google-site-verification=21d6hN1qv4Gg7Q1Cw4ScYzSz7jRaXi6w1uq24bgnPQc

INVOCAVERSO - SAGA REVIEW

Invocando.

Hoje, vamos entrar no mundo assustadoramente real dos filmes: Annabelle, Invocação do Mal e Amityville. E vamos fazer isto através de duas figuras ímpares: Ed e Lorraine Warren.

Edward Warren Miney nasceu em 7 de setembro de 1926 e cresceu em uma "casa assombrada" em Connecticut da idade de cinco até os doze anos. Sua família, especialmente seu pai que era policial na época, sempre dizia que tudo o que acontecia lá devia ter uma explicação lógica. 

Mesmo quando Edward acordava às 3 da manhã com a porta do armário abrindo e saindo uma bola de luz que se transformava em uma senhora idosa que esfriava o quarto todo, o cercando com uma respiração ofegante e passos pesados, enquanto ele repetia para si: “Existe uma explicação para isso Ed”. Edward foi um veterano da Marinha na Segunda Guerra Mundial e ex-oficial de policia até que se tornou um pintor, autodidata, autoproclamado especialista em demonologia, autor, e conferencista.

Já Lorraine Rita Warren nasceu em 31 de janeiro de 1927. Também teve problemas com seu “dom” por conta de estudar em um colégio católico, e aos 12 anos de idade, começou ver luzes ao redor das pessoas. Um dia disse a uma das freiras que a sua luz era mais forte que a da madre superiora. Isso lhe rendeu um castigo de três dias, sem poder falar ou brincar.

O pior é que Lorraine não podia contar o que via a seus pais, com medo que eles não entendessem ou ficassem chateados com o assunto. Guardou tudo o que via para si, até que conheceu Ed, que aos 16 anos de idade, trabalhava como porteiro no “Teatro Colonial” em Bridegport Connecticut. Lorraine e sua mãe frequentavam o local todas as quartas-feiras. Eles começaram a conversar, se tornaram amigos e em uma visita à casa de Lorraine, Ed a pediu em namoro. Eles tiveram uma filha e lhe deram o nome de Judy.

E através dos olhos deles, vamos conhecer histórias interessantes através do Invocaverso (Conjurinverse soa melhor), começando por...

🔷 Invocação do Mal (2013)

É curioso notar que a primeira cena de Invocação do Mal seja com Anabelle. Isto porque foram feitos diversos filmes com os anos, mas naquele momento, este era o primeiro. Na trama, um casal (Ron Livinston e Lili Taylor) muda para uma casa nova ao lado de suas cinco filhas. Inexplicavelmente, estranhos acontecimentos começam a assustar as crianças, o pai e, principalmente, a mãe.

 Preocupada com algumas manchas que aparecem em seu corpo e com uma sequência de sustos que levou, ela decide procurar um famoso casal de investigadores paranormais (Patrick Wilson e Vera Farmiga), mas eles não aceitam o convite, acreditando ser somente mais um engano de pessoas apavoradas com canos que fazem barulhos durante a noite ou coisas do gênero. 

Porém, quando eles aceitam fazer uma visita ao local, descobrem que algo muito poderoso e do mal reside ali. Agora, eles precisam descobrir o que é e o porquê daquilo tudo estar acontecendo com os membros daquela família. É quando o passado começa a revelar uma entidade demoníaca querendo continuar sua trajetória de maldades.

Baseado nos eventos ocorridos com a família Perron na cidade de Harrisville, em Rhode Island. A atriz Vera Farmiga contou com a ajuda da verdadeira médium Lorraine Warren, que auxiliou na preparação do longa-metragem.

O longa reúne o diretor James Wan e o ator Patrick Wilson, que já haviam trabalhado juntos no terror Sobrenatural. O filme anterior também trazia um casal morando em uma casa junto com espíritos do mal.

A História da Família Perron 

No inverno de 1970, Roger e Carolyn Perron compraram a residência onde pretendiam criar seus 5 filhos. A casa fora construída em um terreno muito bonito e até onde sabiam, 8 gerações da família anterior haviam vivido ali. O local dava todos os indícios de que seria o lugar perfeito para eles e seus filhos levarem a vida que sempre sonharam. 

Porém o que não lhes foi dito, é que também era uma casa repleta de dor e agonia. Muitos dos moradores anteriores haviam morrido no local e dois deles haviam se enforcado. Sendo que um deles nas vigas do celeiro. Segundo Andrea, assim que se mudaram começaram a presenciar algumas manifestações e a ver espíritos vagando pela casa. Mas até então todos benignos e alguns deles pareciam ignorar completamente a presença dos Perron na residência.

Havia um que sempre cheirava as flores, outro que dava beijos de boa noite nas crianças e até um que parecia pegar uma vassoura e varrer a residência. Claro que haviam outros tipos de manifestações típicas de uma casa assombrada, como coisas se movendo sozinhas pela casa e etc. Mas a coisa mais assustadora, era o som de algo que volta e meia se chocava contra a porta no meio da noite e que acordava a família toda. 

Ele sempre aparecia praticamente no mesmo lugar, em frente ao corredor, entre a sala de jantar e a cozinha e sempre se inclinava contra a porta. Ele tinha esse sorriso torto como se as crianças o divertissem. Assim que você o via e fazia contato visual, ele sumia. ''Todos os membros da família viam os espíritos na casa e, claro, os moradores anteriores também os tinham visto''. 

“Todo mundo que sabíamos ter vivido na casa passou por isso”, disse Perron. “Alguns fugiram correndo e gritando por suas vidas. O homem que se mudou para iniciar a restauração da casa assim que a vendemos, saiu gritando sem o seu carro, sem suas ferramentas, sem sua roupa. Ele nunca mais retornou a casa, consequentemente, os proprietários das terras adjacentes que a compraram, também nunca se mudaram e ela ficou vazia por anos.”

Porém tudo mudou quando os Perron resolveram convocar o casal Warren, para fazer uma investigação e intervir em alguns fenômenos que ocorriam dentro da casa e que estavam perturbando a família. Durante uma sessão, que deu muito errado, Ed e Lorraine acordaram uma entidade chamada Bathsheba, descrita como uma “alma esquecida por Deus”.

Segundo a lenda local, Bathsheba foi acusada de bruxaria depois que um bebê morreu misteriosamente sob seus cuidados. Uma agulha de tricô fora enfiada na base do seu crânio. Embora não houvesse provas suficientes para condenar Bathsheba de bruxaria ou assassinato, muitos moradores acreditavam que ela tinha matado a criança para honrar Satanás.

Bathsheba morreu de causas naturais aos 73 anos de idade. Há rumores de que seu corpo se transformou em pedra imediatamente após sua morte e é claro que não há nenhuma evidência para apoiar os relatos. Algumas pessoas afirmam que Bathsheba teve vários filhos e todos morreram muito novos, mas o censo registra apenas um filho, Herbert, que viveu até a vida adulta. A história ainda conta que antes de morrer, Bathsheba amaldiçoou suas terras e a todos que viessem a viver no local. Mais de 25 mortes ocorreram naquele local. Todas sob circunstâncias misteriosas.

A contagem inclui dois enforcamentos, um envenenamento, dois afogamentos e quatro casos de homens congelados até a morte. Citando um livro de registro público local, Andrea também afirma que uma menina de onze anos de idade foi estuprada e morta na propriedade, Entretanto, os registros oficiais indicam que a menina morreu de uma forma diferente. A precisão das outras mortes não é clara. Segundo Andrea Perron, Bathsheba logo se mostrou extremamente agressiva e se via como a dona da casa.

Ela sentia-se atraída por Roger, cobiçava as crianças e começou a fazer de tudo para botar Carolyn para fora da casa. Nas palavras de Perron: “O que ela fez minha mãe passar, nenhum ser humano deveria ter que suportar. Ela aparecia para vários de nós, mas eu nunca a vi. Eu via muitos dos espíritos, mas eu nunca a vi, exceto em uma espécie de estado de sonho telepático. Eu sonhava, ao mesmo tempo que ela estava aparecendo para minha mãe e a atormentando.”

Apesar de Ed e Lorraine Warren terem tentado dissipar os espíritos do mal, eles acabaram fazendo mais mal do que bem e nunca conseguiram livrar a casa do horror que os havia colocado. Um padre do Vaticano foi até a casa e segundo Perron, andou pelo local, parando em cada cômodo e murmurando suas orações. Quando saiu, o homem disse: “Sinto muito Sra. Perron. Esta casa não pode ser limpa”.

Hoje, a atual proprietária, Norma Sutcliffe, que comprou a casa em 1983, relatou que ela e seu marido Gerry, tiveram experiências paranormais na casa, incluindo a porta batendo no hall de entrada, sons de pessoas conversando em outra sala, o som de passos correndo ao redor da casa, a cadeira de seu marido começou a vibrar na sala de estudos. 

Eles também afirmam que testemunharam uma luz azul brilhante “disparar através do quarto”, uma “névoa” flutuando pelos cômodos da casa, e vibrações nas paredes tão intensas que sentiam que a casa iria desmoronar. Eles relataram também que viram uma mulher idosa, com coque no cabelo, movendo-se em silêncio por toda a casa.

A verdadeira família Perron visitou o set do filme.

Reiterando, oito gerações de famílias viveram e morreram na casa antes de os Perron se mudarem. Andrea Perron sugeriu que alguns dos espíritos das famílias nunca foram embora. As mortes incluíram dois suicídios documentados, um envenenamento, o estupro e assassinato de uma menina de 11 anos, dois afogamentos e quatro homens que morreram congelados. A maioria das mortes ocorreu dentro da família Arnold, da qual descendia Bathsheba Sherman.

O estado de Rhode Island não exige que os vendedores de imóveis divulguem histórias documentadas de atividades criminosas de um local (muito menos supostas assombrações paranormais e sobrenaturais) a potenciais compradores. É por isso que os Perrons não tinham conhecimento de todos os acontecimentos anteriores.

Andrea Perron escreveu um livro de três partes baseado em suas experiências na casa intitulado "House of Darkness, House of Light". Experiências contadas em seu livro também aparecem no filme. Perron cita o filme como uma obra de arte e não uma obra de ficção.

No ato final do filme, Ed Warren é forçado a realizar o exorcismo em Carolyn Perron. Isso nunca aconteceu na vida real (houve uma sessão com um padre presente que não resultou na libertação de ninguém da possessão) e, de fato, um leigo (não-clero) não só nunca está autorizado a realizar um exorcismo, mas também seria impossível para ele expulsar o demônio. 

Na teologia católica, são apenas os bispos que têm o poder e a autoridade para expulsar demônios em nome de Cristo. Os bispos podem delegar sacerdotes para desempenharem esta função por eles; entretanto, um indivíduo não ordenado nunca poderia realizar o ritual com sucesso. E nos casos em que leigos tentaram fazê-lo, isso resultou em danos a eles e aos possuídos. Além disso, um único exorcismo raramente é suficiente para limpar um indivíduo possuído.

Na sequência final, Lorraine Warren desliga o telefone e avisa a Ed Warren que o padre quer discutir um caso em Long Island. Esse caso é o caso Amityville, que serviu de base para Terror em Amityville (1979). E ele nos leva ao filme seguinte.

Crux Sacra Sit Mihi Lux

Non Draco Sit Mihi Dux Vade Retro Satana

Nunquam Suade Mihi Vana Sunt Mala Quae Libas

Ipse Venena Bibas 


🔷 Annabelle (2014)

O filme recapitula o início do primeiro Invocação do Mal para nos introduzir ao universo de Annabelle, primeiro spin-off da saga. E fazendo um adendo: quando um personagem secundário ganha um destaque fora do normal, normalmente ele ganha seu próprio veículo para tentar repetir o sucesso do original. Na história recente da TV por exemplo, Better Call Saul conseguiu obter um reconhecimento que parecia impossível, já que ela vem de Breaking Bad. 

Mas continuando a história do filme...  

Em 1967, John e Mia Form estão esperando seu primeiro bebê. John (Ward Horton) encontrou o presente perfeito para sua futura esposa, Mia (Annabelle Wallis): uma rara boneca antiga com um lindo vestido. Mia fica bastante contente com seu presente, porém, sua animação com a boneca não duraria muito tempo. Certa noite, sua casa é invadida por membros de uma seita satânica que, buscando completar um ritual, atacam violentamente o casal. Após derramarem sangue, os cultistas são detidos. O que o casal não contava é que, mesmo depois de um tempo, as consequências dessa invasão continuariam a aterrorizar suas vidas, principalmente quando ocorrências sobrenaturais, envolvendo a boneca, passam a permear a vida de Mia.

Este início guarda um eco dos assassinatos chocantes da atriz Sharon Tate e amigos. Para quem não se lembra, nos primeiros minutos da madrugada do dia 9, a mando de Charles Manson, um grupo de seus seguidores, todos eles jovens entre 20 e 23 anos, formado por Charles "Tex" Watson, Susan Atkins, Patricia Krenwinkel e Linda Kasabian, invadiu a casa na Cielo Drive e massacrou seus moradores. Parent foi morto a tiros quando saía da casa e deu de frente com o grupo que entrava e Tate, Sebring, Folger e Frykowski assassinados a tiros e facadas na sala da residência e nos jardins. Sharon Tate foi assassinada com 16 facadas, várias delas na barriga. Ela estava a dias de ganhar o bebê. 

Os nomes dos personagens 'Mia' e 'John' referem-se aos atores principais de O Bebê de Rosemary (1968): Mia Farrow e John Cassavetes. Este filme também é sobre um jovem casal próspero em um apartamento de luxo tendo um bebê em combinação com satanistas buscando mãe e filho. O barulho frequente dos vizinhos em um apartamento adjacente é uma referência ao mesmo filme.

Eles chamam sua filha recém-nascida de Leah, que é o nome de um dos vizinhos que Rosemary e Guy conheceram em seu novo prédio. Ambos os filmes também incorporam uma cena dramática envolvendo um elevador. O Bizarro é que Annabelle se passa em 1969, ano do assassinato da atriz Sharon Tate, que por sua vez, era casada na época com Roman Polanski, diretor de O Bebê de Rosemary.

A atriz e apresentadora Ellen DeGeneres morava no apartamento usado no filme. Ao promover Annabelle (2014) em seu show, ela explicou que: "O apartamento do filme foi meu primeiro apartamento para onde me mudei em Los Angeles. Isso foi o prédio onde eu morava, onde eles filmaram o filme. Eu estava assistindo: 'Isso parece familiar', e era o meu prédio. Era assustador naquela época também."

Os noticiários vistos na TV e o culto ao qual Annabelle Higgins pertence, 'os discípulos do carneiro' evocam o "pânico satânico" que ocorreu entre o final dos anos 70 e meados dos anos 90. Onde muitos comentaristas sociais, políticos e religiosos da época, acreditavam que os cultos satânicos iriam efetivamente dominar a América. No entanto, como sugere o policial, eles não eram tão difundidos quanto todos acreditavam.

O primeiro filme do diretor John R. Leonetti lançado nos cinemas desde Mortal Kombat: A Aniquilação (1997), que foi lançado 17 anos antes deste filme. O diretor também é diretor de fotografia de Brinquedo Assassino 3 (1991),  sobre um boneco assassino chamado Chucky. Porém, a cena do elevador foi dirigida pelo produtor James Wan. 

Simbolismos

Mia sempre se veste de verde durante todo o tempo em que sua casa está assombrada pela boneca Annabelle, siimbolizando a intenção do culto: renascimento. Em contraste, ela está vestindo tons azuis antes do ataque, que demonstra força diante dos maus espíritos. E finalmente, ela usa tons marrons ou neutros após o clímax, mostrando a resiliência da personagem.

Quando Mia está tentando escapar do demônio no depósito do porão, ela aperta o botão do elevador 3 vezes para chegar ao 6º andar. "666" é comumente conhecido como o "número da besta" e está associado ao diabo ou Satanás nas crenças cristãs.

Coincidentemente, Annabelle é o primeiro nome da atriz que interpreta Mia.

A história real de Annabelle 

Rageddy Ann – a boneca  Annabelle é uma boneca de pano, com cabelos feitos de fios de lã vermelha. Idealizada pelo escritor Johnny Gruelle, elas foram criadas em 1915 juntamente com uma coleção infantil que Gruelle escreveu e ilustrou para crianças.

Ele criou essa boneca para sua filha Marcella, quando ela lhe trouxe uma boneca de pano sem rosto. Ele então desenhou o  nariz de triângulo vermelho, olhos expressivos e um sorriso simples. O nome veio de um livro de poemas do autor Whitcomb Riley, compilando o nome de dois poemas “The Raggedy Man” e “Little Orphant Annie”. Marcella morreu aos 13 anos depois de ter sido vacinada na escola contra a varíola sem o consentimento de seus pais.

Autoridades culparam um problema pré-existente no coração da menina, mas seus pais culparam a vacinação. Gruelle se tornou um opositor à vacinação, e a boneca Raggedy Ann foi usada como um símbolo do movimento anti-vacinação.

Em 1970, a mãe de Donna comprou uma antiga boneca Raggedy Ann. A boneca foi um presente para sua filha em seu aniversário. Donna, na época, era uma estudante na faculdade, preparando-se para formar em enfermagem e residindo em um apartamento minúsculo com sua companheira de quarto Anngie (uma enfermeira também).|

Contente com a boneca, Donna a colocou em sua cama como uma decoração e não lhe deu maior atenção até alguns dias mais tarde. Com o tempo, Donna e Angie notaram que parecia haver algo de muito estranho e assustador com a boneca. Aparentemente, ela movia-se sozinha, num primeiro momento com movimentos relativamente imperceptíveis, como uma mudança de posição, mas com o tempo, as mudanças se tornaram mais bruscas.

Donna e Angie vinham para casa e encontravam a boneca em uma sala completamente diferente da que a haviam deixado. Às vezes, a boneca era encontrada de braços e pernas cruzadas no sofá, outras vezes era encontrada na posição vertical, em pé, encostada em uma cadeira na sala de jantar. 

Várias vezes Donna colocava a boneca no sofá antes de sair para o trabalho, e quando voltava para casa encontrava a boneca de volta em seu quarto sobre a cama com a porta fechada. Depois de um mês, a boneca não só se mexia, mas começou a escrever. Mensagens como “Ajude-nos”, “Ajude Lou” apareciam escritos em papel pergaminho à lápis…

Mas Donna não tinha esse tipo de papel em seu apartamento, então de onde vinha isso? Uma noite ao voltar para casa percebeu algo errado com a boneca. Ela não estava apenas em um lugar diferente de onde ela a tinha deixado, mas existia um mal naquele lugar, uma sensação de frio inexplicável… Quando pegou a boneca, ela viu que nela estava um liquido vermelho respingado no seu peito e em seu vestido.

Não aguentando mais a situação, optaram por procurar uma médium. Na sessão com essa médium, as duas amigas ficaram conhecendo o espírito de Annabelle Higgins, que era uma menina de 7 anos que foi morta e teve seu corpo encontrado onde foi construído o prédio em que Donna morava. 

Pela médium, ela disse que se sentia à vontade com Donna e Anggie e que queria continuar com elas e se sentir amada. Por compaixão pelo espírito de Annabelle, Donna resolveu deixar Annabelle onde estava… Mas logo descobriria que não era uma boa idéia.

Um amigo das duas moças, Lou, nunca gostou da boneca, e disse que ela carregava o mal. Ele pediu para Anggie e Dona se livrarem dela, mas pelo apego não deram ouvidos e isso foi um erro; Lou tinha um pesadelo recorrente em que parecia acordado, mas não conseguia se mexer, só que dessa vez tinha sido diferente. No sonho, ao olhar para baixo, em seus pés viu a boneca Annabelle, que veio ate seu peito e começou a estrangulá-lo, ele apagou e quando acordou, estava certo que teria que se livrar daquela coisa. Preparando-se para uma viagem no dia seguinte, Lou e Angie estavam olhando mapas sozinhos em seu apartamento.

O lugar estava em silêncio. De repente, sons de gritos altos vindos da sala de Donna despertaram o medo de que alguém poderia ter entrado no apartamento. Lou, determinado a descobrir quem ou o que estava ali, foi caminhando calmamente para a porta do quarto. Ele esperou que os ruídos parassem antes de entrar e acender a luz.

A sala estava vazia, exceto por Annabelle que estava jogada no chão, no canto. Lou vasculhou a sala procurando por sinais de uma entrada forçada, mas nada estava fora do lugar.

Porém, conforme ele se aproximava da boneca, teve a nítida impressão de que alguém estava atrás dele. Ao se virar rapidamente, percebeu que não havia mais ninguém lá. Logo em seguida, em um flash, ele se viu agarrando seu peito, se encurvando de dor, com cortes e sangrando. Sua camisa estava manchada de sangue e ao abrir a camisa, lá no seu peito, estavam o que pareciam ser sete marcas de garras distintas, três na vertical e quatro na horizontal, todas estavam quentes como queimaduras.

Essas marcas se curaram quase imediatamente: no dia seguinte, já estavam bem fracas e no segundo dia, já haviam desaparecido completamente. Donna finalmente estava disposta a acreditar que o espírito na casa não era o de uma menininha, mas um espírito não-humano e demoníaco por natureza. Depois da experiência de Lou, Donna sentiu que era hora de procurar aconselhamento realmente especializado e entrou em contato com um padre episcopal chamado Padre Hegan.

Padre Hegan sentiu que era uma questão espiritual e que precisava entrar em contato com uma autoridade maior na igreja, então ele contatou o Padre Cooke, que imediatamente contatou os Warren. Ed e Lorraine Warren imediatamente tiveram interesse no caso e entraram em contato com Donna a respeito da boneca. Os Warren, depois de falar com Donna, Angie e Lou, chegaram à conclusão imediata de que a boneca em si não era de fato possuída, mas manipulada por uma presença não-humana.

Espíritos não possuem objetos inanimados, como casas ou brinquedos, eles possuem pessoas. Um espírito não-humano pode vincular-se a um lugar ou objeto e isso é o que ocorreu no caso Annabelle. Este espírito manipulou a boneca e criou a ilusão de que ela estava viva, a fim de obter reconhecimento, chamar a atenção. Na verdade, o espírito não estava pretendendo ficar ligado à boneca, ele estava tentando possuir um hospedeiro humano.

O espírito ou, neste caso, um espírito demoníaco não-humano, estava essencialmente na fase de infestação do fenômeno. Ele começou a mover a boneca pelo apartamento por meio de teletransporte para despertar a curiosidade dos moradores na esperança de que eles lhe dariam atenção. E deram. Cometeram o previsível erro de chamar um médium ao apartamento para se comunicar com ele. 

O espírito não-humano, agora capaz de se comunicar com o médium, explorou as vulnerabilidades emocionais das moradoras fingindo ser uma inofensiva menininha perdida, a qual, durante a sessão, foi dada a permissão (por Donna) para assombrar o apartamento. Assim como um espírito demoníaco é negativo, assim também são os fenômenos causados por ele, claramente negativos.

Ele despertou o medo através dos movimentos estranhos daquela boneca, trouxe a materialização de perturbadoras mensagens manuscritas, as gotas simbólicas de sangue na boneca, e por último, chegou a atacar Lou, deixando nele a marca simbólica da besta. A próxima etapa da infestação do fenômeno teria sido uma possessão humana completa. Se essas experiências durassem mais duas ou três semanas, o espírito iria se apossar totalmente, isso se não prejudicasse ou matasse um ou todos os ocupantes da casa.

Na conclusão da investigação, os Warren consideraram oportuno ter uma recitação de uma bênção de exorcismo pelo Padre Cooke para limpar o apartamento. “A bênção episcopal da casa é demorada, um documento de sete páginas que é claramente de natureza positiva. Ao invés de expulsar especificamente entidades malignas da habitação, a ênfase é voltada para encher a casa com poderes positivos e de Deus.” (Ed Warren). 

A pedido de Donna, e como uma precaução adicional para que os fenômenos não ocorressem na casa novamente, os Warren levaram a velha boneca de pano junto com eles quando saíram. Padre Cooke, embora desconfortável com seu papel de um exorcista, concordou em realizar o ritual de exorcismo de sete páginas, uma doutrina que ele recitou em todo o apartamento até o ponto em que os Warren estavam confiantes de que a entidade não mais residia lá.


Eles concordaram em levar a boneca de pano de volta para casa com eles. Antes de ir, Ed colocou a boneca no banco de trás do carro e concordou que não iria dirigir pela interestadual, no caso de o espírito não-humano ainda residir com a boneca. Suas suspeitas foram todas confirmadas, os Warren sentiram-se como objetos de um ódio vicioso. Então, em cada curva perigosa o carro patinava e morria causando falha na direção hidráulica e nos freios, repetidamente, o carro beirava a colisão.

Ed então parou o carro, foi até o banco de trás e pegou, em sua bolsa preta, um frasco de água benta e encharcou a boneca fazendo o sinal da cruz sobre ela. Os distúrbios pararam imediatamente e os Warren chegaram em casa em segurança. Após os Warren chegarem em casa, Ed sentou a boneca em uma cadeira ao lado de sua mesa. 

A boneca levitou várias vezes no início, em seguida, ela parecia cair inerte. Durante as semanas que se seguiram, no entanto, a boneca começou a aparecer em várias salas da casa. Quando os Warren saíam e deixavam a boneca trancada no edifício exterior, eles muitas vezes voltavam e quando abriam a porta da frente encontravam a boneca sentada confortavelmente em cima de cadeira de Ed. A boneca também mostrou um ódio por clérigos que vieram até a casa.

Em uma ocasião, o Padre Jason Bradford, um exorcista católico, chegou a casa. Ao ver a boneca sentada na cadeira, ele pegou e disse: “Você é apenas uma boneca de pano, Annabelle, você não pode machucar ninguém”, e jogou a boneca de volta na cadeira, nesse ponto Ed exclamou: “Isso é uma coisa que é melhor você não dizer.” 

Ao sair, uma hora mais tarde, Lorraine pediu encarecidamente ao padre para que tomasse muito cuidado ao dirigir e que ligasse para ela quando chegasse a casa. Lorraine previu tragédia para este jovem sacerdote, mas ele teve de seguir o seu caminho. Poucas horas depois, Padre Jason ligou para Lorraine e explicou que seus freios falharam quando ele entrou em um cruzamento movimentado. Ele foi envolvido em um acidente quase fatal que destruiu seu veículo.

Este foi apenas um dos muitos eventos que ocorreram durante os próximos anos. Os Warren têm uma caixa construída especialmente para Annabelle dentro do Museu Ocultista, onde ela reside até hoje. Desde que a caixa foi construída, Annabelle parece não mais se mover, mas ela é tida como responsável pela morte de um jovem que veio para o museu em uma moto com sua namorada. 

O jovem, após ouvir o relato de Ed sobre a boneca, desafiadoramente foi para cima e começou a bater sobre a caixa insistindo que, se a boneca podia deixar marcas nas pessoas, então ele queria ser marcado também. Ed disse para o jovem: “Filho, não faça isso. Você precisa sair” e o colocou para fora do prédio. No caminho para casa, o jovem e sua namorada estavam rindo e zombando da boneca quando perderam o controle da motocicleta e o rapaz bateu com a cabeça em uma árvore. 

O jovem foi morto instantaneamente, mas sua namorada sobreviveu e ficou hospitalizada por mais de um ano. Quando perguntado o que aconteceu, a jovem explicou que eles estavam rindo da boneca, quando perderam o controle da motocicleta. Ed avisa você para não desafiar o mal, que nenhum homem é mais poderoso do que Satanás.

Voltando ao filme

Quando Annabelle é mostrada sendo comprada pela mulher no brechó no final do filme, a câmera gira pelo cenário e mostra uma boneca Raggedy Ann, o modelo idêntico ao do caso real. E olharmos a boneca, percebemos porque certas histórias precisam ser adaptadas, já que ninguém se assustaria com uma versão brega da Emília do Sítio do Picapau Amarelo.-

🔷 Invocação do Mal (2016)

O caso de Amityville é tão confuso, cheio de furos e possíveis invenções que Invocação do Mal 2 fez dele apenas uma ponte, e curiosamente, usa um momento fake para apresentar-nos sua trama. Conversei com uma pessoa que viveu 20 anos morando em Amityville e ela me respondeu desta forma: "- Não é assombrado. Os assassinatos foram reais. Fim da história."

Na trama, um ano mais tarde, em 1977, a família Hodgson começa a descobrir ocorrências estranhas dentro de sua casa em Enfield, norte de Londres. Janet, a segunda filha mais velha de quatro filhos, é vista com sonambulismo e conversando em seus sonhos com uma entidade que insiste que a casa é dela. Eventualmente, todos os irmãos da casa e sua mãe Peggy testemunham eventos paranormais que ocorrem bem diante de seus olhos, forçando-os a procurar refúgio com os seus vizinhos. 

Qrealia tenta entrevistar os Hodgsons, Janet é possuída pelo espírito de Bill Wilkins, um homem mais velho que já viveu e morreu em casa, que quer reivindicar seu território. Como Janet começa a mostrar mais sinais de possessão demoníaca, a história eventualmente chega aos Warren, que são convidados a ajudar a Igreja local na investigação. Lorraine, com medo de sua visão da morte de Ed se tornar realidade, avisa para não se envolver muito no caso, e relutantemente concorda em viajar para Londres.

Mas citei o momento fake...

A foto abaixo foi supostamente tirada dentro da casa de Amityville em 1976. Tornou-se uma das fotos paranormais mais famosas de todos os tempos. Ela mostra o que parece ser um menino de olhos brancos que está saindo de uma porta. George Lutz revelou a foto do menino fantasma de Amityville no programa Merv Griffin em 1979, três anos após ter sido tirada. 

A imagem foi supostamente capturada por Gene Campbell, fotógrafo profissional que fazia parte da equipe que trabalhou com os investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren. Gene montou uma câmera automática que tirou fotos infravermelhas para capturar o patamar do segundo andar durante a noite. Equipada com filme preto e branco, sua câmera captou esta foto do menino fantasma de Amityville que alguns especularam que poderia ser o fantasma da criança assassinada John Defeo.

Mas claro, décadas depois, entenderam que era um membro da própria equipe investigativa.

O caso dos poltergeists de Enfield.

Em agosto de 1977, a mãe solteira Peggy Hodgson ligou para a Polícia Metropolitana ir até sua casa alugada em Enfield, Londres, dizendo que tinha testemunhado móveis sendo movidos e que dois de seus quatro filhos ouviram sons de batidas nas paredes. As crianças incluíam Janet, de 11 anos, e Margaret, de 13. Uma policial relatou ter testemunhado uma cadeira "oscilar e deslizar", mas "não conseguiu determinar a causa do movimento". Alegações posteriores incluíam vozes incorpóreas, ruídos altos, brinquedos atirados, cadeiras viradas e crianças levitando. 

Durante um período de dezoito meses, mais de trinta pessoas, incluindo vizinhos dos Hodgsons, investigadores paranormais e jornalistas, disseram ter visto móveis pesados ​​movendo-se por conta própria, objetos sendo jogados por meio de uma sala e as irmãs parecendo levitar a vários metros de distância do chão. Muitos também ouviram e gravaram barulhos de batidas e uma voz rouca. A história foi regularmente coberta pelo jornal Daily Mirror até que as reportagens terminaram em 1979. 

A investigação de Maurice Grosse e Guy Lyon Playfair foi adaptada no filme O Show dos Kangks (2015). O caso teve uma reviravolta após as duas irmãs envolvidas admitirem ter fraudado parte da atividade. A foto de Janet levitando na cama era Janet pulando. A atriz que interpreta Janet, Madison Wolfe, é, na verdade, uma americana com sotaque inglês, tendo crescido em Nova Orleans, Louisiana, EUA. 

A prateleira onde Ed coloca o brinquedo estroboscópico no quarto de artefatos dos Warren contém uma caveira dourada invertida, que ele move para o lado. Esta caveira é o tesouro sagrado apresentado no filme Vice-Versa (1988), que faz com que os personagens do Judge Reinhold e Fred Savage troquem de corpo.

O visual de Frances O'Connor lembra a jovem Barbara Hershey quando estrelou O Enigma do Mal (1982), outro filme de terror sobre forças sobrenaturais. Hershey interpretou Lorraine Lambert, mãe de Josh Lambert, em Sobrenatural (2010). Josh Lambert foi interpretado por Patrick Wilson, que interpreta Ed Warren neste filme.

O nome do demônio "VALAK" é mostrado na casa dos Warren em três locais e aparece cinco vezes. A primeira fica ao longo da janela da cozinha, em letras coloridas recortadas, logo atrás de Ed Warren. A segunda está ao longo da borda do balcão de madeira da cozinha em letras em relevo. Eles estão à direita de Lorraine, quando ela está à mesa do café da manhã com Ed. Você os vê novamente quando ela está na pia. O terceiro local é na sala onde Lorraine e sua filha estão sentadas. Na estante há grandes letras de madeira dispostas em duas prateleiras. Eles também aparecem na pulseira que Judy está fazendo. Eles surgem durante o sonho de Lorraine e depois.

Todas as cenas com a freira foram adicionadas durante as refilmagens, substituindo a filmagem original de um demônio sombrio com chifres. Isso aconteceu porque o diretor James Wan desejava expandir a história de Lorraine Warren tendo sua fé questionada. Portanto, ele projetou o demônio para se parecer com um ícone sagrado. O desenho original pode ser visto no final do clímax, quando o demônio é derrotado.

O diabo está nos detalhes

Um momento bem curioso espelha o talento do diretor. Quando Ed senta com família para cantar Elvis e acalmar os nervos de todos, você espera que Wan interrompa o momento com um susto, porque normalmente é isso que esses filmes horror fazem. Mas Wan é um cineasta talentoso demais para desvalorizar o momento. Ele investiu na vida interior de cada personagem. 

Então, quando o horror chega, ele vem para (tentar) ficar.


🔷 Annabelle 2 - A Criação do Mal (2017)

Cada filme é um mistério a ser descoberto. Não só pelo fato de que não foi assistido, mas uma obra que merece ser vista e só então julgada. É comum julgarmos continuações, rotulando de oportunistas. E um spin-off é, segundo esta ideia, mais oportunista ainda. O que dirá a continuação do spin-off?

O que nos leva a Annabelle - A Criação do Mal. Na trama, 12 anos após a trágica morte de sua filha, um habilidoso artesão de bonecas e sua esposa decidem, por caridade, acolher em sua casa uma freira e uma dezena de meninas desalojadas de um orfanato. Atormentado pelas lembranças traumáticas, o casal ainda precisa lidar com um amedrontador demônio do passado: Annabelle, criação do artesão.


A Mullins Toy Company vem trazendo alegria e diversão para seus filhos há mais de vinte anos. Nossas bonecas são feitas com o mesmo amor e carinho que seus pequenos, a garota dará quando abrir a caixa e ver pela primeira vez seu novo melhor amigo. Confie em nós, ela nunca vai querer deixá-lo ir! Afinal, estas não são apenas bonecas... São memórias em formação! - Compre um hoje! - Casas de bonecas em breve!

A construção do mal

David F. Sandberg inicialmente relutou em dirigir o filme, devido à sua antipatia geral por sequências de terror. Ele mudou de ideia quando ficou claro que faria uma independente, sem grandes obrigações de conectá-la a quaisquer outros filmes, além de algumas breves referências a eles (como Valak na foto das freiras).


E ele fez um trabalho brilhante. A estética do filme, remete a obras como A Espinha do Diabo. O acidente no início é chocante, pois quase vemos a menina tocar no carro. E trazer um grupo de crianças e adolescentes para um ambiente de horror, é uma crueldade tão grande quanto fazer de uma delas impossibilitada de correr quando vê um fantasma. 

Invocando o mal

O filme apresenta um elenco forte, incluindo Stephanie Sigman como Irmã Charlotte, Talitha Bateman como Janice, Lulu Wilson como Linda e Anthony LaPaglia e Miranda Otto como Samuel e Esther Mullins, o fabricante de bonecas e sua esposa.

O roteiro foi escrito por Gary Dauberman, que também co-escreveu o roteiro do primeiro filme “Annabelle”. Dauberman esteve envolvido em vários outros projetos de terror, incluindo escrever e dirigir “Annabelle 3” e co-escrever “A Freira”.

Os eventos do filme acontecem antes do primeiro filme da franquia, “Invocação do Mal”. Porém, é recomendável assistir ao primeiro filme “Annabelle” antes deste para entender melhor o contexto e a conexão entre os dois filmes.

O filme explora temas de luto, perda e as consequências de interferir no sobrenatural. Ele investiga as lutas emocionais dos personagens, especialmente dos Mullins, enquanto eles lidam com a trágica perda de sua filha e a presença assustadora que se segue.

Este capítulo recebeu críticas positivas por seus sustos eficazes, cenário atmosférico e atuações fortes. Foi elogiado por sua capacidade de criar tensão e uma constante sensação de pavor ao longo do filme.

O seu sucesso levou ao desenvolvimento de filmes spin-off centrados em outras entidades sobrenaturais introduzidas no universo. Esses filmes incluem “A Freira”, que se concentra na personagem freira demoníaca de “Invocação do Mal 2”, e “A Maldição da Chorona”, inspirado no folclore mexicano.

O mal estabelecido

O filme jamais se perde em jumpscares ou rasas construções de personagens. Tudo em cena remete a perigo, desconforto, e iniciar o filme com uma morte de uma criança, manda um recado para o público: ninguém está seguro. As crianças, invariavelmente, fazem o que sabem fazer melhor: explorar o ambiente movidas pela curiosidade.

A sequência da escada, por exemplo, é uma aula para qualquer filme "A Hora do Pesadelo". E finalizar com a menina sendo jogada do alto, é de uma coragem fundamental para a construção do clima de horror. Na realidade, o que ocorre com o passar do tempo com tal menina é uma tortura emocional e psicológica (como vemos na cena do celeiro) tão forte que poucas vezes tive a satisfação de presenciar no cinema.

As melhores bonecas artesanais - disponíveis na loja de brinquedos Palmeri


E o mal retornará

Costumava ser uma regra bastante confiável do cinema que as sequências de filmes de terror eram inferiores ao original. E se o original já foi criticado, melhor fugir. Este Annabelle  tem o que faltava tão claramente no primeiro filme: uma linguagem visual forte. Sandberg e sua equipe fazem um trabalho maravilhoso ao criar tensão em um ambiente limitado, forçando nossa perspectiva permanecer nas jovens aterrorizadas. 


O diretor sabe que o medo se manifesta principalmente no desconhecido. Ele sabe que ao mostrar a você uma porta aberta para uma sala escura, seus olhos ficarão fixos naquela escuridão, procurando movimento nas bordas da moldura, olhos brilhantes, o que quer que seja. Se ele colocar Annabelle em segundo plano, ninguém está prestando atenção ao primeiro plano. 

O filme sabe como provocar o medo. A certamente, vai ajudar muitos a perderem o medo de sequências de horror, afinal,  cada filme é um mistério a ser descoberto.

🔷 A Freira (2018)

Em 1952, na Romênia, duas freiras católicas romanas que vivem na Abadia de Santa Carta são atacadas por uma força maligna quando entram num túnel para recuperar uma antiga relíquia cristã. A Irmã Vitória se enforca após a outra ser morta... Seu corpo é descoberto por Frenchie, um aldeão que transporta suprimentos para as freiras.

O Vaticano toma conhecimento do incidente e convoca o Padre Burke a Roma, onde lhe pedem para viajar com a Irmã Irene, uma freira em seu noviciado, para a Romênia, a fim de investigar a situação. Enquanto Irmã Irene ensina as crianças a relação entre religião e ciência em uma escola, sua Madre Superiora a interrompe e informa que Burke chegou para solicitar o acompanhamento de Irene em sua viagem à Romênia. O padre Burke e a Irmã Irene viajam então para o local a fim de investigar o acontecido.

Spin-off de Invocação do Mal, a freira demoníaca do filme é a mesma que aterroriza o casal Ed e Lorraine em Invocação do Mal 2 (2016). Ao contrário dos filmes de Invocação do Mal, baseados em histórias reais, a trama de A Freira é completamente fictícia.

'Deus termina aqui'.

O filme é brilhantemente atmosférico. Alguns detalhes são preciosos para criar o clima de horror, como quando estão indo para a abadia e uma nuvem parece escurecer o caminho adiante. Algo comum, mas no filme, a nuvem assume a posição do mal. Da mesma forma, momentos depois, quando eles passam de carroça por um estreito, a posição das rochas (e da câmera) sugere um ambiente apertado, sufocante.

A direção de arte e cenários também ajuda  na imersão na história e dá ao horror uma característica mais secular. As filmagens aconteceram no Castelo Corvin em Hunedoara, e em Sighisoara, Transilvânia, Romênia, e também no Palácio Mogosoaia, perto de Bucareste, Romênia.

Taissa Farmiga, que interpreta a Irmã Irene neste filme, é a irmã mais nova de Vera Farmiga, que interpretou Lorraine Warren em Invocação do Mal (2013), Invocação do Mal 2 (2016, e Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio (2021). A Freira Demônio, interpretada por Bonnie Aarons, também apareceu em Invocação do Mal 2 (2016) e teve uma breve participação em Annabelle 2: A Criação do Mal (2017). Embora os personagens das irmãs não tenham nenhuma relação entre si, ambas são católicas devotas com habilidades de clarividência.

Valak

Com exceção da Abadessa (que revela ser um cadáver manipulado por Valak), as freiras são mostradas interagindo apenas com a Irmã Irene, insinuando a revelação de que ela esteve conversando com fantasmas o tempo todo.

Quando Frenchie apita para o caminhão parar, você pode ver que a placa diz "6-VA-01-LAK". Se você remover os números e os travessões, simplesmente soletrará "Valak", que é o nome da freira.  Valak é mencionado pelo nome apenas uma vez, quando o Padre Burke analisa a história da abadia. Todos os outros se referem a ele como “o mal” ou “o demônio”.

Valak, é um demônio que aparece em textos ocultistas, que não tem relação com o personagem fictício do filme. Ele é mencionado em vários grimórios medievais, incluindo o "Dictionnaire Infernal" de Jacques Collin de Plancy e o "Pseudomonarchia Daemonum" de Johann Weyer. Esses textos categorizam e descrevem vários demônios, incluindo Valak.

Ele é retratado como um demônio com o poder de controlar serpentes e é frequentemente representado como uma criança pequena com asas de anjo e montada em um dragão de duas cabeças. Esta imagem sugere uma conexão com serpentes e répteis. 

Valak tem poderes relacionados a adivinhação. Acredita-se que tenha a capacidade de revelar tesouros escondidos e de dar respostas verdadeiras sobre o passado, presente e futuro. Ele também está associado a serpentes, tendo o poder de controlá-las ou influenciá-las.

Na demonologia, é frequentemente descrito como um presidente ou príncipe do Inferno. Às vezes é listado na hierarquia infernal como um demônio poderoso com autoridade sobre outros espíritos.

A inclusão de Valak em grimórios e textos ocultistas reflete o fascínio medieval e renascentista pela demonologia e pelo estudo de demônios. Esses textos foram usados ​​para vários propósitos, incluindo adivinhação, invocação de espíritos e compreensão do sobrenatural.

Mas voltando ao filme...

Quando o padre Burke, a irmã Irene e Frenchie chegam à Abadia de Carta para iniciar a investigação, Frenchie explica que ao encontrar o corpo da freira que cometeu suicídio, ele a transferiu para uma sala fria onde a deixava entregas de alimentos da aldeia de Biertin. Frenchie então afirma que, quando fez isso, a freira estava deitada, mas é mostrada em pé. 

O padre Burke então explica a Irene e Frenchie que houve casos de cadáveres mostrando capacidade de se mover após a morte. Esta é uma condição científica documentada na realidade, causada por deformação genética na medula espinhal e seus fluidos.

Ao entrar pela primeira vez na Abadia da Carta e antes de conhecer a 'Abadessa', Irmã Irene vê que no altar no meio da sala está o símbolo de duas cobras se devorando, o que é comumente conhecido como o Ouroboros. É um símbolo originário da mitologia egípcia e grega antiga e é predominantemente um símbolo do ciclo de nascimento, morte e renascimento. 

No contexto do filme, o símbolo é mais do que provavelmente uma perversão do significado original e significa a associação do Duque de Carta com Valak, da mesma forma que o pentagrama, adulterado pela própria Igreja como um símbolo de adoração do diabo, quando na realidade, é apenas um símbolo tradicional de adoração usado tanto por não-cristãos como por cristãos. Maurice pode ser visto mais tarde com uma cruz cristã invertida no pescoço,

A cruz que Padre Burke usa contra a demoníaca Irmã Oana lembra a cruz usada em Drácula de Bram Stoker (1992) pelo padre idoso no início do filme. Curiosamente, ambos os filmes giram em torno da Fé Católica e têm no início uma cena em que uma mulher se mata saltando de uma posição elevada. Além disso, o suicídio no início dos filmes motiva os personagens e o enredo dos filmes.

Irmã Oana conta a Irene durante a segunda noite na Abadia que ela foi construída pelo Duque de Santa Carta, que era um adorador do diabo que tentou invocar um espírito maligno do Inferno, supostamente Valak, mas foi impedido por presumivelmente os Cavaleiros Templários, que eram a ala militar da Igreja Católica. No entanto, como Oana é um fantasma que provavelmente está sob o controle de Valak, toda a história da Abadia de Santa Carta pode ser falsa.

O grande mérito de A Freira é a construção visual de sua narrativa. O filme consegue contar sua história de maneira extremamente satisfatória, nos brindando com diversos momentos de horror genuíno. E a personagem central, a assustadora Freira, é visualmente incrível. 

E o público comprou a ideia. O filme, que custou em torno de 22 milhões de dólares, rendeu 366 milhões.


🔷 Annabelle - De Volta Para Casa (2019)

Annabelle 3: De Volta Para Casa, retoma, pela segunda vez, a cena em que os Warrens ficam com a boneca, fazendo dele o ponto de partida da trama. Para impedir que Annabelle cause mais estragos, os demonologistas Lorraine e Ed Warren levam para casa a boneca possuída e a trancam num armário, protegida por um vidro sagrado. 

Quando Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) deixam sua casa durante um fim de semana, a filha do casal, a pequena Judy Warren (McKenna Grace), é deixada aos cuidados de sua babá (Madison Iseman). Mas as duas entram em perigo quando a maligna boneca Annabelle, aproveitando que os investigadores paranormais estão fora de jogo, anima os letais e aterrorizantes objetos contidos na Sala dos Artefatos dos Warren. 

Homem-Aranha - De volta para casa

Em uma cena, lá pelos 50 minutos, Judy está assistindo a um game show quando um casal ganha uma viagem para Las Vegas e uma boneca Raggedy Ann. Em todos os filmes, a verdadeira boneca Annabelle aparece de alguma forma. O filme é dedicado a Lorraine Warren (retratada no filme por Vera Farmiga ) que faleceu dois meses antes do lançamento do mesmo.

A armadura de samurai que aparece no museu dos Warren é baseada no guerreiro demoníaco da mitologia japonesa, o Oni, que com o Barqueiro, é a segunda entidade da mitologia que aparece.

O Barqueiro é baseado na divindade mitológica grega de mesmo nome: que transporta almas através do rio Estige até o submundo, cobradas com moedas de ouro específicas. As moedas também aparecem com destaque como o artefato na casa de Warren que convoca a entidade Barqueiro.

Aliás, os artefatos principais do Museu dos Warren no filme são: A armadura do Samurai, a pulseira do enlutado, o macaco dos pratos, as moedas do barqueiro, o vestido de noiva, a televisão do futuro, a máquina de escrever, o piano, as máscaras variadas, o livro Black Shuck, o cata-vento do galo, a caixa música de Rory e a boneca Annabelle. Cada objeto tem seu próprio espírito, criando uma variedade de ameaças sobrenaturais para os personagens. 

A Pulseira do Enlutado e a televisão aparecem como os únicos artefatos com possíveis conotações positivas: Lorraine exibe a pulseira no final do filme, informando a Daniela que com o uso adequado tem correspondência com sua mediunidade para se comunicar com seu falecido pai. A televisão prevê eventos com antecedência, mas por sua vez exibe eventos simples além de fenômenos sobrenaturais negativos.

Pontos positivos:

As atuações, principalmente de Mckenna Grace como Judy Warren, Madison Iseman como Mary Ellen e Katie Sarife como Daniela. Eles são jovens talentosos que trouxeram profundidade e autenticidade aos seus papéis.

O filme homenageou os clássicos filmes de terror como Poltergeist e incorporou elementos apreciados pelos fãs do gênero. Inspirou-se em filmes de casas mal-assombradas do passado e incluiu referências a figuras icônicas do terror, como a Noiva e o Cão de Baskervilles.

Annabelle 3  explorou a jornada emocional da filha dos Warren, Judy, enquanto ela enfrentava os perigos trazidos por Annabelle. O filme enfatizou a importância dos laços familiares e a força do amor e da coragem diante de ameaças sobrenaturais.

Ele também trouxe mais detalhes sobre o museu de artefatos dos Warren, introduzindo vários objetos e espíritos assombrados que adicionaram profundidade à mitologia geral.

Homem-Aranha - Longe de casa

Annabelle apareceu em dois filmes da DC Comics, Aquaman (2018) e Shazam! (2019). Em troca, algumas histórias em quadrinhos da DC, como edições de O Demônio e Monstro do Pântano, aparecem neste filme. Observe também que quando Lorraine pega a Pulseira do Enlutado no final, o artefato cilíndrico próximo a ela é a chave holográfica Atlante de Aquaman (2018). O diretor de Invocação do Mal é o mesmo de Aquaman.

O personagem Anthony Rios foi criado baseado no marido de Judy na vida real, Tony Spera. Embora ela e Spera só tenham se conhecido na idade adulta, o diretor Gary Dauberman pediu permissão para criar o personagem valentão para servir potencialmente como um interesse romântico para Judy se a série continuar a seguir sua personagem à medida que ela cresce.

McKenna Grace substituiu Sterling Jerins como Judy Warren. Jerins interpretou Judy nos dois primeiros filmes Invocação do Mal e já havia cansado do papel quando a produção começou. Mas Jerins acabou interpretando Judy novamente dois anos depois no terceiro Invocação do Mal.

Samara Lee e Lou Lou Safran são os únicos integrantes do elenco que retornaram de Annabelle 2: A Criação do Mal (2017). Onde Lee repete seu papel como Bee, enquanto Safran aparece como Rebecca, uma nova personagem.

E achei bastante curioso o filme mostrar fantasmas que estavam presos e confinados em um mesmo local, serem soltos e assombrarem, pois é uma história muito similar a Caça-Fantasmas. E McKenna Grace, a Judy, fez a neta de Egon Ghostbusters - Mais Além, dois anos depois.

Ou seja, o filme mirou em Poltergeist e acertou em Caça-Fantasmas. Apesar de adorar os dois clássicos dos anos 80, a proposta do filme era outra. Ou pelo menos deveria. E certamente, reside aí o grande problema do filme: ausência de senso de perigo.

🔷 A Maldição da Chorona (2019)

Na Los Angeles da década de 1970, uma assistente social criando seus dois filhos sozinha após ser deixada viúva começa a ver semelhanças entre um caso que está investigando e a entidade sobrenatural La Llorona. A lenda conta que, em vida, La Llorona afogou seus filhos e depois se jogou no rio, se debulhando em lágrimas. Agora, ela chora eternamente, capturando outras crianças para substituir os filhos.

O filme foi dirigido por Michael Chaves (que faria Invocação do Mal 3 e A Freira II) e foi produzido por James Wan. Embora o filme se inspire na lenda de La Llorona, ele apresenta uma versão ficcional e modernizada da história. 

Ele exibe uma série de referências aos demais filmes que fazem parte do Invocaverso. Um exemplo é a cena em que a entidade sobrenatural, La Llorona, assombra os dois irmãos Carlos (Oliver Alexander) e Tomas (Aiden Lewandowski). Isso fica evidente quando um dos irmãos direciona o olhar para um canto da sala, onde fica uma porta. Esse fragmento tem referência direta à cena em que Bathsheba é vista pela personagem Christine (Joey King) pela primeira vez, em Invocação do Mal (2013). 

Ao longo de A Maldição da Chorona (2019), a personagem Sam (Sierra Heuermann) carrega sempre uma boneca. Ainda que não seja uma boneca do tipo Raggedy Ann - como a boneca Annabelle na vida real -, ela tem traços muito parecidos. O ator que interpretou o padre Perez no filme Annabelle (2014), Tony Amendola, assume esse mesmo papel no filme. Em dado momento, ele recorda o evento.


Apesar de ter sido amplamente aceito pelo público como um capítulo do "Invocaverso", a informação foi posteriormente confirmada como falsa pelo diretor Michael Chaves, que afirmou que o filme nunca foi pensado para ser parte de um todo. Era um filme independente.

A lenda

La Llorona, que significa "A Mulher Chorosa" no espanhol, é uma figura lendária do folclore latino-americano. A história de La Llorona varia entre diferentes países e regiões, mas a narrativa central permanece consistente.

Segundo a lenda, La Llorona foi uma mulher que viveu há muito tempo e era conhecida pela sua beleza. Ela se apaixonou por um homem e teve seus filhos. No entanto, o homem acabou deixando-a para ficar com outra mulher. Consumida pela raiva, ciúme e desespero, La Llorona afogou seus filhos em um rio como um ato de vingança. Percebendo a magnitude de suas ações, ela foi dominada pela dor e pelo remorso e tirou a própria vida.

Em algumas versões da lenda, La Llorona está condenada a vagar pela terra por toda a eternidade, em busca de seus filhos perdidos. Diz-se que ela pode ser ouvida chorando e lamentando, especialmente perto de margens de rios, enquanto continua a chorar por seus filhos. Ela é frequentemente retratada como uma figura fantasmagórica, vestida de branco e com cabelos longos e esvoaçantes.

Em algumas versões, ela é retratada como uma amante desprezada em busca de vingança contra seu parceiro infiel. Noutras, ela é levada à loucura pela pobreza ou pelas pressões sociais. Alguns contos a descrevem como uma pessoa que procurava ativamente outras crianças, confundindo-as com as suas.

La Llorona está profundamente enraizada no tecido cultural das sociedades latino-americanas. A lenda é transmitida de geração em geração como forma de ensinar lições de moral, incutir medo e preservar o patrimônio cultural. Embora não existam rituais específicos associados a La Llorona amplamente reconhecidos, a lenda influenciou vários costumes e tradições em diferentes regiões. 

Alguns exemplos: Dia dos Mortos, a celebração anual conhecida homenageia e lembra os entes queridos falecidos. La Llorona é por vezes incorporada nas festividades, especialmente em áreas onde a lenda está profundamente enraizada. As pessoas podem erguer altares ou oferecer orações e homenagens a La Llorona, ao lado de outros espíritos ancestrais.

Em certas regiões onde a lenda de La Llorona tem uma importância cultural significativa, existem festivais ou eventos específicos dedicados a ela. Esses eventos geralmente envolvem apresentações teatrais, reconstituições da lenda ou sessões de contação de histórias onde a história de La Llorona é compartilhada com a comunidade.

Ela tornou-se uma figura com grande importância na cultura popular, inspirando numerosos livros, filmes e outras formas de mídia. A história foi adaptada e recontada de várias maneiras, às vezes incorporando elementos de terror e sobrenaturais.

Voltando ao filme...

A Chorona apresentou narrativas e personagens estereotipadas, oferecendo pouco em termos de originalidade ou sustos inovadores. A estrutura narrativa é previsível apesar da mudança de cenário. Os personagens não tiveram profundidade, tornando difícil para o público investir emocionalmente em seus destinos. 

O roteiro criou uma dependência forte de jump scares como fonte do horror, porém às custas da construção de uma experiência genuinamente tensa e atmosférica. E os problemas notados refletiram em sua bilheteria. Ainda que o filme tenha custado somente 9 milhões e rendido 123, dando lucro, ele ficou em torno da metade dos filmes que menos lucraram na franquia: Annabelle 3 e Invocação do Mal 3.

Mas ao realizarmos uma simples soma, do que foi gasto em cada filme e quanto lucraram, confirmamos a força do Invocaverso com o público. A sua popularidade anida vai render muitos frutos. E pelo visto, todos com qualidade acima da média.

🔷 Invocação do mal 3 - A Ordem do Demônio (2021)

A saga Invocação do Mal poderia render uma dezena de ótimas continuações devido aos numerosos casos de pessoas que sofrem algum tipo de pertubação. Mas a troca da direção, colocando Michael Chaves, do fraco e oportunista "A Maldição da Chorona", pode ter minado planos futuros. Curioso que, mesmo após ele ter dirigido o pior filme do Invocaverso e o mais fraco Invocação do Mal, ele foi novamente colocado na direção de um filme da saga, agora a Freira II. Talvez ele seja muito amigo de James Wan, ou este simplesmente acreditava em seu talento.

Curiosamente, A Freira II é ótimo, então, a persistência de Wan não foi injustificável. Mas o fato é que Invocação do Mal 3 se aproxima da espetacularização, se distanciando do horror genuíno e climático dos anteriores.

Na trama do filme, agora em 1981, os demonologistas, Ed e Lorraine Warren, documentam o exorcismo de David Glatzel, de 8 anos, com a presença de sua família: sua irmã Debbie, seu namorado Arne Johnson, e o padre Gordon em Brookfield, Connecticut. Durante o exorcismo, numa atitude desesperada, Arne pede ao demônio que entre em seu corpo em vez de David. Ed testemunha o demônio se transportar do corpo de David para o de Arne enquanto ele sofre um ataque cardíaco e é levado para um hospital inconsciente.

No mês seguinte, Ed acorda no hospital e revela a Lorraine que testemunhou o demônio entrar no corpo de Arne. Ela manda a polícia até a casa dos Glatzel, avisando que ali ocorrerá uma tragédia. Arne e Debbie voltam para seu apartamento localizado acima de um canil onde Debbie trabalha. 

Após se sentir mal, Arne assassina seu senhorio, Bruno Sauls, esfaqueando-o 22 vezes devido à sua possessão demoníaca. Com o apoio dos Warren, seu caso se torna o primeiro julgamento de assassinato americano onde a possessão demoníaca é reivindicada como defesa, resultando no início de uma investigação sobre a possessão original de David. 

Conjurando...

Este é o segundo filme sobre o assassinato de Brookfield ocorrido em 1981. O primeiro foi O Exorcista do Demônio (1983). A família Glatzel teve outros dois filhos não retratados no filme. Alan, de 14 anos, e Carl Glatzel Jr, de 15. Carl Jr denunciou os Warren como fraudes e afirmou que seu irmão David, na verdade, sofria de doença mental.

No prólogo do filme, quando Ed e Lorraine realizam um exorcismo, há uma cena do padre Gordon aparecendo e saindo do táxi que homenageia a obra-prima do terror O Exorcista (1973).

Quando Ed e Lorraine estão procurando pistas sobre as origens/significado do totem da bruxa, o Padre Gordon os encaminha ao Padre Kastner, a quem ele afirma ter conhecimento do ocultismo devido aos anos que passou estudando os Discípulos do Carneiro, o mesmo culto responsável pelos eventos de Annabelle (2014).

Quando o Padre Kastner (John Noble) diz que prefere manter seus objetos satânicos trancados em seu porão, "como manter as armas fora das ruas", Ed e Lorraine trocam um olhar significativo. Em Invocação do Mal (2013), Ed disse exatamente a mesma coisa para um repórter enquanto fazia um tour por seu porão cheio de artefatos amaldiçoados.

No final do filme, quando Ed é possuído pelo demônio e é visto cambaleando em direção a Lorraine segurando uma marreta, é uma homenagem ao clássico filme de terror O Iluminado (1980), quando Jack Torrance segura seu machado e é visto cambaleando e perseguindo sua esposa.

Julgamento de Arne Cheyenne Johnson

O julgamento, também conhecido como caso "Devil Made Me Do It" ou O Diabo me forçou a fazer, foi um processo legal altamente divulgado nos Estados Unidos em 1981. Marcou a primeira vez na história dos EUA, que a defesa da possessão demoníaca foi usada em um caso de julgamento de assassinato.

O caso girou em torno do assassinato de Alan Bono, um proprietário de Brookfield, Connecticut. Arne Cheyenne Johnson foi acusado de esfaquear Bono várias vezes, resultando em sua morte. A equipe de defesa de Johnson argumentou que ele estava possuído por um demônio no momento do assassinato, o que o tornava não responsável por suas ações.

A alegação da defesa de possessão demoníaca foi baseada em um incidente anterior envolvendo o irmão mais novo da namorada de Johnson, David Glatzel. Foi alegado que David estava possuído por um demônio e Johnson tentou intervir e salvá-lo. Como resultado, o demônio foi supostamente transferido de David para Johnson.

Durante o julgamento, a equipe de defesa convocou várias testemunhas, incluindo especialistas em demonologia e fenômenos paranormais, para depor sobre a alegada posse. No entanto, o juiz decidiu que a defesa não poderia apresentar provas de possessão demoníaca, uma vez que não foi reconhecida pela lei como uma defesa válida.

Como resultado, a estratégia de defesa de Johnson mudou para uma alegação de legítima defesa. Eles argumentaram que Johnson agiu para proteger a si e a sua namorada de Bono, que alegavam ser uma pessoa violenta e agressiva.

No final das contas, o júri considerou Arne Cheyenne Johnson culpado de homicídio culposo em primeiro grau e ele foi condenado a 10 a 20 anos de prisão. No entanto, ele cumpriu apenas cinco anos de sua sentença antes de ser liberto em liberdade condicional.

O julgamento de Arne Cheyenne Johnson ganhou atenção significativa da mídia e inspirou o romance de 1983: "O Diabo em Connecticut", de Gerald Brittle. 

Identificação do mal.

Visualmente falando, James Wan consegue em seus filmes algo raro: personificar o mal por meio de figuras ímpares como Annabelle, Homem Torto, A Freira, Jigsaw, entre outros. E justamente isto não ocorre neste terceiro episódio. Você, simplesmente, não sabe que figura deve odiar ou ter medo. Elas vêm e vão sem terem real importância.

Mas voltando...

Os fãs ficaram apreensivos com o fato de James Wan não retornar para dirigir o filme. Wan, ao descrever sua passagem do "bastão" para Michael Chaves, comentou que percebeu muita energia em Chaves na compreensão do tipo de horror que queria criar no terceiro capítulo da série. 

James Wan comentou que ele queria sair do clichê da casa mal-assombrada, que era o subgênero dos dois filmes anteriores. O trailer inicial levou os fãs a acreditar que o filme apresentaria um drama pesado de tribunal, como o clássico de terror O Exorcismo de Emily Rose(2005). No entanto, o filme apresenta processos judiciais em apenas duas breves cenas. Embora seja, em última análise, um ponto crucial da trama, o filme não coloca um grande foco no processo judicial em si.

O filme erra ao focar em ser um filme de monstro. Erra em mostrar Lorraine com uma vidência parecendo herói da Marvel. Erra ao não focar de forma apropriada no julgamento, tornando-o desinteressante e erra em colocar cenas de ação, usando enquadramentos de filmes de aventura. 

Não sei ser era óbvio demais, mas persistir em Chaves era claramente um erro. Mas mesmo com o resultado insatisfatório, Chaves poderia dizer algo que remete ao próprio filme: "Wan made me do it."

🔷 A Freira II (2023)


Acho no mínino curioso que o segundo spin-off de uma saga, consiga produzir uma sequência tão boa e tão bem vista pelo público. Mais curioso ainda, que tenha sido dirigido por Michael Chaves, de Invocação do Mal 3 e A Maldição da Chorona, os dois filmes menos populares da saga.  

Na trama, que se passa 4 anos depois, o Padre Noiret e o garoto Jacques realizam suas tarefas diárias em sua igreja em Tarascon, França. Repentinamente, o padre é morto violentamente por uma figura conhecida: a Freira.


Após os acontecimentos no mosteiro de Santa Carta, a Irmã Irene serve agora num convento na Itália. Já Maurice trabalha em um internato na França, onde fez amizade com uma jovem estudante irlandesa chamada Sophie e sua professora e mãe, Kate. E o Padre Burke morreu de cólera.

Numa noite, Irene tem uma visão de Maurice pedindo a ela para salvá-lo. E simultaneamente, ela é enviada pelo Cardeal, devido à sua experiência anterior com o demônio,  para investigar uma série de mortes em toda a Europa. Ela viaja para Tarascon com Irmã Debra, uma jovem noviça que expressa sua dificuldade em aceitar milagres, como  a presença real de Cristo na Eucaristia.  Lá, ela tenta desvendar o motivo de tudo estar acontecendo novamente, mas em escala muito maior.


Menor investimento na forma e maior no conteúdo.

O filme audaciosamente (ou inconsequentemente), lança mão do ar gótico atmosférico do primeiro filme para focar no horror e na história. E surpreendentemente, acerta o alvo como podemos ver na memorável cena da banca de revistas.

O diretor Michael Chaves ficou muito animado com a sequência porque sabia que os fãs iriam adorar. Quando chegou a hora de filmá-la, ele percebeu o quão difícil era realmente fazê-la, já que cada revista tinha que ser perfeita, especialmente quando chegava a hora das páginas se parecerem com Valak. Ele admitiu que, se soubesse o quão difícil teria sido criar essa sequência, provavelmente teria tido receio de fazê-la.


Esteticamente magistral. Toda sequência é um triunfo. Da fotografia aos enquadramentos.  Aliás, o filme bebe na fonte de vários filmes de horror, mas sem fazer deles uma colagem. Apenas captura a essência de diversos momentos. É tecnicamente impecável. Ele faz do som, um trunfo. E não para provocar sustos, pois o silêncio pode ser ainda mais eficaz.

Além disso, os personagens recebem mais desenvolvimento do que no primeiro. O filme de 2018 nunca se aprofunda sobre quem são essas pessoas. Desde o início, aprendemos mais sobre a história de Irene com sua mãe, sobre a qual saberemos mais tarde. Há um maior sentimento de empatia por ela. 


Mas outra melhoria surpreendente é o personagem Maurice. A primeira vez que somos apresentados a ele no primeiro filme, ele é um playboy promíscuo que flerta com Irene logo após conhecê-la. No entanto, a cena de abertura deste filme, percebemos que camadas foram acrescentadas ao personagem, diferenciando-o substancialmente do primeiro.

No final de A Freira (2018), o triste destino de Maurice (Jonas Bloquet) foi revelado por Ed Warren ( Patrick Wilson), referindo-se a uma cena anterior de Invocação do Mal (2013): Maurice havia sido molestado e repetidamente torturado por seu pai, e depois que Valak fez dele seu lar, ele continuou possuindo-o e atormentando-o até o final dos anos 1960 ou início dos anos 1970 (incluindo sangue rasgado e uma cruz de cabeça para baixo aparecendo em seu corpo). 


Segundo Ed, Maurice teve uma vida muito conturbada, com pouco motivo para viver, e nem mesmo um exorcista conseguiu trazê-lo de volta; ele finalmente atirou em sua esposa (apenas ferindo-a) e depois cometeu suicídio. Quando Irmã Irene (Taissa Farmiga) se despede de Maurice no final do filme, saindo junto com Kate (que pode ser sua futura esposa) e Sophie, seu olhar preocupado pode sugerir o fato de que ela teme que Valak não termine com eles, apesar de seu repetido esforço para detê-lo.

Há uma cena no meio dos créditos de Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga) recebendo um telefonema do Padre Gordon com um pedido. Esta é presumivelmente a ligação pedindo-lhes pela ajuda com Maurice. 


A Freira II não é uma continuação. É uma evolução.

O filme, que custou em torno de 38 milhões de dólares, rendeu 240 milhões.


Tecnologia do Blogger.