John Carpenter. Adrian Lyne trabalhou no filme por um curto período até sair para fazer Flashdance: Em Ritmo de Embalo (1983) na Paramount Pictures. John Badham substituiu Lyne como diretor. Quando ET: O Extraterrestre (1982) foi lançado, Badham achou que os dois filmes eram muito parecidos e saiu para ir para a United Artists fazer Jogos de Guerra (1983) .
O Homem das Estrelas
Segundo John Carpenter no comentário em áudio de Os Aventureiros do Bairro Proibido (1986), a principal razão pela qual dirigiu O Homem das Estrelas (1984) foi devido ao desastre de bilheteria de O Enigma de Outro Mundo (1982); ele precisava fazer um filme que fosse totalmente oposto para garantir sua empregabilidade em Hollywood.
O produtor Michael Douglas não poderia ter ficado mais satisfeito com a escolha de John Carpenter para dirigir o filme. Douglas disse: "John é uma ótima escolha para 'Starman'. Ele tem um grande senso de estilo e lida com a ação com maestria. Eu sabia que ele estava ansioso para dirigir um filme que fosse essencialmente uma história de amor, que dependesse exclusivamente de como lidar com os relacionamentos entre as pessoas e o desenvolvimento do seu caráter”.
Carpenter era conhecido na época principalmente por seu grande sucesso como diretor de filmes de terror como Halloween - A Noite do Terror (1978), A Bruma Assassina (1980) e Christine, o Carro Assassino (1983). Douglas acrescentou: "É claro que as pessoas não viram esse lado de John e ficarão surpresas ao ver como ele lida bem com uma história de amor, uma comédia, um romance terno e comovente".
O ator Jeff Bridges estudou ornitologia e o comportamento dos pássaros para se preparar para seu papel como um alienígena em forma humana neste filme. Bridges usou particularmente os movimentos repentinos e bruscos da cabeça, entre outras nuances e maneirismos, dos pássaros em seu personagem Starman. Bridges imaginou que o alienígena não teria características humanas e, estando envolto em um corpo humano, agiria com instintos animais primitivos.
Quando Jeff Bridges sai de casa nu e usa uma 'bola de gude', seu cabelo parece arrepiar. Na verdade, esse efeito foi criado filmando Bridges pendurado de cabeça para baixo. Seu pai, Lloyd Bridges, fez uma cena semelhante - embora cômica - em 'Apertem os Cinto... O piloto Sumiu (1980)'.
Jeff Bridges, que interpreta o personagem-título, mais tarde estrelaria K-Pax: O Caminho da Luz (2001), onde interpreta um psicólogo tratando de um homem (Kevin Spacey) que afirma ser um visitante extraterrestre. Curiosamente, no romance original “K-PAX”, o visitante extraterrestre é fã do filme Starman.
Starman
O filme explora temas de amor, conexão e compreensão, investigando a profunda jornada emocional de seus personagens. Captura a essência das emoções humanas e retrata o poder da empatia e da compaixão. E sutilmente, o alienígena mostra, à sua forma, porque ser vegano é um ato de amor.
A química entre Jeff Bridges e Karen Allen é palpável. O relacionamento em evolução e o afeto genuíno que desenvolvem um pelo outro acrescentam profundidade e emoção ao filme. E é curioso que, ainda que Karen tenha a ligação visual imediata com o alienígena, ela começa a gostar dele pelo que ele realmente é, resultando em uma história cativante e completa.
“Starman” é logicamente um filme, uma obra de ficção. Mas é também um convite à reflexão.
O alienígena tem uma passagem breve pela Terra. Mas marcante. Podemos, dai, traçar um paralelo com nós mesmos, cuja passagem por este planeta também é breve. Em poucos atos, ele traz um animal de volta a vida, abatido por um caçador, e traz uma mulher de volta a vida, que jazia perdida entre os pensamentos que convergiam para as lembranças do marido que havia morrido.
Não parece muito, mas se cada pessoa no mundo cuidasse apenas um pouco da natureza, influindo fauna e flora, e se cada pessoa investisse na felicidade de alguém para a construção de um lar harmonioso, o mundo, certamente, seria outro.
Eu faço a minha parte. E você? Faz a sua?