O HORROR DE DRÁCULA - SAGA REVIEW
Texto: M.V.Pacheco
Revisão: Thais A.F. Melo
Certa vez, cheguei em casa mais tarde e como de costume, fui ver o que estava passando na TV. Não tenho certeza se era no Corujão ou na Sessão de Gala, antigas sessões de filmes, mas tenho certeza do filme que me deparei: O Horror de Drácula (hoje chamado de O Vampiro da Noite).
Mas quatro elementos eu jamais esqueci: as cores vibrantes, os cenários belíssimos, a trilha sonora e a imponente versão do Drácula que Chrstopher Lee deu vida. E hoje, pela primeira vez, vou assistir a todos os filmes da saga em sequência.
Independente dos muitos deslizes que os filmes cometem, é um belo e recomendável programa. E vamos a ele:
O Vampiro da Noite (1958)
No século XIX na Alemanha, Jonathan Harker (John Van Eyssen) vai até o castelo do Conde Drácula (Christopher Lee), mesmo sendo advertido por sua esposa Lucy (Carol Marsh) a não ir. Ao chegar lá, ele é atacado por uma vampira, e espera o momento em que ela e Drácula estejam dormindo em seu caixão para atacá-los.
Ele enfia um punhal no peito da mulher e está prestes a fazer o mesmo com Drácula quando este acorda e o surpreende. Quando o Dr. Van Helsing (Peter Cushing), um estudioso de vampiros, chega até a cidade procurando por Harker, ele descobre que seu amigo virou um deles. Após enfiar uma estaca em Harker, ele sai em busca de Lucy e da família da moça, que correm perigo. Drácula está se aproximando, mas Van Helsing está determinado a acabar com o Conde, custe o que custar.
"… cores vibrantes, os cenários belíssimos…"
A Hammer Productions Ltd. foi fundada em 1934 por William Hinds (1887- 1957), um dono de joalheria que algumas vezes se apresentava como comediante no music hall sob o nome artístico de Will Hammer, formando a dupla “Hammer and Smith”, assim chamada porque ele e seu companheiro de palco moravam em Hammersmith. O nome da empresa veio assim, do seu nome artístico.
O primeiro filme de horror/ficção, significativo da Hammer veio com "Terror que Mata", de 1955, dirigido por Val Guest. Durante este período, dois jovens cineastas americanos, Max J. Rosenberg e Milton Subotsky (que mais tarde fundaram a maior rival da Hammer, Amicus) apresentaram um roteiro para uma adaptação de Frankenstein.
Embora o romance da Mary Shelley tenha se tornado de domínio público, Anthony Hinds não tinha certeza sobre o roteiro. O roteiro continha horror e violência gráfica, e seria retratado em cores vivas. A Maldição de Frankenstein tomava forma.
Nomes como Terence Fisher, Peter Cushing e Christopher Lee se tornavam referência no estúdio a partir dai. O filme foi um sucesso. A Hammer não perdeu tempo e iniciou suas séries de filmes de horror, principalmente os clássicos, como Drácula, Múmia, Dr. Jekyll, O Fantasma da Ópera e Lobisomem.
"O Vampiro da Noite" foi um enorme sucesso, quebrou recordes de bilheteria em todo o mundo. O título nos Estados Unidos foi mudado para o "Horror of Dracula" para evitar confusão com a versão clássica de 1931 (Dracula). Essa era uma preocupação real porque a versão de Bela Lugosi ainda estava passando nos cinemas, o que durou até o pacote de filmes clássicos de terror da Universal ser lançado na televisão.
Apesar do sucesso, Lee reclamou da produção em algumas ocasiões. As lentes de contato que ele usava em algumas cenas causavam dor, além de não conseguir ver nada. O ator tem apenas 13 falas no filme. Durante a produção, Lee caiu numa cova bem encima da dublê de uma atriz que estava sendo enterrada na cena.
Segundo o ator, ele tentou interpretar o personagem Drácula de acordo com sua teoria da "solidão do mal". Ele desenvolveu essa teoria após ler o romance original. Na opinião de Lee, Drácula se sente solitário e não quer realmente sobreviver. Drácula continua existindo porque sente que não tem escolha.
As carruagens puxadas por cavalos neste filme eram autênticas carruagens históricas, dirigidas por George Mossman. Ele fundou seu próprio museu desses veículos em Luton em 1954, e com sessenta e três carruagens originais dos séculos XVIII, XIX e XX, é atualmente a maior coleção desses veículos em exibição no Reino Unido.
O agora icônico uso de dois castiçais cruzados para formar um crucifixo improvisado foi sugerido pelo ator Peter Cushing, que achava que seu personagem já havia usado muitos crucifixos regulares na história. Ele também sugeriu que seu personagem corresse pela longa mesa da sala de jantar para pular sobre as cortinas fechadas, derrubando-as e expondo Drácula à luz do sol, para aumentar a ação.
O compositor James Bernard disse certa vez em uma entrevista que compôs o tema principal de três notas dividindo a palavra "Drácula" em três sílabas. Essa abordagem era bastante óbvia e influenciaria muitas trilhas sonoras de baixo orçamento nos anos seguintes, sendo um dos elementos clássicos do cinema kitsch.
Um grande exemplo é o tema de Sexta-Feira 13. O som que ouvimos (ki ki ki, ma ma ma) é baseado nas palavras “kill, kill, kill, mom, mom, mom".
O roteirista Jimmy Sangster admitiu em várias entrevistas que a versão muito concisa da história do Drácula neste filme foi inspirada por restrições orçamentárias. Algumas das mudanças notáveis no romance foram, por exemplo: o filme se passa inteiramente no que parece ser uma versão ficcional da Alemanha em 1885. No romance, a história se desenrola na Transilvânia (hoje Romênia) e na Grã-Bretanha.
Não há cenas de viagem elaboradas neste filme, como o barco que Drácula usa para chegar à Inglaterra (chamado de "Deméter" no romance), mostrado na maioria das adaptações cinematográficas. A única viagem é feita em carruagem puxada por cavalos. Muitos personagens do romance recebem papéis diferentes ou têm suas participações na história "condensadas" em outros personagens.
O único do elenco principal do romance a ser totalmente descartado é Quincey Morris, um amigo americano de Arthur Holmwood. Drácula só tem uma noiva neste filme, em vez das três do romance. O Conde também não tem a capacidade de se transformar em morcegos, lobos ou redemoinhos de neblina. Ele ganharia algumas dessas habilidades em filmes posteriores da Hammer.
Mas para a tristeza de Sangster (e nossa, já que perdemos a chance de ver muito mais história filmada), o filme foi um colossal sucesso. O que nos leva a...
Noivas do Vampiro (1960)
Marianne Danielle é uma jovem que chega à Transilvânia para ser professora em uma escola feminina. No caminho, ela para em um vilarejo, onde é convidada pela Baronesa Meinster para passar a noite em seu castelo, para horror dos camponeses, que acreditam que a região ainda é assombrada por vampiros.
Ao chegar no castelo da Baronesa, Marianne conhece seu filho, que sofre de uma estranha doença. O rapaz a convence a libertá-lo, e ao fazer isso, a garota não sabe que, na verdade, o Barão é um vampiro. Agora, somente o Dr. Van Helsing pode impedi-lo de transformar a todos em vampiros.
E é claro que o jovem barão Meinster (Peel) é um vampiro. Apesar do título original aparecer o nome “Drácula”, isso nunca é mencionado no filme. Na época, eu assisti como Noivas de Drácula, mas o título nacional seguinte, foi mais fiel ao que vemos em cena.
Entre 1957 e 1974, a Hammer Films produziu a saga do Conde Drácula, criado pelo escritor Bram Stoker. Ao todo, foram nove filmes, sete deles estrelados pelo grande Christopher Lee, no papel que o consagrou como astro do horror. E somente dois não foram estrelados por Lee, e Noivas do Vampiro é o primeiro deles.
No roteiro inicial, o Conde Drácula deveria ter retornado dos mortos no início do filme. Ele então seria o centro das atenções durante o restante. No entanto, Christopher Lee recusou-se a repetir o papel por medo de se tornar estereotipado.
Os cenários estão entre os melhores das produções de horror gótico da Hammer. O Castelo Meinster é particularmente impressionante. Bernard Robinson foi responsável pelo design de produção e é um dos seus melhores trabalhos. A maravilhosa fotografia em cores Technicolor de Jack Asher é outro grande trunfo.
O final deveria originalmente ter os vampiros destruídos por um enxame de morcegos. Esse final foi muito caro para encenar e filmar. O conceito desse foi reciclado três anos depois para o clímax de "O Beijo do Vampiro (1963)" da própria Hammer.
"Noivas" tem diversas incoerências, incluindo o título, como dito acima. O roteiro foi escrito por tantas pessoas, que o carteiro, num dia de trabalho regular, deu seus pitacos. O diretor Terence Fisher ignora sabiamente esses problemas e se concentra na atmosfera e no visual e consciente de que o filme tem força suficiente para compensar suas fraquezas.
O diretor Tim Burton sempre se declarou como fã dos filmes da Hammer, e prestou uma homenagem à cena final deste filme em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999);
Meinster não sustentou o personagem e de alguma forma, Drácula volta em...
Eu não falei nessa imagem. O motivo era muito simples. Li o roteiro e vi o diálogo! Eu disse a Hammer, se você acha que vou dizer alguma dessas frases, você está muito enganado.
Também exploraram a profundidade psicológica em seus personagens. Os protagonistas muitas vezes enfrentaram conflitos internos e dilemas morais enquanto enfrentavam as forças do mal. Até mesmo Drácula demonstra que tem suas questões...
O Sangue de Drácula (1970)
No exato momento da morte de Dracula (filme anterior), um homem chamado “Weller” (Roy Kinnear) passa pelo local e recolhe seu sangue, capa e anel. Três cavalheiros estão procurando por algo excitante em suas tediosas vidas. Eles entram em contato com "Lord Courtney" (Ralph Bates), que está envolvido com magia negra e satanismo e os convence a comprar os itens. A intenção é de ressuscitá-lo em um ritual.
Infelizmente, algo dá terrivelmente errado durante o tal ritual e os três homens matam Lord Courtney por medo e depois fogem. Sem eles saberem, o trabalho das forças do mal ainda não havia sido concluído e logo a alma do vampiro habita o corpo de Lord Courtney que posteriormente se reconstitui na antiga imagem de Drácula - e ele jura vingança contra aqueles que mataram seu leal servo.
À medida que a história se desenrola, os homens lutam contra a culpa e as terríveis consequências das suas ações. E Drácula começa a atacá-los e seus entes queridos, levando a um confronto entre o vampiro e o grupo de homens que inadvertidamente o libertaram.
O filme originalmente não iria apresentar Drácula, assim como As Noivas do Vampiro (1960), devido a Christopher Lee ficar cada vez mais relutante em reprisar o papel e os produtores não esperarem poder convencê-lo a fazê-lo. As crescentes demandas salariais de Lee também foram um fator. Ralph Bates iria desempenhar o papel principal. O roteiro foi reescrito para incluir Drácula depois que os produtores finalmente conseguiram persuadir Lee a voltar ao papel, depois que a "Warner-Seven Arts" se recusou a apoiar este filme sem a participação do mesmo.
Este é um dos quatro filmes lançados em 1970 em que Christopher Lee interpretou o Conde Drácula. Os outros são Conde Drácula (1970), Uma Dupla em Sinuca (1970) e O Conde Drácula (1970). E você leu certo. Em 1970 há Conde Drácula e O Conde Drácula. O artigo é a diferença.
O ator Michael Ripper aparece em Drácula - o Perfil do Diabo, O Sangue de Drácula e O Conde Drácula como personagens diferentes. Aqui, ele faz "Cobb". no filme seguinte, Landford e no anterior, Max.
O filme foi dirigido por Peter Sasdy e escrito por Anthony Hinds, que contribuiu frequentemente para a Hammer Films. Ele foi produzido por Aida Young, e James Bernard compôs a trilha musical.
Talvez a grande controvérsia do filme fique por conta da nudez e cenas de conotação sexual mostradas durante as cenas do cabaré. Inclusive um personagem gay de destaque na sequência.
E na minha opinião, acho que eles tinham que desistir de matar o Drácula... E só deixar ele sofrendo em seu castelo. Ao invés disso, inventaram as maneiras mais estapafúrdias para trazê-lo de volta, como no filme anterior, em que o cara rola um morrinho e cai justamente onde Drácula está congelado, ignorando que ele desintegrou.
De maneira geral, os filmes do personagem na Hammer são ótimos. Mas as formas que os roteiristas encontram para trazê-lo de volta me fez pensar que reclamei da mesma situação nos Sexta-Feira 13, e como isso foi injusto.
Aqui, um morcego foi passear pelo castelo de Drácula e resolveu doar umas gotas de sangue que aparentemente são suficientes para ele retornar do pó.
Tirando este infortúnio, o filme é dos melhores, principalmente em seu visual. Na trama, os restos mortais do Conde Drácula jazem numa câmara do seu castelo. Ela só pode ser acessada através da janela, situada no alto da muralha do castelo. E como dito, um grande morcego voa e paira sobre o pó de Drácula, regurgitando sangue nos restos mortais do conde. Drácula ressuscita mais uma vez e começa a tocar o terror.
O apelo a sangue é visível em algumas cenas, quase já prenunciando os filmes de horror das décadas seguintes, como o clássico O Massacre da Serra Elétrica, etc. A representação estética do horror clássico incorpora elementos impressionistas, quase decadentistas. Mas não é apenas o “decor” atingido pelo novo espírito do tempo. A própria caracterização de Drácula possui uma gradação sutil, quase imperceptível de cores.
O vampiro é apenas um inimigo pavoroso que mora ao lado, alguém com a qual a comunidade local convive, mas à distância. É um estranho tolerável que apenas se procura evitar. A passividade da população local atinge até mesmo a figura do padre, que evita enfrentar o vampiro, apelando apenas para orações não muito eficientes. É uma figura passiva e resignada, mas ainda horrorizada, com a representação do Mal (é bastante evidente o contraste com a figura ativa do padre Sandor, de “Drácula, O Príncipe das Trevas”).
John Forbes-Robertson foi considerado para o papel de Drácula antes de Christopher Lee ser persuadido a retornar. Forbes-Robertson mais tarde interpretou Drácula em A Lenda dos Sete Vampiros (1974), o único filme da Hammer a apresentar um ator diferente de Lee no papel.
Durante uma entrevista, Christopher Lee expressou sua conhecida frustração com este filme: "Eu era um vilão de pantomima. Tudo era exagerado, especialmente o morcego gigante cujas asas motorizadas batiam com lenta energia, que parecia fazer exercícios matinais."
A ressurreição de Drácula no início do filme é a mesma filmagem da sua morte em O Sangue de Drácula (1970), porém simplesmente reproduzida ao contrário, mostrando que a preguiça de criar um retorno melhor para o personagem era, simplesmente, inacreditável. E não era uma questão orçamentária, já que isso ocorre desde o primeiro filme,
E caso você esteja achando que estou sendo exigente com o filme, repare que no final do filme anterior, o Conde encontrou seu fim em uma igreja abandonada perto de Londres. Já este abre com uma cena de ressurreição, ambientado no castelo do Drácula na Transilvânia, sem nenhuma explicação de como suas cinzas foram parar lá.
Além disso, em O Conde Drácula, o Conde tem um servo chamado Klove, interpretado por Patrick Troughton; no terceiro filme da série, Drácula: Príncipe das Trevas, Drácula tem um servo chamado Klove (interpretado por Philip Latham) que parece ser um personagem diferente, embora com nome idêntico.
O Vampiro da Noite foi um filme B de vanguarda, trazendo a beleza do horror e do gótico ao estúdio que lhe daria cores vibrantes. Mas isso foi em 1958. Após duas décadas, Drácula entrou nos anos 70, ladeado de obras como O Poderoso Chefão, Tubarão, O Exorcista, Embalos de Sábado à Noite, Táxi Driver, ou seja, a Nova Hollywood.
Era evidente que Drácula e a Hammer precisariam se adaptar. Mas nem sempre é possível acertar. O que nos leva a Drácula no Mundo da Minissaia. Na história, que se passa em Londres, 1872, uma luta sem tréguas acontece entre Lawrence Van Helsing e seu arqui-inimigo, o Conde Drácula (Christopher Lee). Van Helsing consegue destruir seu inimigo, que vira pó, mas em razão dos ferimentos sofridos, acaba morrendo.
Alguém pega o anel de Drácula e recolhe um pouco de suas cinzas em uma ampola. Exatamente 100 anos depois, alguns jovens, comandados por Johnny Alucard (Christopher Neame), fazem uma missa negra, sendo que uma das participantes era Jessica Van Helsing (Stephanie Beacham), descendente do caçador de vampiros.
Como ela, quase todos estavam ali de brincadeira, mas quando a cerimônia toma um rumo inesperado, a maioria foge e não vê que Johnny ressuscitou Drácula, que imediatamente suga todo o sangue de Laura Bellows (Caroline Munro), a única do grupo além de Johnny que não partira. Johnny, com prazer, vê o mestre se saciar com sangue de Laura.
Drácula agora quer se vingar dos descendentes de Van Helsing, sendo que o único que pode enfrentá-lo é o professor Van Helsing (Peter Cushing novamente), o avô de Laura, que é um estudioso do assunto.
O próprio salto no tempo é um sinal da necessidade de mudança. O filme incorpora o clima setentista, que é absurdamente diferente do gótico visto até então. Ele foi inspirado na história do Vampiro de Highgate, uma sensação da mídia em torno de relatos de supostas atividades sobrenaturais no Cemitério de Highgate, em Londres, no início dos anos 1970. Um vampiro foi supostamente ressuscitado num ritual de magia negra. A polícia londrina inclusive prendeu caçadores de vampiros armados de alho e estacas de madeira no interior do cemitério.
Neste filme, Lorrimer Van Helsing considera que os vampiros são semelhantes ao pássaro Fênix. À medida que morrem e depois voltam à vida. A Fênix é um pássaro imortal lendário. Ele morre nas chamas e renasce das próprias cinzas. O próprio Drácula é retratado renascendo de suas próprias cinzas neste filme. E esta é uma forma conveniente de explicar porque Drácula é derrotado, mas sempre volta para mais um filme.
No final, Drácula no Mundo da Minissaia tem muito mais o clima londrino de Um Lobisomem Americano em Londres que o estilo "filme confronto", como eram os anteriores. E o tempo fez bem a ele, principalmente para quem ver de forma isolada, sem esperar coerência com o anterior.
Tudo, menos Drácula.
O início de Os Ritos satânicos de Drácula parece tudo, menos Drácula. Se no filme anterior, um ar investigativo estilo Scotland Yard pairava no ar, aqui vemos a própria em ação. Na trama, o especialista em vampiros Van Helsing é chamado pelo serviço secreto britânico para auxiliar em uma investigação sobre o desaparecimento de várias jovens. O principal suspeito é o próprio Conde Drácula, que circula disfarçado pela cidade.
Aliás, quem foi o gênio que teve a ideia bizarra começar o filme com uma sombra de Drácula mal feita nos cenários londrinos? É até compreensível a intenção, mas foi péssima a execução.
Apesar de Drácula ter sido morto no final do último filme, aqui ele já foi ressuscitado. Ao contrário dos filmes anteriores da série, isso não é mostrado na tela, nem são fornecidos detalhes sobre como ocorreu. Na realidade, quando o filme começa alternar cenas do ritual com a investigação, ele fica sem rumo, com personagens dizendo suas falas sem que elas causem qualquer efeito em nós.
O roteiro, uma mistura de terror, ficção científica e thriller de espionagem, foi escrito por Don Houghton, que havia trabalhado em Doctor Who. O título inicial do filme seria "Drácula está morto... e bem e vivendo em Londres".
Mas isso causou revolta em Lee, que fez um protesto publicamente, dizendo que aquilo era uma tolice. "- Era estúpido, inútil, absurdo. Não é uma comédia, mas tem um título cômico. Eu não vejo sentido." Completou. O filme acabou sendo renomeado, mas ainda era comercializado em francês como Drácula vit toujours à Londres ('Drácula ainda vive em Londres').
Entre intrerpretações horrendas, sequencias incompreensíveis, trilha anti-climática, atiradores que parecem saído de um filme policial de Jean Pierre Melville e um Drácula que reside em um prédio e se comporta como um vilão de James Bond, Os Ritos satânicos de Drácula é um verdadeiro teste de paciência. E se o próprio Christopher Lee cansou, quem dirá nós, telespectadores que contemplam esta bomba atômica explodir na nossa frente.
E só para constar, 007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro foi lançado no ano seguinte, e Lee é o vilão.
E finalmente, chegamos ao final da jornada.
E da forma mais excêntrica possível: logo de início, nos deparamos com um cenário comum nos filmes de Bruce Lee e Jet Li. Inclusive, closes e enquadramentos usados comumente naquele cinema. Eu só não entendi o motivo pelo qual Drácula (Lee desistiu de retornar das cinzas) levanta-se do túmulo de batom. Quanto ao Drácula aparecer sem maiores explicações, eu desisti de entender.
Na trama, um chinês, monge de um templo budista, viaja à Transilvânia com uma proposta ao Conde Drácula. Ajudá-lo a trazer de volta à vida sete vampiros de ouro que existiriam na China, e assim recuperar a influência e o domínio sobre os moradores de seu povoado. Mas o Conde recusa e se apodera do corpo do chinês e foge do castelo, disposto a fazer dos sete vampiros seu instrumento de vingança contra a humanidade.
Embora tenha sido oferecido a Christopher Lee o papel de Drácula neste filme, ele recusou após ler o roteiro. Lee tentou dissuadir Peter Cushing de fazer o filme, por considerá-lo abaixo do seu nível de atuação…
Lee disse a Cushing que Ralph Bates estava disposto a fazer o papel de Cushing como professor Lawrence Van Helsing se Cushing não quisesse, mas Cushing respondeu que achava que a mudança de cenário poderia ajudar em sua depressão após lutar com a morte de sua esposa dois anos antes.
Em entrevista no final da década de 1990, o diretor Roy Ward Baker descreveu pessoalmente a realização deste filme como "um pesadelo". Ele disse que foi somente quando ele e seus colegas da equipe de filmagem da Hammer chegaram a Hong Kong que ele descobriu que quase ninguém da equipe do estúdio Golden Harvest falava inglês.
Ele também disse que não sabia que os filmes feitos em Hong Kong eram filmados em silêncio e depois colocados em loop na pós-produção devido ao barulho constante do tráfego e das aeronaves e quando ele começou a filmar, eles descobriram da maneira mais difícil que o som do local era praticamente inutilizável pela mesma razão.
Este é o único filme da série "Drácula" que não tem o nome de Drácula no título. Mas há o personagem. Em contrapartida, o filme "Noivas de Drácula", não tem Drácula. Este pequeno exemplo mostra como a série não soube administrar o sucesso do primeiro filme, e ficou perdida no processo, hora acertando na "viagem", hora errando "o destino" e algumas poucas vezes, errando tudo.