A HORA DO ESPANTO - SAGA REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
🔷 A Hora do Espanto (1985)
Não consigo dimensionar minha paixão pelo filme "A Hora do Espanto". E são muitos fatores que construíram minha história com o a produção. Uma dos mais importantes é a minha relação com a trilha sonora. Era comum, nos anos 90, você conseguir comprar trilhas, em LP ou CD, dos filmes populares da época, sem necessidade de importar. Como sempre colecionei, chegou um momento que comecei a importar, como o score do filme Armagedon, que aqui, só havia sido lançado o soundtrack, com as músicas cantadas.
E um fato marcou minha vida até hoje: nunca consegui comprar a trilha do filme, soundtrack ou score (principalmente). Mas ela sempre foi presente na minha vida. Quando eu tinha em torno de 16 anos, utilizei um gravador de fita K7 que captava o som ambiente e gravei as partes da trilha que eu gostava. Ouvi incessantemente por décadas. Tenho ela até hoje.
Mas claro, um dia veio o torrent, e salvou o dia. Depois o Spotify, e minha vida foi facilitada e com qualidade. Mas curiosamente, não comprei a trilha. Eu assisti ao filme, entre 1986 e 1988, em VHS "pirata", meio comum numa época que quase nada havia sido lançado no Brasil. Minha relação com o filme, que sempre foi estreita, chegou em um nível que jamais esperei: entrevistei, 30 anos depois de ver o filme, o diretor Tom Holland e o ator Jonathan Stark, que faz o personagem Billy Cole, o vampiro chaveirinho do milenar Jerry Dandridge (interpretado por Chris Sarandon).
Algumas curiosidades sobre o filme que lerá a seguir, foi o próprio diretor que me passou. E em alguns casos, o ator. Na trama, o adolescente Charley Brewster, fã do programa de terror da televisão "A Hora do Espanto", apresentada por Peter Vincent, está em sua casa quando vê pela janela de seu quarto a chegada de novos vizinhos.
Charley já tinha sido visto pelo vampiro, que agora percebe que o rapaz sabe quem ele é.Mas o fato de que, justamente a namorada de Charley, Amy, parece ser uma reencarnação de um antigo amor de Jerry. Dessa forma, o vampiro e o adolescente entram em rota de colisão.
Na época das filmagens, o estúdio investia todos os esforços para fazer sucesso com Perfeição (1985) e também dava grande prioridade a História de um Amor (1985) . “Ninguém prestou atenção em A hora do Espanto”, comentou o diretor Tom Holland . "Foi maravilhoso!"
A gênese do filme veio quando Tom Holland quis fazer uma história de vampiros cruzada com A Maldição da Lua Cheia (The Boy Who Cried Wolf, de 1973). Evitando o uso de efeitos especiais em detrimento de uma boa atuação, Holland incluiu muito humor, cordialidade e relacionamentos. Ele também queria torná-lo válido para um público moderno, enraizando-o na realidade, daí o cenário suburbano.
Foi ideia de Chris Sarandon fazer Jerry comer maçãs durante todo o filme. Enquanto pesquisava a tradição dos vampiros, Sarandon olhou informações sobre morcegos e concluiu: “Jerry tinha muitos morcegos frugívoros em seu DNA”.
Por causa de suas raízes teatrais e das longas horas passadas na cadeira de maquiagem, Chris Sarandon ajudou a aplicar sua própria maquiagem de vampiro e muitas vezes trabalhava nas extensões dos dedos enquanto os maquiadores colocavam aparelhos em seu rosto.
Montando o quebra-cabeças
O diretor Tom Holland procurou Brad Fiedel para fazer a trilha sonora do filme porque ficou impressionado com a trilha de O Exterminador do Futuro (1984). E como se não bastasse, uma direção inspirada, uma trilha maravilhosa em uma ambientação perfeita, ainda tinha o ator inglês Roddy McDowall (1928-1998), muito lembrado por suas atuações como os chimpanzés Cornelius e Caesar na franquia clássica do cinema O Planeta dos Macacos (1968/1973).
Eu paricularmente, acompanho o ator desde Como Era Verde o Meu Vale, cássico de John Ford onde Roddy protagoniza uma das cenas mais dolorosas do cinema. No filme, de 1941, Roddy ainda era criança, o que fez sua atuação ainda mais memorável. Em "A Hora do Espanto", uma das máscaras de Planeta dos Macacos é visível no apartamento de Peter Vincent. Aliás, o personagem Peter Vincent tem o nome de dois atores conhecidos por suas participações em filmes de terror: Peter Cushing e Vincent Price.
Ao interpretar Peter Vincent, McDowall baseou a personalidade cinematográfica de seu personagem em alguns atores ruins dos filmes que ele assistia quando criança. Por exemplo, para retratar como seu personagem reagiu ao medo, McDowall se inspirou em O Leão de O Mágico de Oz (1939) .
Jonathan Stark fez o teste com a cena em que está sendo questionado pelo detetive (que no filme é interpretado por Art Evans). A cena foi escrita para ser interpretada de maneira direta, mas Stark decidiu interpretá-la comicamente, o que lhe rendeu o papel. Curiosamente, a cena final filmada por Stark foi a introdução de seu personagem pintando a janela.
Charlie Sheen fez o teste para o papel de Charlie Brewster, mas o diretor decidiu que sua aparência não combinava com o personagem, então William Ragsdale foi finalmente escalado. “Charlie Sheen foi um herói”, comentou Tom Holland em entrevista ao The Projection Booth. "Bill Ragsdale, no papel de Charlie Brewster, era o vizinho."
Grande parte do orçamento de 9,5 milhões do filme foi gasto em efeitos especiais (foi o primeiro filme de vampiros a gastar 1 milhão em efeitos especiais). Um personagem criado para o rosto monstruoso da bibliotecária fantasma em Os Caça-Fantasmas (1984) foi rejeitado por ser assustador demais para um filme PG.
Quando a equipe do FX posteriormente começou a trabalhar neste filme, eles perceberam que o modelo rejeitado se parecia com o morcego vampiro que eles criaram, então eles o reaproveitaram e utilizaram para a destruição ardente do vampiro.
Raízes
Tom Holland disse que a cena com Billy Cole subindo a escada atrás de Peter e Charley foi inspirada em Às Voltas com Fantasmas (1948), também conhecido como Abbott e Costello contra Frankenstein.
O diretor encorajou cada um dos atores a escrever biografias de uma a duas páginas para que pudessem compreender completamente seus personagens e motivações e serem capazes de recorrer a essas informações para obter subtexto.
Por exemplo, Roddy McDowall criou o background para o programa de TV 'Fright Night' dentro do filme: Peter Vincent teve pouco sucesso interpretando um assassino de vampiros em uma série de filmes na década de 1960, e sua carreira foi interrompida 15 anos antes do filme acontecer.
Tentando ganhar a vida, Vincent concebeu o programa de TV 'Fright Night' e viajou com ele para vários mercados sindicalizados nos Estados Unidos. “Ele passou seis meses em Iowa, seis meses em Podunk”. Este contexto não é usado no filme, mas dá camadas ao personagem, para o ator trabalhar.
Tom Holland teve controle total na escolha do elenco. A única sugestão que recebeu foi de Guy McElwaine, que pediu a Holland que conhecesse seu amigo. Roddy McDowall
O filme presta inúmeras homenagens a Os Vampiros de Salem (1979), como a casa com a grande escadaria e janela ao fundo, o final do porão ao amanhecer, o homem mais velho e o menino mais novo, caçadores de vampiros, e o guardião e sua morte na escada. Jerry também é semelhante ao personagem Barlow do romance de Stephen King, que foi drasticamente alterado no roteiro.
Tom Holland dirigiria duas adaptações de King em 1995: Fenda no Tempo e A Maldição, após participar, atuando, em Dança da Morte, um ano antes.
Noutra referência, o personagem Peter Vincent afirma que foi demitido do cargo de apresentador de Fright Night porque “tudo o que eles querem são loucos dementes correndo por aí com máscaras de esqui atrás de jovens virgens”, uma referência óbvia à franquia Sexta-Feira 13. O segurança (Nick Savage) do clube, que confronta Jerry pela primeira vez, interpreta um dos três membros de uma gangue de motociclistas mortos por Jason Voorhees em Sexta-Feira 13 - Parte 3 (1982).
Existem muitas semelhanças com o thriller clássico de 1954, Janela Indiscreta. Charlie Brewster espiona seu vizinho Jerry Dandridge com binóculos e suspeita de assassinato. Charlie tenta contar às pessoas sobre suas suspeitas, mas não consegue que ninguém o ouça.
E por fim, coincidentemente, Stephen Geoffreys e Amanda Bearse interpretaram um casal em Férias da Pesada (1985) e passaram direto das filmagens daquele filme para trabalhar em ‘A hora do espanto’. Ambos os filmes também tiveram trilha sonora do compositor Brad Fiedel.
Concepção
Ao escrever o roteiro de Os Heróis Não Têm Idade (1984), Tom Holland se divertiu ao conceber a ideia de um fã de filmes de terror se convencer de que seu vizinho era um vampiro, mas inicialmente não pensou que essa premissa foi suficiente para sustentar uma história. "O que ele vai fazer", perguntou Holland, "porque todo mundo vai pensar que ele está louco!"
A história ficou em sua mente por um ano e, finalmente, um dia, enquanto a discutia com John Byers, então chefe do departamento de histórias da Columbia Pictures, ele finalmente descobriu o que o menino faria. "Claro, ele vai procurar Vincent Price!'' Naquela época, muitas afiliadas de TV locais nos Estados Unidos tinham apresentadores de terror como Zacherle (John Zacherle), Svengoolie (Jerry G. Bishop) e o sindicalizado nacionalmente Elvira (Cassandra Peterson), então Holland decidiu que seria natural que o menino buscasse ajuda de seu anfitrião local.
"No minuto em que tive Peter Vincent, tive a história. Charley Brewster era o motor, mas Peter Vincent era o coração." Depois de conceber o personagem, Holland elaborou o primeiro rascunho do roteiro em três semanas.
"E eu estava rindo o tempo todo". Holland escreveu o filme para ele mesmo dirigir, em parte porque estava muito desanimado com o filme que foi feito a partir de seu roteiro anterior, Tudo Por Uma Verdade (1984), e ele conseguiu influência suficiente com o sucesso de seus roteiros. para Os Donos do Amanhã (1982), Psicose 2 (1983) e Os Heróis Não Têm Idade (1984), que o chefe da Columbia Pictures disse: "Vamos dar uma chance ao garoto roteirista", sem imaginar que o filme faria tanto sucesso.
E um adendo: Holland, tentou Price para o papel, que estava doente na época e aceitando poucos papéis. O último filme do ator acabou sendo Edward Mãos de Tesoura, filmado em 1990.
Quando entrevistei o diretor, uma edição limitada em Blu-ray do 30º aniversário repleta de extras foi lançada em 2015. Os 5.000 discos esgotaram em menos de 48 horas. Era autografada por ele. Tentei viabilizar uma cópia para mim, mas nem tive tempo.
"A Hora do Espanto" é um destes casos onde absolutamente tudo funciona. Perfeito em todos os sentidos. O elenco é carismático e entrega atuações memoráveis. O filme consegue mesclar comédia e elementos assustadores de maneira eficaz. Os efeitos visuais e a maquiagem são ótimos para a época. A trilha sonora, nem preciso falar, é notável. Com roteiro inteligente e direção inspirada, "A Hora do Espanto" é um dos melhores e mais brilhantes filmes de horror do cinema.
E com o tempo, mostrou-se insuperável em sua proposta de unir vampiros, adolescentes e humor.
Obra-prima.
🔷 A Hora do Espanto 2 (1988)
Três anos se passaram desde os eventos que assombraram Charlie e Peter. E neste tempo, Charly precisou frequentar terapia para uma lavagem cerebral. Mas como a vida dele no cinema não é fácil, quatro vampiros se mudam para uma residência no mesmo condomínio onde Peter Vincent vive.
Liderados pela sedutora Regine Dandridge (Julie Carmen), eles parecem ter um particular interesse em Charlie Brewster (William Ragsdale) e em Alex (Traci Lind), a namorada dele, pois Charlie matou um vampiro que era irmão de Regine, que agora planeja se vingar de Charlie.
A Hora do Espanto
O primeiro filme ecoa nesta produção, e num primeiro momento, parece que lhe roubará identidade. Desde a recapitulação inicial, à similaridade da chegada dos vampiros. Mas para por aí. A Hora do Espanto II é um dos poucos filmes de vampiros a reconhecer que as rosas repeliriam os vampiros tanto quanto o alho. Segundo a lenda, cinco plantas aromáticas poderiam repelir os vampiros: alho, acônito, cicuta, absinto e rosas-silvestres.
O roteirista e diretor Tom Holland foi convidado a retornar para a sequência, mas ele e a estrela original, Chris Sarandon, estavam envolvidos na produção de Brinquedo Assassino (1988). E acredito que este tenha sido o melhor caminho para todos os envolvidos, já que Brinquedo Assassino, nas mãos de Tom, se tornou tão memorável quanto o primeiro "A Hora do Espanto".
Mas Chris Sarandon, que interpretou Dandrige no primeiro filme, passou pelo set para mostrar seu apoio no dia em que foi filmada a festa no apartamento de Regine Dandrige. Existem fotos dele em locações com Roddy McDowall e William Ragsdale (consegui uma delas acima).
Stephen Geoffreys foi convidado para reprisar seu personagem 'Evil Ed' de A Hora do Espanto (1985), mas ele recusou para assumir o papel principal em Força Demoníaca (1988), que estava programado para ser filmado na mesma época. Depois que Geoffreys passou para o papel, o roteiro foi revisado e o personagem Evil Ed foi renomeado para Louie, que acabou sendo interpretado por Jon Gries.
Da mesma forma, Amy Peterson (ou melhor, Amanda Bearse) decidiu não voltar porque estava ocupada com sua nova série de TV, Um Amor de Família (1987). E assim, como resultado, mudanças no roteiro foram feitas para revelar que Evil Ed foi de fato morto por Peter Vincent (Roddy McDowall) no primeiro filme, enquanto Charley Brewster (William Ragsdale), em uma cena deletada, explica o paradeiro de Amy: "... ela começou a namorar muitos homens mais velhos [...] Todos eles se pareciam vagamente com Jerry Dandridge. Um deles era dono de um banco. Ela se casou com ele e se mudou para Houston."
Julie Carmen inicialmente não estava interessada em assumir o papel “porque a personagem de Regine nada mais era do que uma imitação de Elvira”, disse ela em uma entrevista em 1988. Depois que o roteiro passou por revisões, ela ficou tão apaixonada pelo papel que recusou outros projetos para garantir que tivesse tempo suficiente para se preparar para o filme.
Foi ideia de Brian Thompson que seu personagem recitasse o nome de cada gênero e espécie de inseto antes de devorá-los. O personagem Boz foi modelado a partir de Brian Bosworth, e Brian Thompson conseguiu o papel devido à sua semelhança com o atleta. Curiosamente, Bosworth faria sua estreia no cinema logo depois com "A Fúria do Justiceiro", lançado em 1991.
Outra contratação de peso foi o aclamado coreografo Russell Clark, que interpretou Belle, a vampira muda e andrógina que patinava. Ele foi contratado não apenas para a sequência de dança com Julie Carmen (Regine), para a qual eles passaram por rigorosos ensaios de oito horas, mas também para treinar seus colegas vampiros para se moverem com fluidez. Infelizmente, Clark faleceu de câncer poucos anos depois.
Após conseguir o papel de Richie, Merritt Butrick foi diagnosticado com AIDS, o que era considerado uma sentença de morte instantânea naquela época. Ele queria fazer o filme antes de morrer e foi sincero com a equipe sobre sua saúde, já que pouco se sabia sobre como a doença era transmitida. Grandes precauções foram tomadas para garantir que as presas do vampiro não picassem sua pele e tirassem sangue.
Josh Richman (Fritzy) improvisou a cena em que esfrega o chão e fala sozinho. Ele era o melhor amigo de Robert Downey Jr. (ou melhor, o Homem de Ferro) na época e os dois desenvolveram uma linguagem que ninguém mais conseguia entender, então ele usou um pouco dela no filme.
A Hora do Espanto II mantém o equilíbrio entre o terror e a comédia que fizeram sucesso no primeiro filme. Ele apresenta uma mistura de cenas assustadoras, momentos de tensão e diálogos divertidos, aprofundando a mitologia dos vampiros e explorando novos personagens e situações. Embora a recepção crítica e o desempenho nas bilheterias tenham sido mais modestos em comparação ao primeiro filme, ele continua sendo uma sequência divertida, algo raro na época.
The end
Logo após o término das filmagens, Roddy McDowall e o criador do primeiro filme, Tom Holland, estavam programados para se encontrar com o presidente da Live Entertainment, Jose Menendez, para discutir a produção de um terceiro filme. Mas os planos morreram com Menendez, que foi assassinado por seus filhos. Os irmãos tinham 18 e 21 anos em 1989, ano do crime. Eles foram condenados por atirar à queima-roupa contra seus pais, em sua mansão em Los Angeles.
O casal havia sido morto por 15 tiros de duas espingardas calibre 12. José foi baleado várias vezes nos braços e uma vez na cabeça e Kitty foi baleada no tronco e no rosto. Erik e Lyle foram presos depois de Erik ter sido denunciado pela namorada de seu psicólogo, que disse aos policiais que o terapeuta fora fisicamente ameaçado por Lyle. Com a denúncia, as fitas das sessões de psicanálise foram admitidas como provas do caso. Nelas, Erik falava sobre os assassinatos dos próprios pais.
Como consequência direta desta terrível tragédia, a Parte 2 acabou perdendo sua distribuição planejada em todo o país e sendo exibida apenas em um cinema de Los Angeles e outro em Nova York, o que resultou diretamente em seus fracos resultados de bilheteria e sendo lançado quase direto em vídeo. Como todas as promoções e anúncios planejados também foram cancelados, a maioria das pessoas nunca soube da existência do filme até finalmente notá-lo na locadora local. Eu não fui uma destas, e assisti no extinto Cine Veneza em Juiz de Fora, MG. E até hoje, é gratificante rever.
Roddy McDowall e o diretor Tommy Lee Wallace tiveram um almoço cercado de tensões com o Jose Menendez, para discutir a distribuição e marketing do filme e, na mesma noite, o crime ocorreu. Enquanto a notícia dos assassinatos circulava por Hollywood na manhã seguinte, McDowall telefonou para Wallace e disse: "Bem, não fui eu. Foi você?"
🔷 A Hora do Espanto (2011)
Ser imparcial com o remake de um dos filmes que mais amo na vida, é impossível. Analisá-lo somente como um filme de vampiros, é errado, já que ele mesmo se colocou na posição de ser criticado ao escolher o título "Fright Night", ou seja, trouxe o peso e responsabilidade de ser grande para sua geração ao escolher refilmá-lo.
A história segue parcialmente a mesma: O jovem Ed suspeita (do nada) que o novo vizinho de Charlie seja um vampiro. Ed some e para descobrir o que está acontecendo, Charlie pede ajuda a um mágico que se diz especialista no assunto.
O fim da sutileza
Um dos pontos altos do primeiro filme é o charme dos personagens. O vampiro aqui parece saído da gangue de amigos do filme Vidas Sem Rumo, aquele de Coppola, com C.Thomas Howell, Rob Lowe, Emilio Estévez, Matt Dillon, Tom Cruise, Patrick Swayze, Ralph Macchio e Diane Lane. Neste novo "A Hora do Espanto" ainda temos Dave Franco, irmão do James, fazendo um valentão na escola, que, aliás, morre de maneira ridícula.
Ed é mordido (do nada), e passamos a acompanhar uma trama corrida, com urgência de se mostrar, mas com zero sutileza para pavimentar sua história de forma que criemos empatia por alguém. Jerry parece um caçador em plena forma, querendo destroçar suas presas ao invés de conquistá-las como no filme de 1985.
Aliás, situar o filme em Las Vegas é um recado direto ao público para não esperar, definitivamente, nada sutil.
Referências não iriam ficar de fora
Jerry é visto comendo maçãs neste filme. Esta é uma homenagem ao original, onde Jerry também comia maçãs. Foi Chris Sarandon, que interpretou Jerry no primeiro filme, quem decidiu que um vampiro teria o DNA de um morcego frugívoro em seu sistema e, portanto, comeria muitas frutas.
O ator Chris Sarandon faz uma participação especial como o homem que bate no carro dos Brewsters e é posteriormente mordido por Jerry. O nome do personagem é Jay Dee (JD), uma referência sutil ao seu nome no original, Jerry Dandridge.
Em certo momento, Jerry assobia as primeiras notas da música "Strangers in the Night", referência a uma cena similar do filme de 1985.
O departamento de adereços incluiu muitas referências de Doctor Who (2005) ao cenário do apartamento de Peter Vincent (por exemplo, a escrita Gallifreyan - a língua nativa do Doctor - em certos itens), como uma homenagem ao ator David Tennant, que interpretava Peter Vincent e interpretou anteriormente o Décimo Doutor.
Quando Charley entra no set do show Fright Night de Peter Vincent, a música ouvida durante o ensaio é da trilha sonora de Henning Lohner para o filme de vampiros de 2005, BloodRayne.
Mortes trágicas
No início do projeto, Heath Ledger foi considerado para interpretar Jerry, mas o ator acabou falecendo em janeiro de 2008. Já o protagonista Anton Yelchin, faleceu tragicamente aos 27 anos, em um acidente bizarro de carro em sua própria casa: seus amigos o encontraram prensado entre o seu Jeep Grand Cherokee, a caixa do correio de tijolo e a vedação de sua casa. Yelchin foi esmagado e permaneceu vivo por algum tempo, preso e sufocando até sua morte.
O modelo Cherokee estava entre os 1,1 milhão de veículos recolhidos cerca de dois meses antes, quando os reguladores disseram que suas alavancas de câmbio confundiam os motoristas, fazendo com que os SUVs rolassem inesperadamente e causando dezenas de feridos.
Moral zero
Colin Farrell solicitou um monólogo em latim, dizendo que seria mais ameaçador. Ele conseguiu uma tutora de latim para lhe ensinar e estudou o idioma no set. O monólogo não chegou às telas - no entanto, a professora de latim ficou tão fascinada por Farrell que escreveu um artigo acadêmico detalhando seu tempo no set.
Farrell também expressou preocupação com o fato de seu personagem ser excessivamente um predador sexual e sugeriu mudanças no roteiro. Nenhuma alteração foi feita.
DreamWorks
"A Hora do Espanto" recebeu sinal verde pela empresa dos fundadores Jeffrey Katzenberg, Steven Spielberg e David Geffen. E na época, Spielberg fez duas contribuições importantes para o filme. A primeira foi uma cena do crucifixo caindo na piscina bem na frente da câmera (depois que Jerry ataca Ed Lee). A outra foi a maquiagem do quarto estágio de Jerry - quando visualizada, ele disse que não era assustador o suficiente.
E bem no início, o filme faz uma referência ao filme Tubarão, de Spielberg, quando Ed recita intencionalmente um conceito estabelecido no clássico de 1975.
Superficial, sem impacto, mas o 3D está lá
Se há um ponto digno de nota no filme são a cenas em 3D: muito bem feitas, ainda que sejamos brindados apenas com algumas poucas. Fora isto, as motivações dos personagens não foram bem estabelecidas, houve uma exploração superficial da mitologia dos vampiros e um clímax desanimador. Isto sem contar os personagens centrais que desaparecem da trama e retornam do nada, como estivessem esquecidos no limbo.
Em entrevista ao Empire, Tom Holland, o roteirista e diretor do filme original, afirmou que não gostou deste remake.
Bom, não foi o único.
Este "A Hora do Espanto" funcionaria melhor se o vampiro usasse máscara e um facão.
🔷 A Hora do Espanto 2 (2013)
A percepção do mérito de um filme depende de muitos fatores. Não só experiência em assistir filmes. "Gostar ou não" de uma obra é algo tão complexo, que um filme odiado hoje, pode ser amado amanhã. E um filme claramente ruim, pode ser associado a elementos marcantes de sua vida e dar a ele uma visão nostálgica melhorada.
Quando a nostalgia é direcionada para um filme aclamado, com todas as melhores características do gênero, um remake é ofensivo pelo simples existir. Mas agora, a continuação de um remake, que não continua o remake, que se distancia da história clássica, e que apenas coloca personagens com mesmo nome em um ambiente absolutamente diferente, é pedir para ser chamado de lixo.
E infelizmente, é a definição de A Hora do Espanto II: lixo
No original e no remake, o personagem era um vampiro chamado Jerry Dandridge. Na continuação do clássico, conhecemos a irmã de Jerry, Regine Dandridge. Bom, aqui, a vampira é chamada de ‘Gerri Dandridge’, algo que um filme do Taika Waititi ou episódio do Zorra Total, fariam.
Sem nenhum membro do elenco de 2011, e nenhuma referência feita aos eventos do filme anterior, o filme "buga" nossa mente, por exemplo, com o personagem Evil Ed, morto no filme anterior e que está vivo na "sequência"); ou o filme ser rodado em locações na Romênia, tentando buscar associação com outro vampiro mais famoso, Drácula.
Na história, Charlie arruma uma bolsa de estudos na Romênia e parte para lá com seu amigo e sua ex-namorada (!?). Quando descobre que sua professora é uma vampira, Charlie busca a ajuda de Peter Vincent, o infame caçador de vampiros da televisão que está na Romênia.
Tinha tudo para dar errado...
Jaime Murray, que faz a vampira, não é fã de filmes de terror e nunca tinha visto os filmes anteriores quando recebeu o roteiro. "Eu li cerca de dez páginas e realmente não sabia se era para ser engraçado ou assustador. Então me sentei e assisti "A Hora do Espanto" com Colin Farrell, e então voltei e reli o roteiro. Foi ótimo porque me deu um ponto de referência e me fez perceber que, embora fosse realmente assustador e sombrio em alguns lugares, também era engraçado."
Filmado em 23 dias!!!
O filme foi dirigido por Eduardo Rodriguez e estrelado por Will Payne, Jaime Murray e Sean Power. A Fox deu luz verde ao filme e começou a produção em um ritmo alucinante. O primeiro rascunho do roteiro foi escrito em uma semana e foi decidido que a história não seguiria os acontecimentos dos filmes anteriores.
“Achei que era uma espécie de brincadeira com os filmes de James Bond, onde é sempre James Bond, não importa quem o interprete”, comentou o diretor Eduardo Rodriguez.
Faltou um detalhe importante: ele se lembrar que os filmes do agente 007 eram bons, independente do protagonista. Uma ideia, ainda que boa, não faz o resultado se falta talento em quem executa.